Por Aline Noronha (alinenoronha@usp.br)
Após, a menos de um mês, levantar o troféu da Eurocopa, a seleção espanhola de futebol masculino comemorou outra conquista: a segunda medalha de ouro dos Jogos Olímpicos. O jogo contra os donos da casa foi de alto nível e teve muitas reviravoltas: a França saiu na frente do placar, depois viu a Espanha virar o jogo para, minutos depois, empatar a partida novamente e levar o jogo para a prorrogação. No tempo extra, o espanhol Camello sacramentou a vitória de seu país após fazer os dois gols que viraram novamente o placar.
No início da disputa pelo ouro, a França estava investindo em um jogo rápido e físico, com duras chegadas, especialmente contra o espanhol Fermín Lopes. Através desta pressão, a primeira finalização da partida se tornou o primeiro gol para a “terra do croissant”, contando também com o erro individual do goleiro adversário: aos 10’, Millot chutou, dentro da área, uma bola que foi espalmada por Arnau Tenas para dentro do próprio gol.
A resposta não tardou e, aos 18’, o jogador espanhol Baena encontrou Fermín López sozinho dentro de área que, ao receber o passe, fez o gol sem pensar duas vezes. Aos 21’, foi a tentativa francesa de conseguir sair na frente no placar com o cabeceamento de Mateta em direção aos braços do goleiro.
A Espanha ampliou o placar aos 25’, novamente com Fermín López por meio de um rebote com muita velocidade. Esse foi o sexto gol do espanhol, que na artilharia das Olímpiadas, só ficou atrás do marroquino Rahimi, com oito gols.
O último ouro olímpico da Espanha foi em Barcelona-1992. Já as suas duas de prata foram em Antuérpia-1920 (Bélgica) e Tóquio-2021, quando perdeu para o Brasil [Reprodução/Instagram: @sefutbol]
Pouco tempo depois, aos 28’, o espanhol Baena fez um golaço de falta, sem chances para o goleiro rival, Restes, que apenas assistiu. Aos 40’, o quarto gol da Espanha quase aconteceu em uma finalização na pequena área, defendida pelo goleiro.Já ao fim do primeiro tempo, seleção francesa buscou se manter no ataque e teve boas oportunidades com Mateta e Olise, mas os cabeceios e cruzamentos não conseguiram balançar as redes.
Uma partida equilibrada marcada por vários “quases“
A diferença no placar não desanimou os franceses no segundo tempo, que vieram com uma grande pressão ofensiva contra uma Espanha que pensava em manter sua vitória sem grandes riscos. Aos 57’, Koné cabeceou no travessão espanhol. Já aos 61’, o chute de Olise sofreu um desvio que facilitou a defesa do goleiro rival. Aos 71’, Tenas realizou uma defesa difícil de um chute veloz e certeiro de Koné.
Após tantos “quases”, o gol francês veio aos 78’ pelos pés de Akilouche, o que motivou ainda mais sua seleção na partida. A jogada teve início com uma cobrança de falta de Olise que fez a bola desviar em Akilouche e Juan Miranda antes de morrer no fundo das redes.
Essa foi a segunda medalha de prata francesa além da conquistada em Paris-1900. Os franceses levaram o ouro em Los Angeles-1984, após vencer o Brasil [Reprodução/Instagram: @equipedefrance]
A partida se tornou ainda mais frenética. Aos 80’, o francês Koné quase empatou após cobrança de escanteio, mas a bola passou pelo lado esquerdo do gol. Aos 87’, foi a vez da Espanha reagir no contra-ataque, mas o chute rasteiro do camisa 12, Jon Pacheco, foi para fora do gol.
Aos 90’, o árbitro brasileiro Ramon Abatti Abel, muito criticado pela torcida francesa, consultou o VAR para marcar um pênalti incontestável: o espanhol Juan Miranda segurou e derrubou o francês Kalimuendo dentro da área, cometendo a infração. Mateta realizou a cobrança, transformou o placar em 3 a 3 e levou a partida para a prorrogação.
É da Espanha, não tem jeito!
O gosto de virada deixado pelo empate francês no final do tempo regulamentar tinha tudo para abalar os ânimos espanhóis no restante da partida. Mas a Espanha deu provas de sua solidez, voltou a se impor no jogo e buscou o resultado aos 9’ da prorrogação, com um gol de cobertura de Camello e assistência de Adrián Bernabé.
Apesar disso, os donos da casa, impulsionados por sua torcida, continuaram a lutar. Aos 104’, Doué movimentou a bola com perigo e com uma finalização veloz fez com que Tenas quase levasse um frango, com a bola passando debaixo de suas pernas após uma defesa parcial. Já aos 117’, Cherki chutou, no lado direito da área, a bola em direção ao gol, mas foi de encontro aos braços do goleiro rival.
A França aumentou a pressão nos minutos finais, mas a pontaria deixou a desejar e o goleiro Arnau Tenas segurou os ataques [Reprodução/Instagram: @equipedefrance]
A Espanha ainda ampliou nos acréscimos. A partir de uma assistência perfeita do goleiro Tenas, Camello correu no contra-ataque e fez o quinto gol espanhol. O goleiro Restes estava distante da pequena área e, após errar a defesa, o chute veloz e preciso da Espanha morreu no fundo da rede.
As trajetórias para o pódio
A trajetória em direção ao ouro no futebol masculino em Paris-2024 foi a seguinte: a Espanha ficou em segundo lugar no grupo C com duas vitórias e um empate, somente atrás do Egito por um ponto. Nas quartas de final venceu o Japão por 3 a 0 e na semifinal o Marrocos por 2 a 1.
Já no caminho da prata, a França liderou o grupo A com três vitórias, e teve o prazer de eliminar a Argentina nas quartas de final, no primeiro confronto depois do caso envolvendo cantos racistas de jogadores argentinos na comemoração do título da Copa América. Na semifinal, os franceses venceram o Egito de Rogério Micale — campeão olímpico pelo Brasil em 2016 — por 3 a 1.
A conquista do bronze foi interessante por destacar uma seleção que desde a Copa do Mundo de 2022 vem crescendo nas competições internacionais: o Marrocos. O país africano conquistou o primeiro lugar no grupo B com a mesma quantidade de pontos da Argentina, com duas vitórias e uma derrota. Nas quartas, venceu os estadunidenses por 4 a 0, e fez um placar histórico na disputa pela terceira posição contra o Egito, vencendo por 6 a 0.
Foi a primeira medalha conquistada por Marrocos no futebol, que se junta a Gana, Camarões e Nigéria como países africanos a obterem esse feito [Reprodução/Instagram: equipedumaroc]
A seleção marroquina fez história na última Copa do Mundo ao terminar em quarto lugar, acima de países mais tradicionais como Brasil, Inglaterra, Espanha e Portugal. Foi a melhor campanha africana na história da competição — até então nenhum país da África havia passado das quartas de final.
E o Brasil?
Depois de conquistar o ouro nas últimas duas edições dos Jogos Olímpicos, o futebol masculino brasileiro foi eliminado pela Argentina no Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano Sub-23 de 2024 e não conseguiu um lugar nessa Olimpíada. Esse feito aconteceu pela quinta vez na história da amarelinha, sendo que a última vez foi em Atenas 2004. Enquanto algumas nações, como Marrocos, ergueram-se no futebol mundial e prometem se destacar na Copa do Mundo 2026, outras tradicionais no esporte passaram a ser dúvida.
Imagem de capa: [Reprodução/Instagram: @sefutbol]