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Premiada na Febrace 2021, jovem cientista pesquisa em vegetais alternativas aos agroquímicos

Em março deste ano ocorreu mais uma edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), maior feira de ciências e engenharia do Brasil, que usualmente é realizada na Universidade de São Paulo (USP), mas passou a acontecer virtualmente, pela Plataforma Febrace Virtual, devido à pandemia. A Febrace é uma mostra nacional de projetos que, …

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Em março deste ano ocorreu mais uma edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), maior feira de ciências e engenharia do Brasil, que usualmente é realizada na Universidade de São Paulo (USP), mas passou a acontecer virtualmente, pela Plataforma Febrace Virtual, devido à pandemia. A Febrace é uma mostra nacional de projetos que, desde 2003, atua estimulando o talento de jovens cientistas ao proporcionar uma experiência de inovação e oportunidades de incentivo à pesquisa. Nesta edição, foram 345 projetos de 716 estudantes de 295 escolas do ensino fundamental, médio e técnico de todo o Brasil.

Entre eles, está a pesquisa intitulada “Potencial fungitóxico de diferentes extratos vegetais sobre o desenvolvimento in vitro do fitopatógeno causador da antracnose em frutos de bananeira”, desenvolvida por Ana Carolina Gonçalves Selva, de 17 anos, de Toledo (Paraná). A pesquisa tem como objetivo avaliar a eficiência de extratos vegetais no controle do crescimento de fungos do gênero Colletotrichum, que é responsável por apodrecer folhas e frutos de vegetais. A ideia é utilizar esses extratos como uma alternativa aos defensivos agrícolas, que são danosos ao meio ambiente, e, assim, melhorar a condição de produção dos agricultores rurais que sofrem com esses fungos.

O trabalho se destacou na cerimônia de premiação, que aconteceu no dia no dia 27 de março, pela menção em Outstanding Achievement for Ability and Creativity in In Vitro Biology, pela Society for in Vitro Biology (“Sociedade de Biologia in Vitro”); pelo prêmio destaque da Federação do Paraná e pela conquista de 1º lugar na categoria de Ciências Biológicas. A primeira posição ainda garantiu à jovem pesquisadora uma vaga para a Regeneron ISEF 2021, maior feira internacional do gênero, realizada anualmente nos Estados Unidos e virtualmente este ano entre os 16 e 21 de maio. 

Para conhecer a trajetória dessa jovem cientista, entender melhor sua pesquisa e refletir sobre o impacto da atuação das feiras e da iniciação científica na vida dos estudantes, você confere a entrevista da Ana Carolina ao Laboratório.

 

Laboratório: Como surge o seu projeto e como ele dialoga com a sua afinidade com a ciência?

 

Ana Carolina: Eu entrei para o Clube de Ciências Cientistas do Jardim do meu colégio [colégio estadual Jardim Porto Alegre] quando eu estava no oitavo ano do ensino fundamental. O meu avô tinha uma pequena produção de banana na casa dele e uma vez me perguntou se eu sabia alguma coisa para controlar uma doença que atingia a plantação. Então, eu conversei com a minha orientadora e descobri que se tratava da antracnose, doença causada por fungos do gênero Colletotrichum, e ela me falou que a gente poderia testar extratos vegetais para contê-la. Eu comecei a fazer pesquisas sobre extratos vegetais, sobre o problema da antracnose e descobri que é um problema muito grande no Brasil. Muitos produtores sofrem com a antracnose nas bananas, e a utilização dos agroquímicos para combatê-la é prejudicial, tanto para o meio ambiente quanto para a produção agrícola. Então, os extratos vegetais são uma alternativa economicamente viável e, às vezes, podem ter resultados até melhores que os agroquímicos. Quando comecei a fazer esse projeto, era só uma “brincadeira”. Eu entrei para o clube [de ciências] e pensei “vamos ver no que vai dar”. Eu acabei me apaixonando pela ciência e agora, no quinto ano de pesquisa, não consigo viver longe. Por isso, agora eu estou fazendo vestibular para entrar em ciências biológicas na Universidade Federal do Paraná [UFPR].

