Dirigido por Claudia Priscilla – também diretora de Leite e Ferro (Brasil, 2010) – e Kiko Goifman – diretor do premiado FilmeFobia (Brasil, 2008), exibido na Seleção Oficial do Festival de Cinema de Berlim e premiado no festival de Havana, Olhe para Mim de Novo (2010) é um documentário em estilo road-movie que acompanha uma viagem feita por Silvyo Luccio pelo interior do sertão nordestino, por cidades como Juazeiro do Norte, Currais Novos, Caruaru e Campina Grande.
Poderia ser mais uma história de auto-descobrimento como tantas outras que já cansamos de assistir em filmes e documentários do tipo, se não fosse por um detalhe: Silvyo Luccio não é um personagem típico. Ele é na verdade um transsexual, que nasceu mulher e está aguardando a possibilidade de uma operação para se transformar em homem. Tem uma filha, que gerou ainda na adolescência em sua única relação com um outro homem, e agora quer ter outro filho com sua mulher por meio de inseminação artificial. Se sua história de vida é complicada, Silvyo é um personagem curiosíssimo, carismático e bem articulado.
Uma das principais qualidades do longa é mostrar de forma honesta e desmistificada a história tanto quanto atípica de Sylvio e de outras pessoas muitas vezes marginalizadas que ele encontra pelo caminho. O longa não pretende de modo algum vitimizá-lo: ele é apresentado de forma bastante realista, tanto que em vários momentos me senti incomodada por alguns de seus comentários machistas.
Mas o longa também aborda tópicos importantes como a construção da identidade masculina na cultura nordestina, a discussão aberta sobre a sexualidade e a transsexualidade, além da maternidade e das relações familiares.
Se em uma cidade grande como São Paulo, essas questões já geram polêmica, no sertão nordestino, em cidades pequenas e isoladas, os conflitos são ainda maiores e mais mistificados. Acrescente a tudo isso a falta de informação de boa parte da população e temos um quadro onde muitos ainda consideram a homossexualidade “coisa do demônio”. E se o longa acertou em algum ponto, é mostrar que o respeito às diferenças é, acima de tudo, essencial para compreender o outro.
Por Isabelle Almeida
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