Quem se aventurou a ir ao Lollapalooza muito provavelmente se deparou com a dúvida mortal de escolher entre dois artistas que teriam shows em horários coincidentes. Comigo não foi assim. Quando vi que o Phoenix se apresentaria no palco Skol às 18h35 do sábado (5), já risquei da lista todos os outros que pudessem atrapalhar o único show do dia que eu realmente queria ver. Minha empolgação com a banda é bem daquelas de fã adolescente, e agora posso dizer que não foi à toa. Os franceses Thomas Mars (vocal), Laurent Brancowitz (guitarra), Deck D’Arcy (baixo) e Christian Mazzalai (guitarra e sintetizadores) fizeram lotar a plateia – e deram um verdadeiro espetáculo, que com certeza vai ficar gravado na cabeça de todos os que assistiram a eles.
Mas voltemos a algum tempo antes. O relógio marcava 17h20 quando cheguei à plateia do Skol, que estava (ainda) gloriosamente vazia. Pude me enfiar em um ponto bastante próximo ao palco enquanto via, pouco a pouco, o público aumentando. Quando o céu já estava quase completamente escuro, o telão piscou com uma imagem do interior do Palácio de Versalhes e o som nipônico de Entertainment, primeiro single do mais recente álbum, Bankrupt!, tomou conta da noite. Foi aí que um verdadeiro frenesi se iniciou no público, e até mesmo quem estava ali apenas para esperar o Muse se contagiou com o som poderoso dos franceses.

Em uma ordem de setlist que pode ser considerada arriscada, o quarteto liderado por Thomas Mars já iniciou o show com tudo, emendando hits na primeira metade da apresentação. Depois de Entertainment, veio Lasso, seguida da icônica Lisztomania – provavelmente o maior sucesso da banda -, do consagrado álbum Wolfgang Amadeus Phoenix. Nesse momento, o público explodiu em gritos e aplausos, em um dos momentos mais emocionantes do show.
Este início apoteótico deu a fãs, como eu, a sensação inebriante de entrar em sintonia com o artista, de senti-lo ali e compreendê-lo como nunca antes. E o Phoenix não deixou barato – retribuiu com força toda a atmosfera incrível que circulava o palco. Em algum tempo de show, Mars disse ao microfone que “aquela era a maior plateia que tinham em alguns anos” e que “contariam a seus netos sobre aquele dia”. Pronto: a mágica estava feita. O público foi à loucura. Qualquer dúvida de que aquele seria o melhor show do dia se desvanecia ali.
O som indie do grupo tem um quê de híbrido entre new wave e synthpop, que torna impossível ficar parado ao ouvir. Depois das animadas Trying to be Cool, Drakkar Noir e Chloroform, também do Bankrupt!, o público teve um descanso com o intenso mashup de Love Like a Sunset e Bankrupt!, sem vocais, e foi transportado às ruas de Paris, exibidas no telão durante a música. Em seguida, mais um hit: If I Ever Feel Better, um dos primeiros sucessos do grupo.
Apesar do som forte e inegavelmente contagiante dos franceses, a animação do vocalista se tornou um espetáculo à parte. Thomas Mars, literalmente, se jogou no público duas vezes e escalou parte de uma torre no meio da plateia. A avidez dos fãs ao agarrar o cantor parecia corresponder à empolgação que tiveram durante todo o show.
Caminhando para o fim, o hit 1901 fez o público explodir em mais gritos e pulos. Pouco depois de cantar Rome, Mars fez sua segunda incursão à plateia, enquanto o instrumental de Entertainment começava a ser ouvido novamente. Agarrando o microfone com os dentes, o vocalista se deixava ser sugado pelo público, que, apesar de pressentir o fim do show, parecia não querer deixar terminá-lo de jeito nenhum.
A magia de festival e a alegria da festa, para mim, se consolidaram com o Phoenix. O sofrimento anterior de dor nos pés, cansaço, fome e horas de fila de repente parecia muito mais suportável. Nem mesmo o empurra-empurra digno de metrô às 18h, no pós-show, me incomodou. Saí do palco Skol sentindo aquela felicidade característica de quando vamos a um show incrível de uma banda incrível – e é ali que juramos amá-la para sempre.
Por Ana Lourenço
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