* Imagem de capa: [Russell Charters/Flickr]
História do esporte
O rúgbi subaquático, underwater rugby em inglês, foi criado na cidade de Colônia, na Alemanha, em 1961. Esse jovem esporte iniciou suas maiores competições ainda mais tarde, em 1980, com o primeiro campeonato mundial masculino. Os mundiais femininos iniciaram-se somente em 1991, já na quarta edição do formato. Na Alemanha, atualmente, há três divisões profissionais, sendo a mais alta a 1. Bundesliga, o que revela uma maior estruturação e consolidação do esporte.
O rúgbi subaquático se tornou mais popular entre os países nórdicos, que hoje representam as potências mais tradicionais do esporte nas competições mundiais, com o total de 14 títulos mundiais. Na categoria feminina, o país mais vitorioso é a Alemanha, com três títulos. Já na masculina, o maior ganhador é a Suécia, com cinco títulos. Os atuais campeões nas categorias feminina e masculina são Alemanha e Colômbia, respectivamente.
O local e o equipamento
Como o próprio nome diz, o esporte é praticado embaixo da água. As piscinas utilizadas apresentam, geralmente, comprimento entre 12 e 18 metros, largura entre 8 e 12 metros e profundidade que varia 3,5 a 5 metros. Há a necessidade de grandes piscinas uma vez que o jogo não é jogado na região superficial, mas na parte mais profunda da piscina.
A bola utilizada não é oca nem preenchida com nenhum tipo de material sólido. Ela é, na verdade, cheia de água salgada, que por ser mais densa que a água tratada nas piscinas, afunda. Dessa forma, a bola não se torna muito pesada, o que contribui para que o jogo tenha uma velocidade relativamente alta e se torne mais dinâmico.
Os atletas usam alguns equipamentos como máscaras de mergulho, uma proteção para as orelhas, snorkel – usado para auxiliar na respiração, ainda que não forneça oxigênio diretamente ao atleta – e também pés de pato.
Regras
As regras do esporte são relativamente simples. O rúgbi subaquático é um esporte de contato, isto é, os atletas encostam muito no adversário – seja para executar uma defesa travando um contra-ataque, seja apresentando agressividade no ataque. Contudo, esse contato deve ser feito enquanto os jogadores têm a posse da bola. Quando é feito o passe, os atletas devem imediatamente se desvencilhar do contato.
Também não é permitido apoiar-se no cesto (uma espécie de gol desse esporte, onde se conquista pontos), nem puxar ou agarrar os equipamentos usados pelo adversário. Do contrário, comete-se uma falta e/ou aplica-se uma punição de dois minutos. Um aspecto do esporte muito elogiado pelos praticantes é que, por mais que haja bastante contato durante a partida, o número de lesões no esporte é muito pequeno, devido à capacidade da água de atenuar o impacto.
Três árbitros acompanham o jogo: um deles fica na parte de fora da piscina e os outros dois o observam submersos, utilizando suporte de oxigênio e um sistema de comunicação.
Uma partida consiste de dois tempos de 15 minutos, divididos por um intervalo. As equipes são diferenciadas, principalmente, pela cor de suas proteções.
O destaque colombiano em meio aos nórdicos
Em meio aos países europeus, a Colômbia surge como uma nova potência do esporte, deslocando um pouco do eixo eurocêntrico para a América do Sul – sediando, inclusive, o Campeonato Mundial de 2015.
E foi justamente a partir desse ano que o país passou a ter resultados mais expressivos. No Mundial de 2015, suas equipes masculina e feminina conquistaram o terceiro lugar. Em 2019, a equipe masculina conquistou o primeiro lugar ao derrotar a Noruega pelo placar de 2 a 0 na final. A equipe feminina manteve seu bom desempenho, conquistando consecutivamente o terceiro lugar.
O campeonato nacional da Colômbia conta atualmente com mais de 15 clubes e está em crescimento.
Uma visão do esporte
Em entrevista ao Arquibancada, Carmen Montejo, atleta e secretária do UNSW Sydney Whales Underwater Rugby – equipe australiana amadora de rúgbi subaquático – contou um pouco sobre a sua experiência e sobre o clube em que atua.
