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“A Menina que Matou os Pais”: quando o filme não acompanha a complexidade do caso

Após 19 anos do caso Richthofen, o Prime Video lançou dois filmes que relatam o homicídio e os julgamentos por trás das mortes de Manfred e Marísia von Richthofen, por Suzane von Richthofen, Daniel e Cristian Cravinhos

De Mauricio Eça (Carrossel 1 e 2), o filme A Menina que Matou os Pais (2021) é sustentado pelo depoimento de Daniel (Leonardo Bittencourt) no julgamento do caso Richthofen, na segunda-feira, dia 17 de junho de 2006. Por isso, logo de cara, temos uma visão parcial dos assassinatos de Manfred e Marísia.

Para essa temática, o diretor optou por desdobrar a narrativa dos crimes em dois filmes, a fim de se apresentar duas versões sobre o que teria acontecido na noite do dia 31 de outubro de 2002. A Menina que Matou os Pais é o segundo filme desses dois, que explicita a versão do ex-namorado de Suzane. Eça recomenda assistir aos filmes na ordem inversa, começando por O Menino que Matou meus Pais (2021), para conferir A Menina em seguida.

Esse último baseia-se na versão de Daniel e passa por pontos cruciais do relacionamento entre ele e Suzane, explicitando como o casal se comportava, quais  eram os maiores obstáculos existentes no namoro e a relação com os ex-sogros. A versão dele deixa transparecer que a companheira, não só induziu ele e o irmão a cometerem os assassinatos, como foi a cabeça e mandante dos crimes.

O filme peca por possuir pouca profundidade ao relatar um dos casos mais marcantes  do país, sem muitas análises psicológicas, e funciona quase como um documentário expositivo, só que na versão contada pelo réu. Em termos de roteiro, Ilana Casoy e Raphael Montes (Bom Dia, Verônica) conseguiram tocar em pontos importantes do caso e fizeram um trabalho fundamental para o “espelhamento” proposto pelo diretor, fazendo com que A Menina que Matou os Pais não funcione sem O Menino que Matou meus Pais.

Isso não seria um problema se houvesse a explicitação do caso por inteiro e não apenas de alguma das versões. Porém, a escolha é compreensível pela forma como a trama é exposta ao público, com a premissa de um ponto de vista particular e até revelador de tópicos necessários para a investigação. Além disso, o diretor conseguiu utilizar de boas atuações para dramatizar o caso com relativo detalhamento, sem perder aspectos importantes do depoimento de Daniel.  

 

Cena de A Menina que Matou os Pais, em que Suzane aparece algemada ao lado de Daniel, que veste um moletom branco e calça cinza, e Cravinhos, com um moletom vermelho, azul e cinza e calça cinza.
[Imagem: Reprodução/IMDb]
Carla Diaz fez uma importante atuação, amadurecendo com o passar do filme, o qual acompanha a vida adolescente da Suzane, até o momento em que ela decide matar os pais. Leonardo Bittencourt também possui momentos de boas performances. O casal de atores possui bastante química e transita entre pontos de discórdia e de amor, o que, de certa forma, transmitiu uma das diversas facetas existentes no relacionamento dos jovens assassinos.

Os veteranos Leonardo Medeiros e Vera Zimmerman, Manfred e Marísia von Richthofen respectivamente, também foram chaves para o desenrolar do filme e tiveram aparições significativas. 

A fotografia do filme acompanha o período em que a história se passa — início dos anos 2000 — e com pouco tempo de rolagem do filme ficamos a par dos acontecimentos. Alguns pontos de destaque na abordagem de temas sociais também se verificam, como a vida da família classe média alta e os relacionamentos abusivos existentes na família e entre o casal. 

O filme conta os acontecimentos, basicamente. Não há muita profundidade nele, e alguns temas poderiam ser abordados com maior visão crítica, como a parcialidade existente em se narrar um filme com a visão dos réus, as inverdades ditas sobre o relacionamento de Suzane com os pais e o próprio namoro entre Daniel e ela. O confronto de versões entre os depoimentos ocorre de modo indireto, já que só é possível observar as diferentes nuances do caso ao recorrermos à obra completa. 

De modo geral, há um zelo pela estrutura do filme e um comprometimento notável com o que pode ser a gênese dos filmes de crimes reais no Brasil. Por isso, ele já se coloca à frente de outras produções, mas poderia melhorar em alguns aspectos, como na maneira que a memória das vítimas ocorre, em alguns pontos mais profundos na discussão sobre o que é fato ou versão e, por fim, pela própria relevância do caso que chocou o país. 

Nota do Cinéfilo: 2,5 de 5, Mediano.

 

A Menina que Matou os Pais está disponível para os assinantes do Prime Video. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Reprodução/IMDb

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