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O renascer de Beyoncé e o lume sobre esquecimentos

O álbum de Beyoncé, Renaissance, ganhou o Grammy 2023 de melhor álbum de Dance/Eletrônica

No dia 27 de julho de 2022, Beyoncé retornou aos holofotes musicais com o álbum intitulado Renaissance (2022). Na obra, que conta com 16 faixas, a cantora traz à tona cenários esquecidos, até então, pela comunidade musical. O olhar sobre os ballrooms da comunidade LGBTQIAP+ estadunidense e a utilização de samples de músicas relevantes para a cultura negra ajudaram Beyoncé na missão de renascer após um hiato de seis anos no lançamento de álbuns.

O comeback da cantora era esperado por seus fãs e pela indústria no geral. Algumas movimentações no site oficial de Beyoncé e certas saídas de ar começaram a chamar atenção das páginas da internet e do beyhive – base de fãs da cantora. Uma data passou a aparecer no site, assim como na legenda do Instagram da artista. A data condizia com o lançamento do lead single do álbum Renaissance

Na foto de capa de Renaissance, Beyoncé encontra-se em cima de uma cabelo transparente com raios dentro dele. A cantora encara o público e veste apenas alguns artefatos prateados que cobrem seus mamilos e parte da lateral de seu corpo. Ela está com um grande cabelo loiro e ondulado.
A capa do novo álbum de Beyoncé apresenta algumas referências. Relembra uma fotografia de Bianca Jagger no Studio 54, citado no álbum, além de uma obra renascentista, chamada “Lady Godiva”. Alguns fãs tomaram o cavalo como referência ao Texas, ou até mesmo aos Cavaleiros do Zodíaco. [Reprodução/ Instagram @beyonce]

Sobre as canções

Break My Soul deu uma boa amostra do que seria a nova era da cantora. Com uma atmosfera mais house e dance pop, a música trata principalmente sobre a liberação da energia incrustada, nesses anos todos sem um álbum de Beyoncé. A música contrasta com os estilos explorados pela texana até então, como o R&B, pop e rap, e já mostra uma das principais evidências do álbum: experimentação. Com menção certeira sobre o cenário ballroom dos Estados Unidos, Renaissance já se delineava como um retorno aos bailes nova-iorquinos, ocupados, principalmente, pela comunidade trans negra e latino-americana, na década de 1980. Beyoncé, com o sample de Show me Love, de Robin S., já começou a mostrar que tentaria resgatar vozes negras que foram, muitas vezes, esquecidas e ignoradas na área de dance music.

A cantora encontra-se atrás de uma janela, escodendo seu rosto que está embaçado pelo vidro. Ela utiliza um óculos escuro, um corset preto e luvas também pretas.
Break My Soul chegou ao número 1 no top 100 da Billboard, sendo a quinta música de Beyoncé a atingir esse feito. [Reprodução/ Instagram @beyonce]

O álbum se inicia com a faixa I’m that girl. A música já traz uma palavra que será encontrada com certa frequência no decorrer de Renaissance: pecado. Beyoncé revisita na faixa, que oscila entre rap e soul, o não pertencimento que deseja reinar na sua carreira. A canção delineia de maneira singela os caminhos que serão percorridos pela cantora, que faz do álbum uma grande obra, com nuances entre as faixas. As músicas são interligadas de uma maneira surpreendente que deixa a obra da texana mais coesa, o que não implica quebras e surpresas em seu interior, com um aumento em sua velocidade e intensidade sonora..

Em sequência tem-se a faixa Cozy. Nela, em específico, Beyoncé se retira da ideia de culpa que tangencia a música anterior e traz a adoração de si mesma. Com a ajuda do vídeo B**ch I’m BLACK”, da celebridade trans norte-americana Ts Madison, a cantora comemora e demonstra amor e aceitação pela sua pele negra. A celebração da faixa continua quando Beyoncé segue no tom confessional, que já a acompanha em toda a sua carreira.

