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O que reside ao ‘Sul da Fronteira, Oeste do Sol’?

Romance de Murakami explora as memórias e amores que nos escapam

Sul da Fronteira, Oeste do Sol, publicado pela primeira vez em 1992, encontra um novo público com a recente edição da Companhia das Letras (2021), que revive o aclamado clássico de Haruki Murakami. Com poucas páginas para um romance, o livro envolve o leitor na viagem introspectiva que é a vida do narrador, o japonês Hajime, desde a infância até a meia-idade. 

Hajime conhece Shimamoto na escola, quando os dois não passam de crianças tímidas. Ambos são filhos únicos e essa característica, que para Hajime é uma maldição, é o que causa simpatia inicial entre os dois. A simpatia acaba culminando em um amor infantil mas, quando o narrador muda de escola, a dupla perde contato. 

Isso não significa, porém, que Hajime tenha parado de pensar em Shimamoto. Durante o livro inteiro, o narrador privilegia contar histórias que remetem à menina. Exemplo disso é quando ele lista todos os encontros românticos que teve com mulheres que mancavam com alguma das pernas — característica que Hajime observou primeiro em Shimamoto.

Sul da Fronteira Oeste do Sol: imagem de rosto de Haruki Murakami, autor japonês, com cabelos curtos, trajando camiseta verde
Haruki Murakami [Imagem: Wikimedia Commons]
Desde sua namorada do ensino médio até sua esposa, Hajime segue rememorando Shimamoto, apesar de os dois nunca terem tido um relacionamento amoroso concreto. O leitor passa grande parte do tempo aguardando o reencontro dos dois. Mas, depois que ele acontece, descobre-se que isso não bastava para dar um desfecho satisfatório à história. Ainda há buracos para tapar e perguntas a responder. Às vezes temos que aprender a viver assim.

Como outros livros do autor, Sul da Fronteira, Oeste do Sol é um romance que finge ser romântico. A obra se esconde atrás de comentários do narrador sobre uma mulher idealizada, sobre a busca de Hajime pela sua amada em todas as esquinas de Tóquio. Mas, no final, é sobre um homem egoísta.

Pode causar certa estranheza no leitor passar mais de 150 páginas lendo sobre uma mulher, Shimamoto, e, ao fechar o livro, ter a sensação de não a conhecer em nada. Mas essa sensação não é novidade para a audiência fiel de Murakami, que já sentiu isso ao terminar Norwegian Wood (2004, Civilização) e perceber que a tão adorada Naoko não passava de uma silhueta mal definida.

Escrever é saber o que dizer, mas também saber o que esconder. E Murakami faz isso com maestria. Já é um clichê que cada pessoa vê o mundo por uma perspectiva singular e subjetiva, e o escritor se aproveita disso para nos mostrar como Hajime se vê como o protagonista da narrativa que conta para si mesmo — assim como todos nós fazemos com as narrativas das nossas vidas. Essa crueza, apesar de sutil, é o que torna a prosa de Murakami tão convincente. 

 

 

*Imagem de capa: Lívia Magalhães/Jornalismo Júnior

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