“Eles são como nós”. Essa é a frase que o diretor Luc Besson – fã da antiga HQ francesa de Pierre Christin e Jean-Claude Mézières em que Valerian e a Cidade dos Mil Planetas foi baseado -, usou na coletiva de imprensa para definir os protagonistas Valerian e Laureline. E, de fato, os dois personagens são, dentro do possível, “pessoas normais”, posto que não possuem superpoderes ou identidade secreta mas é a sua profissão de agentes intergalácticos do século 28 que permite que eles salvem o dia. No filme, os dois protagonistas são designados para uma missão de alta importância e, assim, acabam envolvidos com a misteriosa ameaça que surgiu na base Alpha, residência de milhões de criaturas de diversos planetas.
No entanto, por não se tratar de um filme de origem, o longa enfrentou alguns problemas na caracterização dos personagens, visto que não pode ou não teve tempo de apresentá-los da maneira correta. Em primeiro lugar, na cena de introdução dos dois, Valerian (Dane DeHaan) e Laureline (Cara Delevingne) tem uma pequena conversa exageradamente didática em que é dito tudo que o público precisa saber sobre quem são os personagens e quais são as suas respectivas personalidades. Teria sido muita mais efetivo e, até mesmo, mais divertido se isso tivesse sido mostrado através de imagens e não de falas, evitando o modo como tais informações parecem ser jogadas para as pessoas que estão assistindo o longa. Outro problema é a falta de profundidade dos personagens, não há muita coisa a se saber sobre seu passado, seus medos e sonhos, isso dificulta a identificação do espectador com os protagonistas e a sua “humanização”. Há também a falta de química ente Dane e Cara, os dois mais parecem irmãos brigando do que um par romântico, o que faz com seja quase impossível de imaginar os dois como um casal e torna algumas cenas um pouco constrangedoras de serem assistidas.
Quanto à atuação, ambos os atores principais não decepcionam e entregam o que era exigido pelos respectivos personagens. A modelo Cara Delevingne, que já foi muito criticada por seus papéis anteriores, em especial aquele em Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016), apresenta uma leve melhora em sua atuação e consegue entregar uma performance convincente. Dane DeHaan também cumpriu o que seu papel prometia e nada além disso.
Agora, partindo, para o filme em si, é impossível não comentar a maravilhosa sequência de abertura, que ao som de Space Oddity de David Bowie, faz a introdução da base Alpha, onde se passa a maior parte da história.O roteiro, por sua vez, é algo simples e leve, principalmente por causa das numerosas piadas e cenas com teor cômico, que carregam certa semelhança com a fórmula Marvel, e da pouca profundidade da maioria dos personagens. Assim, o grande destaque de o Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, feito quase que inteiro com tela verde/azul, são os efeitos especiais. Embora em algumas cenas como as do planeta Mül eles pareçam um tanto quanto excessivos e artificiais demais, em geral, os efeitos são extraordinários e dão vida ao filme. Consequentemente, as cenas de ação e aquelas que ocorrem em cenários fantásticos tomam grande tempo de tela. Dessa maneira, o diretor Luc Besson privilegia a imagem ao texto, o que torna o longa-metragem bastante visual, característica de suas produções, como O Quinto Elemento (The Fifth Element,1997).
A trilha sonora é outro ponto alto: o compositor Alexandre Desplat, também responsável pela trilha sonora de Harry Potter e as Relíquias da Morte Partes 1 e 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows Part 1 and 2, 2010/2011) e O Grande Hotel Budapeste (The Grand Budapest Hotel, 2014), pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora, faz um ótimo trabalho com o harmonioso instrumental do filme. Um bom exemplo disso são algumas cenas dos habitantes do planeta Mül, que possuem como música tema uma melodia quase que mágica e que combina perfeitamente com essa misteriosa espécie alienígena.
Enfim, o grande problema enfrentado pela narrativa é a introdução de algumas cenas que pouco tem a acrescentar ao enredo principal e tornam a história um pouco cansativa, arrastando-a mais do que deveria. Entretanto, é em um desses momentos desnecessários que aparece como um dos maiores destaques do longa: a (curta) presença da cantora (e agora atriz) Rihanna! Nos poucos minutos em que ela aparece, Rihanna rouba a cena e conquista o público, sendo a sua personagem a mais carismática e divertida do filme inteiro. Porém, o bom desempenho de Rihanna não justifica a inclusão de cenas que pouco tem a ver com o enredo principal. Quando o arco da personagem acaba, fica uma sensação de que a sua participação foi apenas para dar maior publicidade ao filme.
Valerian e a Cidade dos Mil Planetas obteve críticas mistas por parte do público e da crítica, com notas 6,8 no IMDB e 51% de aprovação no Rotten Tomatoes. Sendo assim, não é uma obra prima, nem um filme que ficará para sempre na memória do público. Mas, em geral, é bastante divertido e garante duas horas de distração com os amigos e com a família (classificação indicativa: 12 anos).
Valerian e a Cidade dos Mil Planetas estreia dia 10 de agosto nos cinemas. Confira o trailer:
por Nathalia Giannetti
nathaliagiannetti@usp.br