Carmen disse que começou a praticar há mais ou menos dois anos e meio, enquanto jogava pelo time de vôlei da UNSW (University of New South Wales, na Austrália) e viu um anúncio na página do Facebook avisando sobre o curso para iniciantes que o clube organiza duas vezes ao ano. Ela comenta que achou “que valia a pena tentar porque eu amo mergulhar, nadar e participar de times esportivos. Eu fiquei envolvida desde a primeira sessão de treinos”.
Quando perguntada sobre os ganhos trazidos pelo esporte, a atleta ressalta o grande espectro de benefícios da prática ao dizer que “esse esporte tem grandes desafios de cardio e de resistência”. Ela ainda fala sobre como “o esporte desenvolve sua capacidade pulmonar e te ensina como permanecer calmo e reduzir as altas frequências cardíacas”.
Carmen ainda nota uma melhora em sua saúde mental: “pessoalmente, percebi uma grande melhora na saúde mental, como isso ajuda a relaxar e a desestressar ao mesmo tempo em que melhora minha auto-confiança”.
O UNSW club é o clube mais tradicional da Austrália e foi fundado pela Celine Steinfeld após um intercâmbio na Suécia. Ainda que a Austrália ainda não tenha uma liga nacional, o número de jogadores e de clubes vem crescendo. Ela lembra que esse desenvolvimento vem ocorrendo também entre as equipes femininas.
Segundo Carmen, “devido à geografia e ao tamanho do país, torna-se muito custoso viajar constantemente para partidas. Atualmente, as competições acontecem em finais de semana pontuais, a cada alguns meses ou anualmente”. Dentre as competições que destacou, a atleta comentou sobre os Nationals: “acontecem em um único final de semana e é onde times nacionais femininos e mistos são decididos. Esses times poderão disputar a Champions Cup em Berlim, no final de Novembro de cada ano”.
Singularidades do esporte
O rúgbi subaquático é surpreendentemente rápido. Era de se esperar que um esporte praticado de forma totalmente submersa se tornasse lento. Contudo, o uso do pé de pato, a bola preenchida com água salgada e o ótimo condicionamento físico dos atletas permitem altas velocidades.
É possível assistir às transmissões já feitas de campeonatos mundiais no canal do Youtube Underwater Rugby World Championships. A partir de uma análise da partida da final do último Campeonato Mundial, disputada entre Colômbia e Noruega, em Graz, na Áustria, pode-se notar um pouco mais o que torna esse esporte singular. Fora o aspecto da velocidade já mencionado, a capacidade respiratória dos atletas torna-se um grande diferencial.
Apesar de poderem ser feitas contínuas substituições ao longo do jogo, o mínimo de tempo extra que os atletas conseguem se manter debaixo d’água são vitais para o sucesso de uma posse de bola. Isso se justifica, pois a troca de jogadores diminui a capacidade de resposta do jogador que acaba de entrar.
Um exemplo de intensa atividade física acontece quando um dos times está muito próximo do gol e há uma movimentação e confusão entre os muitos atletas num mesmo espaço.
Outra situação em que é possível ver essa demanda física é na função do goleiro, responsável por cobrir e proteger o cesto do adversário. Dessa forma, o atleta tem que fazer um grande esforço para manter-se debaixo d’água e também de defender, concomitantemente.
Mas o esporte não é feito somente da resistência física, e sim da combinação de uma boa preparação com uma noção espacial e estratégia coletiva eficientes. Durante a partida, há longos períodos de posse de bola e movimentação dos times. O time atacante constrói o ataque até que se abram espaços para uma penetração na defesa. Dessa forma, o esporte exige muita sincronia e trabalho coletivo entre os atletas, dado que não há a possibilidade de muita comunicação entre eles.
Pouco convencional, o rúgbi subaquático é um esporte novo, ousado, intenso. Além de já ter se firmado como uma certa tradição em alguns países europeus, tem atualmente como destaque uma seleção sul-americana. Cabe esperar para saber se a potência colombiana popularizará o esporte, para futuramente tornar-se conhecido em todo o continente.
adorei muito obrigado pela ajuda