O que você faria se tivesse a oportunidade de voltar à adolescência? E se, nessa inusitada chance, você conseguisse mudar o futuro?
Em De Volta aos 15 (2022), Anita (Maísa e Camila Queiroz), com seus 30 anos, viaja para o passado ao logar em sua antiga rede social, o Floguinho, e descobre que sua realidade — não tão glamurosa quanto a que desejo em ter quando mais jovem — pode ser mudada, assim como a de seus amigos, pelas decisões tomadas aos 15 anos.
O drama da protagonista é iniciado com uma visita a sua cidade natal, Leopoldina, para o casamento de sua irmã, Luiza. Seguindo o estereótipo de personagem principal, Anita tem um dom para causar confusão e, após reencontrar velhos amigos, ela encontra no Floguinho um alento para o coração que não sabe em quais decisões errou para que ela se encontrasse nessa atual situação: distante dos amigos, da família, e com uma vida complicada em São Paulo.

Com uma premissa que lembra muito o icônico filme De Repente 30 (2004), a série, inspirada no livro Depois dos Quinze (Editora Gutenberg, 2012) da blogueira Bruna Vieira, promete uma viagem nostálgica e divertida aos primórdios da internet, com direito a playlists típicas de 2006 — ano em que se passa a história da Anita jovem — e comunidades de antigas redes sociais.
Ao longo dos episódios, porém, a dinâmica entre passado e presente, que no início é cômica e leve, torna-se confusa ao ponto do espectador se esquecer de quais atitudes foram responsáveis na promoção da nova realidade criada. Além disso, não demora muito para que tais viagens tornem-se cansativas, repetitivas e até mesmo banais, uma vez que não há nada de especial na protagonista para que ela viaje entre passado e futuro, basta, apenas, que ela se conecte ao Floguinho. O questionamento que fica é: se o Floguinho é o meio de tudo, porque não houve outros viajantes no tempo? Ou houveram?

Além disso, as decisões de Anita no passado, por vezes, são trabalhadas de forma que tendem a chamar mais atenção para os sentimentos da protagonista do que para o ocorrido, não cabendo no contexto dos diálogos e, principalmente, no tempo em que eles ocorrem. Um exemplo disso é quando o personagem César (Pedro Vinícius) sofre homofobia e Anita contra-ataca o agressor apenas com frases de efeito que condizem com a atualidade, afirmando que ele poderá ser preso por homofobia no futuro — palavra que, por sinal, era desconhecida na época. Nesse caso, um diálogo explicativo poderia surtir efeito não só no agressor, mas também nos presentes da cena.

É importante lembrar que Anita jovem vive em 2006, época em que bullying e preconceitos não eram tratados com tanta seriedade; logo, a maneira com que ela lida com tais situações são muito mais para defesa própria do que para ensinar àquelas pessoas o porquê da ação ou da fala não ser correta; lembrando que, no passado, Anita mantém sua mentalidade e consciência dos 30 anos. Atualmente, com uma maior divulgação das informações através dos meios digitais, existe uma maior conscientização acerca desse tópico que não existia naquela época.
A exceção principal, aqui, é o arco do personagem César, futuramente Camila (Alice Marcone), a qual atuou também como roteirista da série produzida pela Netflix. O desenvolvimento desse personagem é feito com muito cuidado e leveza, ganhando notoriedade e não sendo completamente deixado à mercê de Anita, como acontece com outros personagens que tinham um potencial grande. Por ser muito focado nas questões pessoais da protagonista, o enredo deixa a desejar no quesito profundidade, como é possível observar ao analisar o desfecho — não — dado a Luiza: no início da série, é o casamento dela com o namorado da juventude que reúne Anita a Leopoldina, e, no final, a realidade da irmã é completamente diferente. Mesmo assim, não é dado muito espaço para entender o que aconteceu com ela e usar a incerteza de uma segunda temporada, que poderia destinar alguns momentos para tal explicação, é muito arriscado. A sensação que domina o telespectador é a de que, com a vida de Anita resolvida, não há necessidade de dialogar sobre as que ela alterou, mesmo que tenha sido uma mudança drástica.
Em suma, é inegável que o último episódio foi o mais bem elaborado, pois reúne tanto um futuro aguardado quanto um romance merecido, embora ainda deixe o espectador confuso quanto a quem os produtores gostariam de fechar como par romântico de Anita. Ambientado em Paris, as cenas românticas de Anita alternam entre o presente e o passado e, por mais que, durante a série, tais trocas sejam cansativas, neste momento específico, é algo que encaixa bem, em especial por serem momentos que o casal, na juventude, já sonhava em vivenciar.
A expectativa para uma segunda temporada é quebrada pela continuação do looping entre os dois tempos quando [SPOILER ALERT] outro personagem consegue acessar o Floguinho de Anita e também viaja para o passado. Ou seja, caso haja uma continuação, ela aparentemente apenas continuará com o mesmo estilo da primeira temporada, o que pode desanimar aqueles que gostariam de uma maior movimentação geral.
*Imagem de capa: Reprodução/Instagram/@netflix
QUERO ENTRAR NESSE FLOGUINHO QUAL E O LINK SEM SER O FLOGAO