Em uma pequena região da Normandia, um grupo de agricultores e pecuaristas passam por dificuldades devido a constante queda no preço da carne e do leite. O prefeito da cidade, Balbu (François Cluzet), com o objetivo de reerguer o comércio local, aceita a proposta inusitada de um fotógrafo norte-americano que passava pela França: retratar os moradores nus em um campo. É essa a premissa peculiar da comédia francesa Normandia Nua (Normandie Nue, 2018).
O foco do longa é a rotina dos cidadãos e seus dilemas cotidianos. Não é uma clássica comédia com objetivo de arrancar grandes gargalhadas do público. O elemento de humor está presente, de forma sutil, nas atitudes dos personagens e na própria ideia central do filme. Balbu, após um surto, pensa em se enforcar, mas logo desiste. Seus amigos chegam no momento em que ele estava, literalmente, com a corda no pescoço e, a partir daí, o que parecia trágico torna-se cômico.
O longa não tem um personagem principal, mas sim vários núcleos que são pincelados durante a narrativa. A família vinda de Paris; o prefeito; o dono açougue; o fotógrafo e seu ajudante; o dono do estúdio, entre outros. Essa estrutura tem um aspecto novelesco que prende a atenção do espectador.
Apesar disso, o conflito central gira em torno do dilema enfrentado pelos moradores para posarem nus. Fatores como religião, ética, aceitação do parceiro e autoconfiança travam os personagens. Por outro lado, a necessidade de salvar o vilarejo segue como principal motivação, trazendo alguns desdobramentos que culminam em um final condizente com tudo que fora apresentado.
Questões importantes são trazidas à tona no decorrer do enredo. O conflito entre os trabalhadores rurais e os efeitos negativos causados pela pecuária, por exemplo, são apontados em determinados momentos. Com isso, abrem-se discussões a respeito de quem está certo ou errado. É preciso prezar pela saúde do consumidor e pelo meio ambiente, no entanto, há um pequeno produtor procurando apenas dar conforto à sua família.
A direção de fotografia é um ponto valorizado pelo filme. As belas paisagens francesas são destacadas a todo instante, tanto que é exatamente um campo da região que faz o fotógrafo novaiorquino ficar fissurado em fazer suas fotos de pessoas nuas lá. Nota-se, em diversas passagens, a preocupação com a paleta de cores. Tudo é harmônico e agradável aos olhos, tornando Normandia Nua uma obra ideal para quem procura assistir algo leve e de premissa simples, mas que chama a atenção por sua peculiaridade.
O filme tem data de estreia prevista para o dia 31 de janeiro. Confira o trailer:
por Carolina Fioratti e Marcelo Canquerino
carolinafioratti@usp.br
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