Sua irmã, Solange, é relembrada na música, na qual se reitera o fato de que as pessoas devem ter cautela com ela. Isso remete a um acontecimento que abateu as mídias sociais no ano de 2014. Vídeos de uma câmera do elevador do Met Gala mostram Solange agredindo Jay-Z, marido da cantora, enquanto a cena é assistida por Beyoncé, surpreendendo o público. 

Ainda em Cozy, Beyoncé apresenta todas as cores da bandeira LGBTQIA + destrinchadas  em seus versos, inicialmente, sem pretensões exatas. A ideia se clarifica ainda no interior da própria obra, que se contextualiza dentro do cenário da comunidade celebrada. Por fim, mais uma vez, a faixa termina dentro do início da terceira música do álbum, trazendo a consonância e precisão na obra da texana. 

Alien Superstar foi uma das canções de maior destaque perante ao público. “Unique, that’s what you are” —  em tradução livre: “Única, é isso que você é” —  é a motivação para a música. A terceira faixa, ao fazer jus ao nome, traz um aspecto galáctico e transcendental através dos acordes e tons que se encontram na música, o que destaca Beyoncé e sua obra, cada vez mais, dentro do cenário queer. A canção  apresenta uma interpolação com a música I’m too Sexy, de Right Said Fred

Beyoncé está em um ambiente de balada antigo, sentada e em cima de sua cabeça tem um globo espelhado. Ela utiliza um vestido prateado e meia 3/4 preta. Um de seus braços está levantado, fazendo com que a manga do vestido abra e balance, enquanto o outro tampa seu seio que fica descoberto no modelo do vestido. Seu cabelo está preso em um coque baixo e ela utiliza acessórios e maquiagem em prata.
A atmosfera house e disco estão presentes na parte visual e no vinil do álbum. [Reprodução/ Instagram @beyonce]

Quebrando um pouco a trindade existente até então no álbum, a quarta faixa chega com um aspecto instrumental e vocal marcantes e com grandes traços já conhecidos de Beyoncé. Cuff It, música apimentada e com grande conotação sexual, tem um caráter de ânimo e êxito, assim como a letra já pressupõe. Vale ressaltar que a faixa ganhou grande destaque após o sucesso na plataforma Tik Tok. Com uma dança criada pelos próprios internautas a música se tornou o segundo maior sucesso de Renaissance. A canção, assim como sua faixa sucessora, faz referência à Ooo La La, de Teena Marie.

As próximas duas faixas poderiam ser consideradas uma única música. Energy, em parceria com Beam, e Break My Soul se complementam e se encaixam em uma passagem natural que traz um aspecto de epifania entre uma música e outra. Essa transição é facilitada pela utilização de Explode, de Big Freedia, que surge primeiro em Energy e se sobressai em Break My Soul.  

Church Girl já adentra o caráter animado e dançante, podendo ser considerada um interlude no álbum. Com uma batida destoante das músicas do Renaissance, uma tonalidade gospel toma conta da produção e se encaixa bem com o nome dado à música –  com tradução livre de “Garota da Igreja”. É a canção que mais quebra com a estética que tinha sido trabalhada, até então, na obra. Beyoncé, mais uma vez, trouxe a ideia de que o amor próprio e empoderamento são fundamentais para a vida de cada um. 

A próxima canção do álbum é Plastic Off The Sofa. Sendo a mais lenta do álbum, a música e sua tradução visam uma serenata. A ideia romântica e os vocais calmos, demarcam um outro aspecto do álbum e se encaixam na versatilidade da cantora dentro da obra. O tom R&B, já trabalhado pela artista desde Destiny’s Child, abre alas em Renaissance com essa faixa.

