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O Dia do Atentado: a América para os cinemas americanos

Nos últimos anos, em meio aos remakes e sequências, o cinema americano tem passado por uma crise criativa apaziguada por temáticas mais ousadas, resgatando pautas sociais ou fatos históricos menos esmiuçados. Mas O Dia do Atentado (Patriots Day, 2017), mesmo com uma temática contemporânea e fresca em obras de ficção, falha em inovar. Ao recontar …

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Nos últimos anos, em meio aos remakes e sequências, o cinema americano tem passado por uma crise criativa apaziguada por temáticas mais ousadas, resgatando pautas sociais ou fatos históricos menos esmiuçados. Mas O Dia do Atentado (Patriots Day, 2017), mesmo com uma temática contemporânea e fresca em obras de ficção, falha em inovar. Ao recontar as trajetórias de pessoas envolvidas no atentado à maratona de Boston, em 2013, o filme se utiliza de fórmula comum aos outros projetos do diretor Peter Berg: uma dose de nacionalismo, diálogos fracos e Mark Wahlberg – que só em 2016 já estrelou outro filme do diretor, Horizonte Profundo (Deepwater Horizon, 2016). O dia, aliás, também data do ano passado. A estreia foi postergada em diversos países após o fracasso de sua performance diante das expectativas da produtora Lionsgate, que o via como cotado ao Oscar.

Reprodução: Paris Filmes

Já no cartaz promocional, a premissa fica clara: “ O bem contra o mal/O amor contra o ódio”. A apresentação de diversos personagens em contextos casuais, em contraste com o ambiente familiar conturbado dos autores do ataque, os irmãos Tsarnaev – um lembrete interessante de seu distanciamento físico em relação às grandes células terroristas -, nos permitiria criar uma conexão mais forte com a história pessoal de cada um dos lados se feita de forma menos superficial, apressada e subjetiva. Falhando em fazê-lo, essa abordagem acaba por não acrescentar muito à história. Da parte introdutória, apenas o esclarecimento do papel crucial da maratona na cultura de Boston, ao lado dos Red Sox, acrescenta substância ao contexto . A empatia acaba por ser gerada, como era de se esperar, pela carga emocional inerente ao atentado. Ainda na construção de tensão prévia à detonação das bombas, o destaque fica para a cena da contagem regressiva para o início da corrida, em que foram homenageadas as 26 vítimas do massacre na escola Sandy Hook, com flashes da ação dos principais nomes do filme naquele momento.

O corte rápido entre os planos, que tem como ápice o estouro da primeira panela de pressão, faz com que a situação se torne ainda mais angustiante. A verossimilhança da reação ao acontecido pode ser atribuída à economia de palavras e a priorização da ação e das feições de choque, principalmente de Wahlberg, a coluna vertebral do filme, na pele do policial Tommy Saunders, que tem uma performance convincente nas passagens difíceis. Os bons efeitos e atuações são um pouco ofuscados apenas pela necessidade de mostrar a grande quantidade de sangue falso em closes.

Reprodução: Paris Filmes

A escalação dos elenco é outro ponto alto, pela grande semelhança física com aqueles que interpretam. Os atores que dão vida os irmãos Tsarnaev incorrem em uma responsabilidade ainda maior por conta disso. Por todo um contexto passional, é comum a todas as obras alguns espectadores que não discernem realidade e ficção e, mesmo assim, Alex Wolff e Themo Melikidze tomam corajosamente a tarefa de interpretar dois terroristas. A submissão do mais novo, Dzhokhar, ao irmão Tamerlan é exposta em algumas cenas, com o primeiro inclusive questionando a intenção do atentado. Em suas conversas, os personagens teorizam a respeito de conspirações estadunidenses e há cautela por parte de agentes do Estado ao falar sobre suas motivações religiosas, o que afasta, pelo menos inicialmente, qualquer propagação de discurso de ódio a quem assiste – algo muito responsável, considerando o contexto global.

As escolhas de roteiro, porém, são bastantes duvidosas conforme a narrativa avança. Há o uso exacerbado de palavrões, frases de efeito que podem se encaixar em qualquer comédia pastelão e discursos sentimentalistas, com apenas uma cena tangenciando a problemática da xenofobia e da morte de civis no Oriente Médio. O Dia do Atentado toma um atalho que o torna apenas mais um blockbuster e decide por vender as ideias do amor entre os cidadãos comuns como a solução para o terrorismo nos EUA e do país como agente passivo diante das problemáticas entre os povos. Não era preciso convencimento a respeito da legitimidade da dor causada pela situação. É inquestionável, diante das consequências, que a ação coordenada dos irmãos foi cruel e indefensável, mas a produção toma a função de rotular um dos lados como sendo totalmente inofensivo. O filme, no fim das contas, não deixa de representar uma América para os americanos.

O Dia do Atentado chega aos cinemas dia 11 de maio.

Trailer legendado: 

por Pietra Carvalho
pietra.carpin@hotmail.com

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