 

Laboratório: Mas, afinal, qual é a sua pesquisa? Como foi o desenvolvimento da sua pesquisa e em quais resultados você chegou?

 

Ana Carolina: Ao longo desses 4 anos de pesquisa, eu testei diferentes materiais vegetais, diferentes plantas e avaliei as folhas delas. Eu sempre procuro na cultura popular e na literatura brasileira plantas que já são utilizadas para o controle de outros fungos. Então, eu testei muitas plantas diferentes para ver qual seria melhor e encontrei um resultado muito bom em 2020 utilizando extrato vegetal de arruda, planta medicinal muito utilizada para o preparo de chás de medicina tradicional. Ele conseguiu controlar 70% do crescimento do fungo, que foi um resultado muito positivo, que eu não esperava. Outros extratos também me deram resultados muito bons, utilizando cipreste italiano e da Califórnia. Eles conseguiram controlar mais de 70% da colônia. E eu sempre testo esses extratos em 4 diferentes concentrações: eu testei de 5, 10, 15 e 20 gramas para ver qual seria a melhor concentração. Esses extratos conseguiram controlar o crescimento do fungo com mais de 50% em todas essas concentrações testadas, foi um resultado muito positivo.

 

Laboratório: Falando em resultado positivo, como foi participar da Febrace e ser premiada? Você já teve experiência em outras feiras?

 

Ana Carolina: Essa foi a segunda vez que eu participei da Febrace. Eu participei pela primeira vez em 2018 e foi lá que eu realmente me apaixonei pelas feiras de ciências. Eu pensava “meu Deus, isso é muito legal!”, porque tem uma troca de experiências com outras pessoas e você conhece outros trabalhos que são incríveis e de grande relevância. Eu já participei de muitas feiras ao longo desses anos, como a Mostratec. Na última vez que a Mostratec foi presencial, encontrei um pessoal do Cazaquistão. A gente não sabia muito bem como se comunicar, mas foi uma troca de ideias muito legal. Fizemos amizade, e eu nunca na minha vida imaginei que iria conhecer pessoas de outros países.

Para a Febrace [deste ano] eu não estava com muita expectativa, porque eu ganhei a credencial em uma feira que eu participei em dezembro, a MCTEA [Mostra de Ciência e Tecnologia da Escola Açaí], no Pará. Eu já fiquei muito feliz, porque a Febrace é uma feira muito especial para mim. Os trabalhos desta edição estavam muito bons e relevantes, e eu pensava que não tinha nenhuma chance de ser premiada. No dia da premiação, eu fui até a casa da minha orientadora para assistir junto com o clube de ciências – a gente é como se fosse uma família. Quando cheguei lá, eu já tinha ganhado dois prêmios: o destaque da “Sociedade de Biologia in Vitro” [Society for in Vitro Biology] e o prêmio destaque da Federação do Paraná. Quando eles [os colegas do clube] falaram que eu ganhei o destaque da Federação, eu fiquei em choque e não sabia como reagir, porque para nós esse prêmio tem um significado muito grande. Então, a gente estava vendo as colocações gerais da Febrace e eu ainda estava muito chocada. Começaram a premiar os projetos e eu falei “não tem nem chance do projeto ser premiado”. Mas, chamaram meu projeto e eu fiquei paralisada. Todos disseram “eu te avisei que você ia ganhar” e “você merece muito!”. Eu fiquei em choque, tanto que minha ficha ainda nem caiu.