A canção com a maior duração do álbum,Virgo’s Groove, tem um aspecto mais repetitivo, o que não atrapalha a sua qualidade. Os vocais explorados por Beyoncé, com as reincidências, dão um aspecto refrescante e novo a cada vez que se escuta a música, o que não é comum na indústria musical. Com uma letra intimista e singela, Virgo’s Groove surpreende positivamente a capacidade artística de Beyoncé.

Move, parceria com Grace Jones e Tems, traz o estilo de dança jamaicano, chamado Bruk Up. A faixa começa com um aspecto instrumental e termina em outro de diferente tom, transição bem presente no álbum.  

Heated é a caixa surpresa do Renaissance. Com um início mais calmo e com trechos no background que já anunciam o que virá pela frente, a música se destaca entre os seus fãs. Na metade para o final da canção se instaura uma melodia e um estilo que remetem ao momento de desfile dos ballrooms, nos quais o estilo de dança Vogue predomina. Heated pode ser considerada uma síntese do próprio álbum, com seu clímax e nuances. 

A cantora está subindo, de lado, uma escada laranja. Ela utiliza uma meia 3/4 preta de bolinhas, além dissso, tem um body preto com cones dourados na região dos seios. Está com um coque baixo e brincos dourados grandes.
O sutiã de Beyoncé relembra o utilizado por Madonna, que mudou o cenário dos ballrooms com sua música Vogue. Beyoncé, inclusive, fez um remix da faixa de Madonna, interpolada com Break My Soul. [Reprodução/ Instagram @somelikeithaute__]

Thique trouxe de volta a Beyoncé com um aspecto mais Lemonade (2016), antecessor de Renaissance. O lado rapper da cantora, aliado à estética house dos ballrooms, com a ajuda de uma voz mais suspirada e aerada, cria uma atmosfera de música propícia a um desfile. Com uma letra afiada, a faixa se destaca na reta final do álbum. 

Pure/Honey são duas músicas em uma, o que exibe bem os diferenciais experimentais da obra. Com o início mais house, com letras e batidas propícias para mais um desfile à la Vogue, a canção se transforma em algo mais alegre no fim de seus trechos. Honey ganha dois significados na tradução livre. O primeiro é mel, fazendo referência ao fato de que todos querem o puro mel de Beyoncé, considerada a abelha rainha do mundo pop. Já a segunda tradução ganha o significado de querida, termo muito utilizado na linguagem LGBTQIAP+ nos EUA. A música conta com um membro da comunidade que repete “Miss Honey”, com uma tradução próxima de queridinha, que se esvai junto com os vocais da cantora. 

Em All Up In Your Mind, o intimismo de Beyoncé fica claro com apenas um trecho da música: “O meu amor é um crime? / Porque eu quero fazer você ser meu”. Com batidas mais frenéticas, a faixa se integra bem com sua sucessora, America Has a Problem. Essa segunda canção mantém o ritmo animado e com batidas bem pulsantes, o que ajuda no realce dos trechos em rap da cantora.

Summer Renaissance fecha bem o álbum e exibe com competência as ideias que o circundam. A citação de I Feel Love da grande voz da música negra nos EUA, Donna Summer, mostra o resgate de pessoas silenciadas e fecha com a utilização de uma das mais conhecidas entre elas. A sutileza de Beyoncé encontra amparo na faixa, o que não impede que a cantora se aventure em outros tons e nuances vocais.

Assim, Renaissance foi uma boa aposta para seu tão esperado comeback. Celebrou comunidades de maneira interessante, além de possibilitar ao público observar novas facetas da cantora e da música negra estadunidense. 

Beyoncé está com um coque alto com algumas mexas caindo em seu rosto, ela utiliza um body preto com detalhes em dourado na parte da frente. Seguindo a estética de Renaissance
Com Renaissance, Beyoncé se tornou a artista mais premiada na história do Grammys, totalizando um total de 32 vitórias. O recorde pertencia ao maestro Georg Solti. [Reprodução/ Instagram @christieverett]

Foto de capa: Caio Andrade

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