Tsecha Szpigel, Estera e Sasha Rosa são os três nomes que Tsé, uma judia polonesa, acumulou em seu esforço de sobrevivência ao holocausto. O filme-documentário sobre ela começa com o diretor Fábio Kow explicando ser neto da protagonista e que sempre gostou de fazer gravações sobre seus familiares, principalmente de sua avó, que teve muitas histórias para contar. Ao longo de seu crescimento, as histórias iam ficando sempre mais complexas e, muitas vezes, mais intensas. É interessante perceber que, pela proximidade familiar deles, o filme tem a liberdade de abordar todos os assuntos sem nenhuma restrição e de forma bem pessoal.
A história da vida da avó é contada em ordem cronológica, através da narração do diretor, do relato de familiares e da própria Tsé ao fim de sua vida. Ela narra desde o começo de sua vida, em que vivia feliz com sua família num vilarejo polonês, passando por sua captura pelo exército nazista, pela fuga através janela do trem em movimento que a levava para um campo de extermínio e pelo aprendizado de sobreviver sozinha. Até o fim, tendo seus últimos momentos no Brasil, ao lado de seus bisnetos. Mas com foco, obviamente, no período mais difícil de toda sua vida: a Segunda Guerra Mundial.

O sentimento que o filme passa é de agonia. Sobreviver os seis anos da guerra clandestinamente, adotando identidades e nomes falsos, fugindo dos campos de extermínio, sempre com medo de ser descoberta, sem ninguém para apoiar e, pior, sendo apenas uma criança judia. Ouvir esses relatos dá a impressão ao espectador de estar com um nó na garganta. Ao mesmo tempo, a perseverança e a busca por uma vida tranquila da protagonista ensina muito, mostra que, independente da situação que nos encontremos, é possível e vale a pena resistir e tentar lutar pelo melhor.
A narração é tem ao fundo ilustrações da cena descrita ou imagens e vídeos da época, concedidos por organizações sobre o holocausto. São poucos os relatos dados pela própria Tsé, talvez por sua idade e outros fatores, mas, importante ressaltar que essas cenas possuem uma baixa qualidade áudio-visual sem nenhum motivo aparente. Todas as outras sequências, com relatos de familiares foram muito bem dirigidas, com câmeras de boa qualidade fixadas, microfones direcionais e iluminação. Mesmo sendo como as demais, em um ambiente fechado, onde essas questões poderiam ser controladas, as cenas de Tsé tinham a imagem tremida e som de baixa qualidade, com o gravador de áudio sendo a própria câmera.
A trilha sonora intensa, composta por músicas do folclore polonês, ajuda a produzir os climas pesados presentes nos relatos. Também são utilizadas algumas músicas populares da época da guerra, e brasileiras da fase em que Tsé imigrou para o Brasil. Algumas transições são marcadas por essas canções polonesas ou por cenas de filmes clássicos da década de 1940, os quais Kow conta que adorava assistir com seus avós, e ainda mostra detalhes culturais da época.
O longa demonstra o pavor que era viver na Europa nessa época, principalmente na Polônia, país mais devastado pela Segunda Guerra e com a maior população judia exterminada. “Na Europa eu não fico” dizia Tsé após a guerra, quando discutia o futuro dela e de seu marido. Cogitaram vários países, como Israel e Canadá, porém era bastante difícil. No final, decidiram vir para o Brasil, já que seu marido tinha familiares por aqui, mesmo assim não foi algo simples: na época Getúlio Vargas estava no poder e não queria judeus.
Tsé conta uma história sobre sacrifícios e amor à vida, e traz relatos chocantes sobre a trajetória de uma criança judia que sobreviveu a um dos piores períodos da história da humanidade, o Regime Nazista.
O longa tem estreia prevista para o dia 12 de setembro no Brasil. Confira o trailer: