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O universo da dança além de aplausos e flexibilidade

Imagem de capa: Giovanna Christ 5, 6, 7, 8… Essa é a contagem mais conhecida entre bailarinos e dançarinos e que faz parte da vida de todos que já tiveram contato com o mundo da dança. É com ela que se inicia o dia de diversas companhias, estúdios e grupos independentes. Uma rotina que envolve …

O universo da dança além de aplausos e flexibilidade Leia mais »

Imagem de capa: Giovanna Christ

5, 6, 7, 8… Essa é a contagem mais conhecida entre bailarinos e dançarinos e que faz parte da vida de todos que já tiveram contato com o mundo da dança. É com ela que se inicia o dia de diversas companhias, estúdios e grupos independentes. Uma rotina que envolve contínuas repetições, concentração, persistência e, acima de tudo, paixão.
Ao contrário do que se pode imaginar, a vida de quem dança vai muito além do brilho e dos aplausos do fim de um espetáculo. Meses antes de grandes apresentações inicia-se um longo processo, que passa por pesquisa de temas, estudo de personagens – desde seus trejeitos à sua complexidade psicológica –, escolha de músicas e figurinos e incontáveis horas de ensaios.

A dança além dos aplausos

Subir aos palcos é o clímax do mundo da dança, mas o ensaio é a raiz. A rotina de ensaios dos bailarinos que antecede um espetáculo é o momento em que se tomará conhecimento da música e de seus detalhes, haverá a familiarização com a coreografia e com os movimentos. É quando há contato com uma face da dança que apenas quem já manteve uma relação mais íntima com esse universo é capaz de entender.

Enquanto os dançarinos estão em época de preparação, eles devem encarar e superar seus próprios demônios. A dor é a primeira a se mostrar; persistente e insistente, ela não surge do dia para a noite e muito menos desaparece dessa forma. É resultado de intensos ensaios, inúmeras repetições, que muitas vezes levam o corpo do bailarino ao limite. Cãibras, dor nos braços e nas pernas, bolhas nos pés, distensões, são algumas das consequências que todo bailarino enfrenta em busca da perfeição.

Além da dor e do esgotamento físico, aqueles que escolheram a dança têm que lidar ainda com a pressão psicológica, imposta por terceiros ou por eles mesmos. Insegurança, baixa autoestima, frustrações e decepções fazem parte do dia a dia da dança. Mesmo após meses de ensaios, ouvindo repetidamente a mesma música e fazendo os mesmos movimentos, sempre haverá um ou outro detalhe com o qual se preocupar.

O que é ser bailarino

Kátia Veg é bailarina e professora de dança, começou a dançar aos 5 anos de idade e, desde então, a dança tem sido a sua vida. Ela afirma que o nervosismo e as cobranças em excesso fazem parte do cotidiano, e que se tem o reconhecimento como objetivo final. “Todo o processo de criação que vai te envolvendo, espera-se que o resultado final sejam as palmas. Só que todo esse processo é muito desgastante. Mesmo que você faça com todo amor do mundo, indiretamente, você está em xeque. Se você não recebe aplausos, fica na dúvida se fez certo, se comoveu. A intenção é comover o público, não é só aquela coreografia perfeita, sincronizada.”

O nervosismo acompanha, do mais experiente e reconhecido bailarino àquela pessoa que decidiu conhecer a dança por acaso. É geral, comum e é o que impulsiona quem dança: se há nervosismo, é porque há a preocupação em dançar de corpo e alma e em comover o espectador. Em excesso, entretanto, é um dos principais motivos pelos quais surgem os tão conhecidos brancos. E são nessas situações que surge a questão do que realmente é ser bailarino: como trabalhar o nervosismo e improvisar os movimentos adequados que melhor se encaixem na música, como mudar os rumos da coreografia, mas continuar a passar para o público a mensagem inicial.

Nesses momentos, o improviso é sempre muito bem-vindo, porém depende de uma série de detalhes. Quando se está sozinho no palco, improvisar é muito mais fácil. Se o bailarino ensaiou o suficiente para conhecer o timing da música e adquirir a capacidade de senti-la, os movimentos serão automáticos e se encaixarão perfeitamente com o restante da coreografia. Além disso, em coreografias solo, ninguém além do próprio dançarino sabe o que deveria ou não estar fazendo. Se o improviso for bem realizado, o público não perceberá possíveis erros, esquecimentos ou deslizes.

Por outro lado, dançar em grupo exige que todos os integrantes estejam com a coreografia memorizada, que estejam sincronizados, que sintam a música da mesma forma e que tenham em mente todos os detalhes da melodia. Coreografias em equipe não permitem improvisos: todos têm de fazer exatamente os mesmos movimentos, no mesmo instante, do contrário, erros e falta de sintonia serão perceptíveis ao público.

Thayná Shervis, ginasta e bailarina, começou na ginástica desde muito cedo, ainda na infância. A dança veio depois. Mesmo que sejam universos diferentes, não são distantes em relação às cobranças, frustrações e o sentimento que passam tanto para quem assiste, como para quem pratica.

Os brancos são comuns na rotina de dançarinos e mesmo de ginastas, como é o caso de Thayná. Porém, nesse universo em que se exige que a pessoa ensaie muito e que supere as limitações de seu corpo, muitas vezes esses episódios resolvem-se sem que ninguém perceba. “Quando dá um branco parece que some o ar do seu corpo, o coração começa a apertar, você não consegue respirar, mas como ensaiamos muito, eu sempre coloco na minha cabeça que eu sei a coreografia.”

A bailarina afirma que nesses momentos a parte técnica da dança não está sempre em primeiro plano: “mesmo que eu tenha me perdido em um contagem, eu tento me encontrar na parte artística, ou pela melodia da dança ou pelo o que eu sinto no momento, porque cada coreografia tem o seu sentimento necessário, um sentimento que remete a ela.”

Em algumas companhias de dança são realizadas durante o ano diversas competições e apresentações, além do espetáculo principal. Para as apresentações menores o tempo de ensaio varia de um a dois meses, enquanto os grandes espetáculos exigem um maior tempo de preparo. “Nós temos dias e horários certos da semana para ensaiar as coreografias que vão para a competição, além das aulas que fazemos normalmente. Geralmente, ensaiamos quatro ou cinco vezes por semana. Quanto ao espetáculo de fim de ano da academia, que é uma coisa maior, com mais coreografia, mais atuação, nós nos preparamos uns sete meses antes.”

Ela conta que já frustrou e se decepcionou diversas vezes com a ginástica e com a dança, mas que o importante é aprender a lidar com essas questões. “Eu acho que todo bailarino se frustra muito. O importante é não transformar as frustrações em uma fraqueza, mas sim em um força para você se reerguer, para conseguir fazer melhor.”

Hoje, Thayná já não pratica mais ginástica – devido a um problema que desenvolveu na coluna – dedica-se integralmente ao ballet. “Eu transformei toda a minha história na ginástica, todo esse trauma que tive da coluna em uma força para conseguir me destacar no ballet. Quando eu entrei, eu treinava muito, sempre dava o máximo de mim e buscava me aperfeiçoar mais ainda.”

O poder transformador da dança

Quem dança, dança por paixão. Para dançarinos, o que possa vir a ser interpretado como sofrimento, é amor. Para muitos, o contato com a dança começou muito cedo, assim como foi para Kátia, e imaginar uma vida em que algo possa privar essas pessoas de fazer aquilo que amam é desesperador. Existem questões nesse universo que são incompreensíveis aos olhos de quem não o conhece, mas a professora afirma que “nós não escolhemos a dança, nós somos escolhidos. Não sei descrever, acho que só quem vive isso consegue descrever e sentir o que eu estou falando.”

A dança é arte, é entretenimento, é paixão e é uma profissão, tão importante quanto qualquer outra. Apesar dos obstáculos que possam existir, ela é capaz de curar, distrair, melhorar a saúde e melhorar aspectos físicos e psicológicos. Tudo porque a dança envolve, exige entrega total, esforço e concentração. Para que se possa “pegar uma coreografia”, ou seja, conseguir realizar os movimentos propostos, é preciso se doar, estar presente de corpo, alma e mente.

Por Ana Carolina Cipriano
ana_cipriano@usp.br

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