Bruna Buzzo
Quatro minutos começa com um pássaro sobrevoando um céu azul, um prédio cinza aparece à esquerda da tela e então o espectador é introduzido ao universo onde se passa a maior parte da história. Diferente do pássaro, ali não há liberdade, não há para onde ir. O pavilhão é um dos que compõem uma penitenciária feminina alemã, um lugar triste e abandonado pelas regras de convivência social saudáveis, que contem em si diferentes tipos de fugas. Fugas mentais, sonhadas e idealizadas.
Traude Krüger (Monica Bleibtreu) é uma professora de piano que ensina dentro do presídio feminino, para alguns poucos alunos, entre os quais se destaca um dedicado carcereiro. Presa ao local desde o final da Segunda Guerra Mundial, Traude faz o possível para manter suas aulas, ameaçadas pelo baixo número de interessados.
No intuito de divulgar as aulas, testes para analisar o potencial das jovens ao piano são oferecidos. A presidiária Jenny von Loeben (Hannah Herzsprung) se oferece para fazer um teste que analisará seu potencial para o estudo do instrumento que domina com grande habilidade e que lhe rendeu várias mágoas, devidamente guardadas pela moça. Aqui, o orgulho de Traude e Jenny entra em conflito pela primeira vez. São as mãos da moça as grandes culpadas pela saga que as duas seguiram ao som das tristes composições de Schubbert.
As duas mulheres centrais do filme são como as músicas que tocam ao piano: tristes, solitárias, melancólicas. Ambas escondem um passado do qual procuram fugir. Precisam da redenção que encontram na música. Precisam uma da outra e se completam em seus desejos de atenção, visibilidade e sucesso.
Brilhante em seu intuito, Chris Kraus escreveu e dirigiu um filme belíssimo, equilibrado e bem dosado. Quatro Minutos discute temas polêmicos, toca nas feridas do povo alemão e apresenta ao espectador beleza de imagens e suavidade nas músicas, mesmo em um ambiente de crimes e desconfortos.