E quando chegou o momento de anunciarem as vagas para a ISEF, eu também já tinha falado que não tinha nem chance, mas meu projeto foi o segundo a ser chamado. Eu fiquei paralisada. A gente já está fazendo as coisas para a ISEF, mandando os relatórios, mas parece que é mentira. A ISEF sempre foi um grande sonho para a gente do clube. Representar o Brasil, ser selecionada entre trabalhos do Brasil inteiro não passa pela minha cabeça… Então, eu estou muito feliz por tudo que está acontecendo, não tenho palavras para descrever.

 

Laboratório: Qual a importância da iniciação científica e de iniciativas como as feiras, como a Febrace, para você? 

 

Ana Carolina: Tem uma importância muito grande, porque a iniciação científica me trouxe oportunidades que eu nunca imaginei que eu teria. Então, eu conheci pessoas de muitos lugares do país e pessoas com quem eu criei uma afinidade muito grande. O clube de ciências é como uma família para mim, e a iniciação científica me trouxe muitas oportunidades novas. E, se não fosse a pandemia, a gente iria, em maio, para a ISEF nos Estados Unidos. Eu não tenho palavras para descrever. A Febrace, em particular, também me trouxe oportunidades maravilhosas e tem meu coração. É uma feira muito importante para mim. 

 

Laboratório: Você disse que a Febrace tem um espaço especial no seu coração. Por quê?

 

Ana Carolina: Ah, é porque ela foi a primeira feira da qual eu participei, e foi a feira que fez eu me apaixonar pela ciência, porque teve uma troca de ideias muito boa, os avaliadores e as pessoas, no geral, são muito queridas. Existem avaliadores em feiras que são muito rigorosos e te criticam. Já vi muita gente chorar em feiras de ciências, porque o avaliador diz que o projeto da pessoa não deveria estar lá. Na Febrace é totalmente diferente, os avaliadores são super carismáticos. Eles são muito queridos e simpáticos, dão críticas que são construtivas, que é para ver você melhorar. Existem muitos avaliadores que sempre falam que querem te ver lá na frente. Então, eu criei um carinho muito grande, foi paixão à primeira vista.

 

Laboratório: Como o seu avô, que apresentou esse problema que iniciou a pesquisa, reagiu a sua premiação?

 

Ana Carolina: Nossa, ele ficou muito feliz, e eu fico muito feliz de ver que ele está assim com as coisas que estão acontecendo comigo. Eu fico muito emocionada de ver que ele tem bastante orgulho. Ele sempre fala que é muito bom ver o que está acontecendo. Quando ele estudava, ele não tinha essas oportunidades, então ele fica feliz por saber que eu estou tendo essas oportunidades, estou aproveitando e fazendo a diferença.

 

Laboratório: Como estão suas expectativas com a pesquisa científica daqui para frente?

 

Ana Carolina: Passando essa feira [a ISEF], eu pretendo dar continuidade ao meu projeto e aplicá-lo em bananeiras de fato. Porque, até agora, eu só fiz o teste in vitro e nas bananeiras tem bastante diferença, com a influência de temperatura e umidade. Eu quero continuar o projeto, aplicar em campo e comparar esses extratos vegetais com agroquímicos, porque eles podem ter resultados semelhantes ou até superiores a eles. Eu quero tentar dar continuidade à pesquisa na faculdade, porque acho que tem relevância e impacto muito grandes, pensando no prejuízo que os agroquímicos acabam causando. Trazer esses extratos vegetais para comercializar seria muito bom.

E sobre as feiras científicas, depois da ISEF, eu vou participar de outra para a qual também recebi credencial, que é a Milset Brasil. Eu também recebi credencial para participar da Mostratec no final do ano. Então, eu pretendo melhorar o projeto para levá-lo para a Mostratec e espero que as coisas tenham melhorado até lá, para que ela seja realizada de modo presencial, porque está bem triste sendo virtual. A experiência de estar [presencialmente] em uma feira de ciências, conhecendo pessoas de outros lugares, é muito boa. Eu queria que minha última feira, pelo menos, fosse presencial. Eu estou com bastante expectativa também.

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