Por Isabela Slussarek (isabelaslussarek@usp.br)
Em abril, a Quaest divulgou, através de uma pesquisa, que o governo do presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), é desaprovado por 56% da população, aprovado por 41% e 3% não soube responder. Foram entrevistados 2.016 brasileiros com 16 anos ou mais. Ao comparar com a pesquisa divulgada em março, 46% desaprovava a gestão, 51% aprovava e 3% não soube opinar.
Os dados que são divulgados todo mês demonstram que a satisfação da população com o atual governo decai cada vez mais e que o presidente está perdendo força entre seus principais apoiadores: as mulheres e os nordestinos, que foram cruciais para a sua vitória durante 2022.
O que levou a desaprovação?
Segundo Renato Meirelles, presidente e pesquisador do Instituto Locomotiva, existem muitas hipóteses sobre os motivos que resultaram nessa queda de popularidade, entre elas, está a economia. Renato afirma que a sociedade apresenta uma visão de crise econômica, mas os dados divulgados provam o contrário e, em alguns casos, apresentam dados históricos: “a percepção sobre a economia não está, necessariamente, baseada na realidade.”
“Nós temos o maior aumento de carteira assinada na história, o aumento real do salário mínimo e do bolsa família, e uma inflação que, apesar de impactar na população, comparada aos outros índices, está menor.”
Renato Meirelles
Para o presidente do Instituto, Lula não conseguiu oferecer um sonho à população e, por isso, as pessoas não sabem o que esperar do governo. Durante a campanha de Lula, em 2022, ele acredita que foi criada uma expectativa de que o passado iria voltar, mas, no fim, acabou não conseguindo vender um futuro. De acordo com Meirelles, o voto dos eleitores de Lula apresenta um cargo emocional muito grande, o que gerou uma insatisfação entre a população que esperava a concretização desse sonho. Nos governos anteriores, Lula decretou a construção de novas universidades e o início de programas voltados para a entrega de moradias.
Para reconquistar a população, é necessário, segundo Renato, que o governo tenha Lula como principal porta-voz e que seja capaz de explicar à população o que está acontecendo no país. Para ele, existe uma crise de perspectiva no Brasil, em que os brasileiros não sabem o rumo do país. As taxas sobre a economia reforçam essa visão.
Segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço dos alimentos subiu em 5,4%, superando a inflação de 4,83% em 2024. No dia 13 de abril, uma pesquisa divulgada pelo Datafolha informou que, após o aumento da taxa de inflação, 58% dos brasileiros passaram a tomar medidas que diminuíssem o consumo de alimentos e os gastos.
Os dados apontam que oito a cada dez entrevistados adotaram mudanças de hábitos que incentivam a diminuição do consumo. Entre as novas medidas estão sair menos para restaurantes, trocar as marcas dos produtos por aquelas mais baratas e diminuir o consumo de bebidas. Para 54% dos brasileiros, o presidente é totalmente responsável pela diminuição do poder de compra, 29% acredita que o governo apresenta uma parcela da culpa, enquanto 14% não atribui a responsabilidade ao Estado.
A taxação do PIX
No primeiro dia do ano de 2025, as polêmicas sobre a taxação do PIX começaram a ganhar força na internet, dando início a criação de milhares de fake news. Uma semana depois, o Ministério da Fazenda divulgou uma nota alegando que a nova regra não implicaria no aumento de tributação.
Dois dias após o pronunciamento, um vídeo criado pela Inteligência Artificial manipulava a imagem do ministro Fernando Haddad. No vídeo, que foi intensamente divulgado nas redes, Haddad supostamente alega que o governo passaria a taxar o PIX, mulheres grávidas e até mesmo animais de estimação.
O Ministro alegou, por meio de suas redes sociais, que “imposto sobre Pix. Mentira. Imposto sobre quem compra dólar. Mentira. Imposto sobre quem tem animal de estimação. Mentira.” No vídeo, afirmou que a única informação verdadeira que estava circulando era de que as casas de apostas online pagariam impostos, assim como outras empresas.
Mesmo com o ministro e o governo desmentindo a taxação, a polêmica cresceu cada vez mais, principalmente entre a oposição. O deputado federal Nikolas Ferreira, do Partido Liberal (PL), publicou um vídeo que atingiu quase 300 milhões de visualizações, alegando que havia grandes chances do PIX ser taxado e que o governo estava enganando a população.
Diante da confusão, o governo decidiu revogar a decisão da Receita Federal no dia 15 de janeiro, mas a população já estava insatisfeita com as atitudes do presidente Lula. Após esse episódio, a desconfiança com o governo aumentou e, com isso, a rejeição também.
