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Observatório: Um incêndio em um hospital do Rio de Janeiro e o que isso pode revelar

Com três incêndios em pouco mais de um ano, tragédia do Hospital Badim evidencia problemas relacionados a segurança

Em pouco mais de um ano, três incêndios assolaram o Rio de Janeiro. O primeiro, no Museu Nacional; o segundo, nos alojamentos do Ninho do Urubu (Centro de Treinamento do Flamengo); e mais recentemente no Hospital Badim, localizado no Maracanã.

A tragédia no hospital aconteceu no dia 12 de setembro e foi responsável por deixar ao menos 11 mortos. No momento do ocorrido estavam internadas 103 pessoas, acomodadas em leitos improvisados na rua Arthur Menezes, interditada posteriormente devido ao incêndio.

De acordo com a direção do Hospital, a fumaça atingiu todos os andares de um dos prédios do Badim. A perícia informou que a causa do incêndio começou em um gerador que ficava no subsolo do prédio. A polícia está trabalhando para saber, com mais detalhes, como foi feita a manutenção do equipamento e o que gerou o incêndio.

Por trás não só deste caso, mas dos outros já mencionados, existem fatos que revelam alguns problemas que acometem o Brasil, principalmente no que diz respeito a vistorias de segurança.

De acordo com o bombeiro, que será chamado de José pois preferiu não ser identificado, “todo estabelecimento comercial deve ter o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) para que, com isso, seja fiscalizadas rotas de fuga, extintores, hidrantes e portas corta fogo com o intuito de se evitar acidentes maiores”. Estar em dia com essa vistoria é de extrema importância pois garante a segurança do local.

José explica que existe um departamento no corpo de bombeiros que é específico para o serviço de vistorias. Os responsáveis fazem as inspeções e emitem um laudo. Quando não emitido, o estabelecimento é orientado a regularizar sua situação – “Se não acontece a regularização e ocorre algum acidente, o dono do estabelecimento é responsabilizado.”

O bombeiro levanta a possibilidade de um curto-circuito no gerador por conta da fiação, já que o prédio onde o incêndio aconteceu é um dos mais antigos do Hospital Badim. “O que provavelmente aconteceu foi uma sobrecarga do sistema elétrico. A fiação era antiga e foram adicionados equipamentos e máquinas que consomem energia sem que o sistema elétrico fosse revisado. Então aconteceu uma sobrecarga que gerou o curto e acarretou o incêndio”, explica.

Os pacientes foram realocados para leitos improvisados na rua. Isso pode revelar um despreparo em relação a situações de incêndio como esta. [Foto: Celso Pupo /Fotoarena/Folhapress]

Esse possível problema da fiação antiga mostra a importância de vistorias constantes para detecção de problemas que evitariam acidentes graves, como foi o caso do incêndio. 

Em entrevista ao G1, Jose Ricardo Bandeira, Presidente do Conselho Nacional de Peritos Judiciais, disse que as câmeras registraram detalhes do acidente que lhe chamaram a atenção. O vídeo mostra extintores sendo trazidos de outros andares para o local do incêndio, destacando o despreparo da segurança do lugar. Além disso, destaca-se a ausência de bombeiros civis ou brigadistas devidamente uniformizados para controlar a situação. Durante aproximadamente 8 minutos, a fumaça subiu para os andares superiores do hospital e nenhum alarme foi acionado. 

Segundo José Ricardo Bandeira, em caso de incêndio, todos os minutos são importantíssimos para se evitar o contato com a fumaça tóxica. Sete ou oito minutos é tempo suficiente para poupar muitas vidas, desde que os funcionários estivessem preparados para agir nessas situações: as medidas de contingência, contenção do incêndio e evacuação do prédio poderiam ter sido realizadas e as proporções do acidente sido bem menores.

Além das já mencionadas vistorias, o engenheiro Gerardo Portela, especialista em gerenciamento de riscos e segurança destacou, em entrevista à Veja, a ausência de normas e legislações específicas para combate a incêndios em espaços como hospitais.  Apenas em abril deste ano que entraram em vigor as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) com requisitos para “proteção contra incêndios e para projetos de construção e reforma” em prédios destinados a funcionar como hospitais. 

Tal descaso não é recente. O Rio de janeiro, assim como o Brasil, possui um histórico grande de problemas com incêndios que poderiam ser evitados se não houvesse negligência nessa área. Segundo os dados levantados pela ISB (Instituto Sprinkler do Brasil), em 2018 foram noticiados 531 ocorrências de incêndios estruturais pela imprensa. 

Entre todos esses, destaca-se o incêndio no Museu Nacional. Nesse caso a perda do patrimônio histórico da humanidade também poderia ter sido preservado se houvesse uma boa gestão e investimento. O edifício histórico não tinha um plano para incêndios e os hidrantes estavam descarregados. Não existe uma cultura de segurança no Brasil, afirma Gerardo Portela. O País precisa mudar sua postura se pretende preservar seu patrimônio histórico e humano. 

Os problemas estão diretamente ligados tanto a da falta de segurança nos ambientes como o despreparo para lidar com acidentes que envolvam incêndios. As pessoas não pensam sobre o estado de um estabelecimento. O questionamento só é  colocado em xeque quando tragédias acontecem. É necessário dar mais atenção ao assunto para que seja possível garantir a segurança e também o preparo adequado caso incêndios aconteçam.  

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