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Observatório | A temporada de Fórmula 1 no caos de 2020

A última corrida da Fórmula 1 em 2020 foi sonolenta. A vitória de Max Verstappen no Grande Prêmio de Abu Dhabi não representou a montanha-russa que marcou a temporada. Nos 70 anos da F1, a pandemia de Covid-19 fez com que as corridas fossem interrompidas por quatro meses e vários circuitos tradicionais ficassem de fora. …

Observatório | A temporada de Fórmula 1 no caos de 2020 Leia mais »

A última corrida da Fórmula 1 em 2020 foi sonolenta. A vitória de Max Verstappen no Grande Prêmio de Abu Dhabi não representou a montanha-russa que marcou a temporada. Nos 70 anos da F1, a pandemia de Covid-19 fez com que as corridas fossem interrompidas por quatro meses e vários circuitos tradicionais ficassem de fora. Mas as limitações impostas pelo novo coronavírus não impediram que a temporada coroasse Lewis Hamilton como heptacampeão e visse a quebra de vários recordes. Também não impediu que equipes e público acompanhassem a chegada dos movimentos sociais às pistas, o fracasso de uma grande montadora e o salvamento de um piloto das chamas.

O início da temporada estava previsto para março, no GP da Austrália. Mas, após um dos membros da McLaren testar positivo para Covid-19, grande parte das equipes declarou não estar confortável com a continuação das corridas. A F1 suspendeu o GP e iniciou uma reformulação de protocolos e calendário. Circuitos tradicionais, como o dos Estados Unidos e do Brasil, ficaram de fora. Foi a primeira vez que o GP do Brasil foi excluído desde que inaugurou na modalidade em 1972.


O coronavírus nas pistas

Apesar de todos os protocolos de segurança adotados com a retomada das corridas em julho, a F1 não ficou isenta de novos casos. Ainda no fim de julho, o mexicano Sergio Pérez, piloto da Racing Point, testou positivo para Covid-19. Em outubro foi a vez de Lance Stroll no GP de Eifel. Até o heptacampeão Lewis Hamilton entrou na lista de contaminados e não disputou o GP de Sakhir, no início de dezembro.

Além da preocupação com seus membros, várias equipes concentraram esforços para desenvolver e produzir equipamentos médicos. O Projeto Pitlane reuniu sete equipes – entre elas McLaren, Mercedes, Renault e Haas – que deslocaram seus times de engenharia para fabricação de respiradores. A Ferrari também fez parte da força-tarefa de produção de equipamentos médicos na Itália. 

Equipamentos produzidos pela Mercedes em parceria com a University College London
Equipamentos produzidos pela Mercedes em parceria com a University College London [Imagem: Reprodução / Youtube]


Carro em chamas e oportunidade brasileira

Um dos eventos mais assustadores da temporada foi o grave acidente de Romain Grosjean em Bahrein. Na primeira volta da prova, o carro do francês bateu no guard rail, partiu ao meio e explodiu em chamas. Grosjean ficou dentro do carro por 29 segundos antes de conseguir sair e sofreu queimaduras nas mãos e nos pés, o que o tirou das duas últimas provas do ano. Seu substituto foi Pietro Fittipaldi, primeiro brasileiro a retornar às pistas da modalidade após a saída de Felipe Massa em 2017.

Para Pietro, o maior desafio da F1 é memorizar muitos procedimentos. “Uma largada com um carro normal de corrida é usualmente bem simples. Mas em um carro de F1, você tem que parar no grid, alterar o modo, definir certa rotação. Há muitas coisas”, contou à RF1 na véspera do GP de Abu Dhabi. 

Grosjean fugindo das chamas do acidente que quase ceifou sua vida
Grosjean fugindo das chamas do acidente que quase ceifou sua vida [Imagem: Divulgação / Twitter F-1]


O fracasso da Ferrari

A Ferrari demonstrava baixo desempenho desde 2019 e avistava um horizonte de muitas dificuldades nas pistas, sem tempo para identificar e resolver problemas nos carros. O impedimento de modificações devido aos vários meses de paralisação provocados pela pandemia de Covid ajudaram a culminar no pior desempenho da Ferrari desde 1980, tendo Maranello encerrado o campeonato de construtores de 2020 na sexta posição.

