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Disney+ | ‘Jungle Cruise’ diverte com a aventura, mas decepciona ao retratar o Brasil

O filme segue bem o caminho de clássicos do gênero de aventura, porém não faz uma boa representação da cultura brasileira e cai em estereótipos

O novo longa inspirado em uma das principais atrações dos parques da Disney, Jungle Cruise (2021), usa os contextos históricos da colonização latino-americana e da Primeira Guerra Mundial para motivar os heróis e vilões em uma aventura completamente fantasiosa e repleta de lendas.

Lily Houghton (Emily Blunt) e seu irmão McGregor Houghton (Jack Whitehall) são dois britânicos que viajam para o Brasil em busca de uma flor que pode curar qualquer mal e revolucionar a medicina. No entanto, o príncipe alemão Joachin (Jesse Plemons) também está à procura da planta que seria seu trunfo para vencer a guerra.

Ao chegar em Porto Velho, os irmãos se juntam ao barqueiro Frank Wolff (Dwayne Johnson) e navegam pelo rio Amazonas enfrentando perigos relacionados à antiga lenda do conquistador espanhol Aguirre (Édgar Ramírez). O qual, ao tentar encontrar a flor no século XV, foi morto e amaldiçoado por indígenas, que ele atacou após o líder da tribo se negar a entregar a ponta da flecha que o levaria à planta.

Jungle Cruise tem características muito similares a filmes de aventura que fizeram enorme sucesso, como Piratas do Caribe (Pirates of the Caribbean, 2003), que também foi criado a partir de uma atração dos parques de diversão, e Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida  (Raiders of the Lost Ark, 1981). Desde o enredo até a composição visual, o longa segue com exatidão a fórmula dos clássicos sem inovar muito.

Esta foi uma boa tática para fazer com que Jungle Cruise funcionasse para o público. Ainda que sejam previsíveis, os momentos de ação conseguem convencer e até criar certa tensão. Emily Blunt é impressionante nas cenas de luta e nas acrobacias, que parecem necessitar de maior habilidade comparadas às que a atriz participou em Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018). É raro ver filmes que possuam personagens femininas lutando com homens em cenas tão intensas e se saindo tão bem.

Mas a produção não abordou apenas empoderamento feminino e igualdade de gênero. McGregor é um personagem gay e possui um diálogo bem explícito sobre a rejeição sofrida por parte de todos que o cercavam, casamentos que não ocorreram, seu real interesse e  a importância da aceitação e do apoio da irmã. Ainda assim, o personagem parece cair em estereótipos e é usado como alívio cômico.  

O trio principal em barco. [Imagem: Divulgação/Disney]
O trio principal do filme busca uma planta lendária que pode não ser real. [Imagem: Divulgação/Disney]
Já a parte visual de Jungle Cruise é encantadora, principalmente os efeitos especiais. A Disney não economizou com a produção e teve um ótimo resultado. O maior destaque quanto a qualidade dos efeitos digitais são os vilões espanhóis que ganham forma a partir de elementos da floresta. Esse hibridismo entre “humano” e natureza enche os olhos com a organicidade com a qual a produção conseguiu equilibrar os dois aspectos, o que deixa os personagens ainda mais ameaçadores e intensifica a fantasia característica da película.

No entanto, essa produção falha muito na representação do país em que se passa. Como brasileiros, estes erros e rotulações sobre a cultura do lugar em que vivemos não passam despercebidos. Em primeiro lugar, pouquíssimos personagens são realmente brasileiros, e os que são, não passam de figurantes. Os europeus conquistadores são espanhóis. Ainda que houvesse um domínio espanhol em algumas áreas do Brasil, eram exceções.  Já os portugueses não são nem mencionados na obra. Para americanos e europeus que não possuem um mínimo de conhecimento sobre o país e que normalmente acham que a língua e a cultura brasileira são espanholas, estes pressupostos equivocados podem ser ainda mais reforçados pelo filme.

Porto na cidade de Porto Velho de onde o barco de Frank parte. [Imagem: Reprodução/Youtube/Disney+ Brasil]
Porto na cidade de Porto Velho de onde o barco de Frank parte. [Imagem: Reprodução/Youtube/Disney+ Brasil]
Aliás, a produção homogeiniza toda a cultura latino-americana. A personagem indígena  de maior destaque, Sam (Veronica Falcón), é interpretada por uma atriz mexicana, por exemplo. Além disso, é possível perceber que muitos dos figurinos da figuração são uma mistura de roupas típicas (e estereotipadas) de outros países latinos.

Surgiu ainda a polêmica do dinheiro usado no filme. Na dublagem brasileira, se fala Réis, mas na versão original, se escuta Reais. Porém, o longa se passa no início do século XX, quando Itamar Franco nem havia nascido. Ainda que seja só um erro de pronúncia dos atores, a produção deveria se atentar a esses “detalhes” históricos para não cometer gafes tão grotescas, principalmente quando se fala de uma empresa renomada como a Disney.

Para um filme caro e que deveria contar com um grande time de pesquisa, esses aspectos não deveriam ter sido ignorados. É frustrante para os brasileiros assistir a películas em que o país é mostrado de maneira tão rasa.

Jungle Cruise está em cartaz nos cinemas brasileiros e disponível com Primer Access  para os assinantes da Disney+. Confira o trailer

Imagem da capa: Divulgação/Disney Enterprises

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