por Ian Alves
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O longa O Caseiro (2016) difere da maior parte das produções nacionais por pertencer ao gênero suspense. A direção é do jovem Julio Santi: infelizmente, a inexperiência do diretor, quando somada à falta de referências nacionais para esse gênero, é refletida em marcas negativas no longa. Apesar do roteiro intrigante de Julio Santi e João Segall, O Caseiro, no final das contas, mais parece um simulacro mal sucedido de um filme estadunidense.
As falhas na direção do filme são tão recorrentes que chegam a incomodar quem o assiste: falta desespero nas atuações, e a calma e o silêncio das performances, que poderiam ter contribuído para o mistério se houvessem sido bem executadas, terminam deteriorando o clima de suspense e criando uma atmosfera maçante e tediosa; as cenas são mal finalizadas e, em consequência, desconexas, o que reforça a falta de dinamicidade do filme; e a trilha sonora, que cumpre seu papel nas horas de susto, extrapola no caráter misterioso quando tenta criar um clima tenso em cenas que simplesmente não são de suspense.
Apesar de todos esses pequenos erros, há vários aspectos a serem elogiados em O Caseiro, a começar por sua própria existência. É revigorante, em meio às recentes comédias nacionais que mais parecem variações de um mesmo filme, assistir a uma produção brasileira fora do padrão. A produtora Rita Buzzar fez um trabalho excelente dentro de um orçamento relativamente apertado – aproximadamente 3,2 milhões de reais, segundo a própria Rita -, construindo iluminações fantásticas e efeitos especiais aceitáveis (o que já destoa de outras produções do Brasil). Além disso, o roteiro traz um final surpreendente e, em alguns momentos do filme, provoca uma sutil dúvida no espectador ao misturar os suspenses psicológico e sobrenatural.
Julio Santi teve muita coragem em acreditar numa produção nacional de suspense, mas não conseguiu construir um longa-metragem único e diferenciado. É impossível negar a influência que o cinema dos Estados Unidos tem nas indústrias de outros países, mas O Caseiro transborda aspectos cinematográficos que remetem aos norte-americanos. Do filme, resta, sobretudo, a vontade de assistir a mais suspenses nacionais – dessa vez, com um pouco mais de autenticidade.
O filme estreia na quinta-feira, dia 23 de junho. Confira o trailer: