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Desastre no Golfo: Um Horizonte nada Profundo

O que esperar de um filme que retrata o maior acidente petrolífero (até agora) da história, claramente causado, segundo o próprio filme, por falha humana, e motivado puramente por dinheiro? Uma obra crítica, com diálogos ricos e imagens inteligentes, talvez. Horizonte Profundo: Desastre no Golfo (Deepwater Horizon, 2016), no entanto, faz de uma das maiores …

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O que esperar de um filme que retrata o maior acidente petrolífero (até agora) da história, claramente causado, segundo o próprio filme, por falha humana, e motivado puramente por dinheiro? Uma obra crítica, com diálogos ricos e imagens inteligentes, talvez. Horizonte Profundo: Desastre no Golfo (Deepwater Horizon, 2016), no entanto, faz de uma das maiores desgraças ambientais e humanas que já acometeram os mares do globo um típico filme de ação hollywoodiano, repleto de explosões, heróis, um romance e muito barulho. Mesmo assim, faz jus à experiência que propõe.

Horizonte Profundo, dirigido por Peter Berg, conta a história do desastre que atingiu a plataforma petrolífera Deepwater Horizon, na época alugada pela British Petroleum (BP), em 2010, no Golfo do México, focando principalmente no envolvimento de Mike Williams (Mark Wahlberg) com o acidente. Após deixarem a terra firme, Williams, um engenheiro-chefe na plataforma, e Jimmy Harrell (Kurt Russell), o principal comandante da operação, descobrem que Vidrine (John Malkovich) e Kaluza (Brad Leland), altos executivos da BP, dispensaram um teste essencial para que se determinasse a segurança da sonda. Apesar de os envolvidos não demonstrarem saber de imediato que a causa do acidente foi a falta desse teste, o filme deixa claro que a inconsequência da BP, ao tentar economizar alguns dólares, foi a principal motivação do acidente.
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Por retratar uma história já com começo, meio e fim (afinal, o acidente realmente aconteceu e foi amplamente reportado pela mídia), já é quase um pressuposto – um contrato com o espectador – que o filme precisa mostrar algo que as pessoas ainda não tenham visto ou lido sobre o tema. É claro que a transposição da história para as telonas, como acontece com frequência em adaptações de livros para o cinema, já tem sua relevância e mérito. Mas o desastre do Golfo não é livro – é, por outro lado, um fato que percorreu em exaustão os noticiários mundialmente. Uma pesquisa básica sobre o acidente já nos coloca a par de todos os detalhes de como ele aconteceu.

Porém, é por esse mesmo motivo – de nós sabermos o que se passará na tela – que o filme é cativante. Com um roteiro sólido e uma boa atuação de Wahlberg, a obra trabalha com a ansiedade do espectador, que a todo momento espera pela explosão de lama e petróleo na Deepwater Horizon. Já se sabe que a perfuração que a plataforma está fazendo na costa da Louisiana culminará em um erro fatal, mas a trama posterga o fato de forma orgânica e envolvente. Nesse ponto, entretanto, há de se frisar que os detalhes técnicos dos diálogos entre os engenheiros da plataforma deixa grande parte do desenrolar do acidente um tanto quanto nebuloso, difícil de entender para a massiva maioria dos que assistem ao filme. Os roteiristas Matthew Sand e Matthew Michael Carnahan provavelmente optaram por assim deixar a história para dar maior verossimilhança ao filme, o que de fato acaba por funcionar.

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Na ânsia por fabricar novos heróis estadunidenses, o filme peca ao deixar de lado as críticas que poderia ter feito à BP pelo maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos. Segundo um relatório do National Resources Defense Council de junho de 2015, os 171 milhões de galões de petróleo que vazaram da plataforma afetaram milhares de espécies da região, matando quase 1 milhão de aves marinhas e mais de 5 mil mamíferos, entre outros tipos de animais prejudicados. O ecossistema local pode levar décadas para se recuperar novamente. Mesmo assim, o filme não faz sequer uma menção aos impactos ambientais do acidente, restringindo-se a mostrar, durante as explosões da plataforma, um pássaro que, desnorteado, acaba morrendo por causa do petróleo. Ao descobrirem que o teste que poderia ter evitado o acidente não fora feito, Mike, o protagonista, cutuca a BP e deixa claro que o que motivou a empresa a petrolífera a não ter feito esse teste foi uma desculpa financeira desproporcional ao acidente que causou (e ao próprio tamanho da empresa, que teve lucro líquido de 6,08 bilhões de dólares no trimestre anterior ao acidente, segundo a Dow Jones).

Adaptando o acidente de 2010 à forma tradicional de filme de ação de Hollywood, Horizonte Profundo: Desastre no Golfo, que estreia dia 6 de outubro nos cinemas, consegue fazer um bom trabalho. Apesar de ser totalmente irresponsável ao ocultar os perniciosos fatos ambientais que envolveram a explosão da Deepwater Horizon, a trama, bem trabalhada aos moldes do circuito comercial, joga com a expectativa de quem assiste e é envolvente na maior parte do filme. Para os estadunidenses mais patriotas, Horizonte Profundo ainda pinta novos heróis para a nação – principalmente quando se trata de Mike, um personagem unidimensional, cujas emoções quase não oscilam durante a história, e de uma resignação extraordinária até demais. O filme faz o que promete, mas não é nenhum destaque entre as inúmeras obras que atingem as telas semanalmente.

por Gustavo Drullis
gudrullis@gmail.com

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