Recentemente estive com a equipe da Jornalismo Júnior presencialmente em uma oficina para que todos se conhecessem e trocassem ideias sobre o oficio do jornalismo.
A conversa foi muito boa e me fez repensar na escrita dessa coluna em específico. Como já mencionei algumas vezes, procuro seguir um ritual como ombudswoman que basicamente é ler, anotar, refletir e escrever.
Naturalmente divido esse espaço em observações sobre a escrita ou técnicas jornalísticas, mas após essa conversa percebi que a redação da Jota também quer saber: meu texto faz sentido para o leitor? Que bom que estudantes de jornalismo tem essa preocupação.
Na verdade, o bom jornalista precisa se fazer essa pergunta sempre. Para além da preocupação com a pauta, apuração, fontes e escrita, o material produzido é compreensível?
Como colunista preciso fazer as leituras com essa pergunta em mente exercendo dois papeis: (1) como profissional do jornalismo e com meus gostos particulares e (2) me despir desse papel e pensar/imaginar um público mais geral que recebe uma enxurrada de informações o tempo todo.
Por que isso? Porque a Carla faz determinados questionamentos que o público em geral não necessariamente fará e vice-versa.
Para este mês os textos mais lidos foram: “50 anos de seu primeiro título em Los Angeles: conheça o início da trajetória dos Lakers rumo à dominação da cena”, por Guilherme Castro e Maria Trombini (ARQUIBANCADA); “Realidade ou ficção: onde se encaixam os romances?”, por Ana Júlia Maciel (CINÉFILOS); “O avanço da OTAN e a iminência de novos conflitos”, por Bárbara Bigas e Júlia Magalhães (J.PRESS); “Rio Tietê: poluição e os seres vivos que nele habitam”, por Diogo Bachega (LABORATÓRIO) e “Bastidores teatrais: o que a produção de uma peça musical envolve?”, por Amanda Marangoni (SALA 33).
Em relação aos gêneros e formatos jornalísticos, essa seleção tem reportagens mais tradicionais, reportagens mais históricas e análise crítica, mas em relação às pautas e/ou estrutura há pontos comuns como os encontrados na coluna anterior?
Cultura traz um texto que olha “pra dentro do Brasil” enquanto o outro reflete criticamente sobre a questão das comédias românticas. Esporte faz uma narrativa histórica, porém com conexões com a atualidade. Ciência aborda um problema antigo, mas que ao mesmo tempo permanece atual, e no espaço dedicado às Hard News há o que se espera: atualidade.
Sendo assim, a resposta para a pergunta do parágrafo anterior num primeiro momento é não, afinal, cada texto escolhe um gênero/formato e um caminho de escrita. Mas independente disso e retomando o questionamento feito no título desta coluna, há claramente pontos comuns que auxiliam no caminho de fazer o texto ter sentido: um olhar atento para a conexão entre o interesse do público, a atualidade e os acontecimentos do mundo.
Há sempre o que ser aprimorado
ARQUIBANCADA. Para os fãs de NBA e, em especial, do Lakers, o texto é riquíssimo, mas logo no começo senti falta de um complemento sobre quem seriam Ben Berger e Morris Chalfen. São empresários do ramo, ex-atletas, pessoas comuns que gostavam de basquete? Talvez para quem não está familiarizado com o tema, esse detalhe faça falta.
A reportagem consulta uma fonte que domina o assunto e, imagino que justamente por isso, ela tenha falado muito. Nesses casos pode haver dificuldade na edição e foi isso que senti na segunda aspas. Quando a pessoa fala tem sentido, mas quando transposto ao texto nem sempre fica claro. O jornalista não pode alterar o sentido da fala, a intenção da fonte, mas pode limpar o excesso de palavras, mudar pequenas coisas para dar mais clareza ao enunciado.
Está escrito: “Imaginem um time envelhecido, experiente, que tinha chegado à várias finais seguidas na década anterior. Alguns não tinham ganhado nada praticamente, como Jerry West e Wilt Chamberlain, e disciplinar esses caras, para que arremessassem todo dia de manhã, trabalhassem condicionamento físico no dia do jogo, foi implementado algo totalmente novo para alguns dos caras mais velhos da liga.” Minha sugestão seria: “Imaginem um time envelhecido, experiente, que tinha chegado à várias finais seguidas na década anterior. Alguns não tinham ganhado nada como Jerry West e Wilt Chamberlain, e disciplinar esses caras para que arremessassem todo dia de manhã, trabalhassem condicionamento físico no dia do jogo era algo totalmente novo para alguns dos caras mais velhos da liga.”
LABORATÓRIO. Sei que no digital tem que existir a repetição por causa dos algoritmos, mas sempre sou a favor da busca por sinônimos. Aqui me refiro ao título e subtítulo que fazem uso do “habitam” e, mais no final em um único período, o uso das palavras “utilizam”, “utilizados”, “utilizam-se”.
No subtítulo está escrito: “ENTENDA COMO ORGANISMOS QUE HABITAM O RIO INTERAGEM COM A POLUIÇÃO E SÃO AFETADOS POR ELA”. Poderia ser “ENTENDA COMO ORGANISMOS PRESENTES NO RIO INTERAGEM COM A POLUIÇÃO E SÃO AFETADOS POR ELA”.
Em outros pontos sugiro a mescla entre períodos mais curtos e longos. Explico: vejo que o autor opta por períodos mais curtos, mas às vezes o uso do ponto final quebra o raciocínio. Nesse caso os períodos longos, mas com os conectivos certos ajudam o texto a fluir.
No trecho “ Em entrevista para o Laboratório, Alexandre Wagner Silva Hilsdorf, professor da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), afirma que uma das formas de contaminação das águas mais comuns em São Paulo, por causa da urbanização intensa, é a poluição difusa. É causada por componentes como garrafas pet, óleo de carro (…)” poderia ser “Em entrevista para o Laboratório, Alexandre Wagner Silva Hilsdorf, professor da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), afirma que uma das formas de contaminação das águas mais comuns em São Paulo, por causa da urbanização intensa, é a poluição difusa, produzida/ocasionada/gerada por componentes como garrafas pet, óleo de carro (…)”.
SALA 33. Aqui é uma dúvida mesmo. No início do texto a fonte é apresentada como diretor musical e depois como produtor. Na prática são coisas diferentes. Ele faz as duas coisas? Se sim, seria só dizer “fulano que também é produtor”.
Há um trabalho claro de apuração e todos os textos fazem sentido, no entanto, o trabalho jornalístico sempre pode ser melhorado, assim, esses apontamentos, podem agregar no resultado final.
*Carla de Oliveira Tôzo é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, doutoranda em Comunicação pelo PPGCOM-ECA-USP, professora universitária. Foi repórter freelancer em revistas cobrindo temas ligados a beleza, saúde e estética.