Uma das alterações regulamentares de 2020 com efeitos negativos para a montadora é o teto orçamentário. A medida faz parte de um pacote para garantir maior equilíbrio entre as equipes. De acordo com o limite de teto, a partir de 2021 cada equipe só poderá desembolsar 145 milhões de dólares por ano. O plano prevê ainda a redução progressiva do teto nos próximos cinco anos, chegando a 135 milhões. O comentarista e jornalista esportivo Tiago Mendonça explica que essa redução terá efeitos amargos para a Ferrari, além do fato de que as equipes terão apenas duas alterações que poderão ser feitas no carro. “Precisamos ver como ela vai usar essas alterações, mas já é muito improvável que consigam algum avanço nos motores. Hoje o motor da Ferrari é o pior da F1”, explica Tiago


O programa We Race As One

Dias depois do campeão Lewis Hamilton iniciar um movimento pró-diversidade em seu esporte e participar de protestos antirracistas em Londres, no mês de junho de 2020, ano da morte do afro-americano George Floyd pela polícia, a F1 anunciou o seu primeiro programa de inclusão. O We Race As One (Nós Corremos Como Um, em português) declarou suporte às lutas antirracismo e anti-homofobia, promovendo a diversidade dentro da modalidade. Os dirigentes da F1 disseram estar abertos a sugestões sobre como ampliar as oportunidades de ingresso na categoria, além de cumprir o papel de uma instituição a favor da diversidade.

“Acabe com o racismo” – dizeres estampados na Mercedes de Lewis Hamilton

O programa vem sendo alvo de críticas pela comunidade especializada e também pelos fãs. Pietra Carvalho Pinheiro é estudante de Jornalismo na Universidade de São Paulo e acompanha a Fórmula 1 há cerca de 13 anos. Ela observa que a campanha We Race As One serve à FIA – Federação Internacional de Automobilismo, que regula a F1 – mais em termos de marketing do que práticos.

“Com o Black Lives Matter saindo dos noticiários, percebemos que Hamilton ia perdendo um pouco do apoio da FIA para se manifestar como queria, como por exemplo o fato de ele ter usado uma camiseta da Breonna Taylor ter sido considerado político demais. Que ‘We Race As One’ era esse?”, questiona. Breonna foi uma afro-americana de 26 anos morta a tiros pela polícia de Louisville, nos Estados Unidos, em março de 2020. 

Carro adesivado com um arco-íris, símbolo do We Race As One
Carro adesivado com um arco-íris, símbolo do We Race As One [Imagem: Divulgação]
Como exemplo de ação prática, a Hamilton Commissions é um projeto de pesquisa em parceria com a Associação de Engenheiros do Reino Unido que patrocina jovens interessados em ciências, para que eles possam estudar e um dia se tornar profissionais da F1, apoio que de fato causa impacto a longo prazo no processo de inclusão no esporte.

Para Neilton Ferreira Junior, pesquisador de questões étnico-raciais no esporte no Centro de Estudos Socioculturais do Movimento Humano, as mobilizações sociais tendem a elevar a temperatura política e a amolecer zonas duras da sociedade. O processo, na visão dele, não é do esporte civilizando a sociedade, mas da sociedade civilizando o esporte. “A Fórmula 1 é prova cabal de que esse processo civilizador tem um longo caminho pela frente. Mais que a abertura de uma ‘fenda’, a presença de Lewis Hamilton nessa modalidade significa o próprio desdobramento dessas lutas”, afirma.


Despedidas, chegadas e assédio

Muitos dos rostos conhecidos em 2020 não estarão presentes na próxima temporada ou trocarão de casa. Após seis anos de Ferrari, Sebastian Vettel se despediu da escuderia vermelha e foi substituído por Carlos Sainz, da McLaren. A vaga aberta na montadora britânica foi ocupada por Daniel Ricciardo, da Renault, o que fez com que Fernando Alonso retornasse da aposentadoria para as pistas. No caminho oposto, Romain Grosjean e Kevin Magnussen (ambos da Haas) se despediram das corridas.

Novos rostos também surgiram, como a adição na Haas do russo Nikita Mazepin. A parceria já começou em meio a polêmicas após Mazepin divulgar um vídeo em que apalpa uma mulher. O piloto se desculpou em suas redes sociais e a Haas afirma que está tratando do caso internamente.

Apesar da pressão negativa, Tiago Mendonça considera difícil que o caso tenha alguma consequência prática no esporte. “A F1 não tem um histórico de punições muito severas, nem por parte das equipes, nem por parte da promotora do campeonato. As penas são brandas, ou são financeiras, que não tem impacto esportivo nenhum”, afirma. O desdobramento do caso faz parte das expectativas para o próximo ano, junto com a chegada de Mick Schumacher, filho do heptacampeão Michael Schumacher. O novato também fará parte da equipe Haas e terá um nome de peso a honrar.

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