Fortalecimento da oposição e a desinformação
No evento de comemoração dos 45 anos do PT, o presidente Lula reconheceu falhas na comunicação entre o próprio partido e a população. Em seu discurso, o presidente alegou que “o ministério do meu governo não sabe o que nós estamos fazendo. Ora, se o ministério não sabe, o povo, muito menos. Então, companheiros, agora vocês vão saber”.
Em 2023, o UOL realizou um levantamento em colaboração com a Agência Pública, que busca impedir a desinformação no continente. Os dados da pesquisa apontam que 49% dos políticos que foram denunciados ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela criação de fake news estão ligados ao PL, partido de extrema direita, ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e o principal opositor do PT.
O ex-presidente foi multado por alegar que Lula estava ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e tornou-se inelegível por oito anos após duvidar da credibilidade das urnas eletrônicas, devido à sua derrota nas eleições de 2022.
Lula: de 2003 a 2011
O primeiro mandato de Lula começou em janeiro de 2003 e terminou em janeiro de 2011, após se reeleger em 2006. Seu primeiro governo foi marcado por políticas fiscais restritivas, o que contribuiu com o controle da inflação, com o crescimento econômico e com a criação de 11 milhões de empregos.
Ao longo dos dois mandatos, o desemprego caiu 7%, 22 milhões de brasileiros saíram da pobreza extrema e 25 milhões integraram a classe média. Antes da crise mundial que ocorreu em 2008, o Brasil aumentou o comércio exterior e sua economia mundial.
No final do primeiro governo, aconteceu o escândalo do Mensalão, marcado pela corrupção. Foi descoberto que alguns associados ao PT compravam parlamentares para conquistar apoio nos projetos do Legislativo. Como o presidente não estava entre os denunciados, não foi prejudicado durante as eleições, mas a visão do partido para alguns eleitores começou a ser prejudicada.
Após 8 anos de governo, 83% dos brasileiros avaliaram a gestão de Lula de maneira positiva, tornando-se o presidente a alcançar a marca de aprovação mais alta da história das pesquisas do Datafolha.
Lula: de 2023 a 2026
O Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial apontou que a insegurança alimentar no país reduziu em 85%. Em 2022, 17 milhões de brasileiros enfrentaram a fome no país. No ano passado, foi divulgado que esse número caiu para 2 milhões e meio.
Em fevereiro de 2025, a taxa de desemprego no Brasil alcançou a marca de 6,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar dessa porcentagem ter crescido em comparação com os últimos meses, durante o terceiro governo de Lula a taxa de desemprego alcançou seu menor marco na história do país (6,15%), em novembro de 2024.
O IBGE apontou que, em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 3,4%, sendo considerado o maior crescimento desde 2021. Os setores de serviços, a indústria e o consumo familiar contribuíram com esse crescimento, enquanto a agropecuária enfrentou uma diminuição na contribuição. O Banco Central (BC) alega que, entretanto, em 2025, o crescimento do PIB será de apenas 1,9% e o principal setor será o da agropecuária, ocorrendo uma diminuição nos serviços e nas indústrias.
Para Renato Meirelles, a criação de uma sociedade polarizada e a desconexão entre os governantes e os governados são os principais motivos que explicam as diferenças entre os níveis de popularidade do presidente entre os dois primeiros mandatos e o atual.
“Esse (governo) Lula 3 vem depois das manifestações de 2013, do impeachment da Dilma, de uma sociedade já muito polarizada.”
Renato Meirelles
Renato afirma que “existia uma expectativa do Lula acabar com a polarização política, que afetava, principalmente, as famílias. Ele não foi capaz de diminuir e nem de fazer um discurso que unisse o Brasil, mas que falasse que ele entende o povo.” Também alegou que, para ter o aumento da popularidade, o presidente deve se conectar com a população, assim como fazia antigamente.
Os dois lados da moeda
Para o deputado estadual do estado de São Paulo, Tenente Coimbra (PL), em entrevista à Jornalismo Júnior, a avaliação do governo é considerada desastrosa e é um reflexo da incapacidade do presidente de gerir politicamente e de apaziguar o país. Ele alega que a administração atual é caótica e que tenta imitar o que fez nas gestões anteriores, que se tratava de um outro momento mundial e de comunicação. Para Coimbra, o presidente não consegue se comunicar e entender a crise global atual.
Mesmo após o Ministério da Fazenda ter desmentido a notícia, o deputado ainda diz que a polêmica sobre o PIX é um fato e que a questão não estava voltada para a taxação, e sim para a fiscalização que seria cobrado no imposto de renda. O Tenente afirma que “é um pensamento do governo de sempre aumentar a arrecadação e de diminuir os custos. Isso passa por vários fatores, inclusive o aumento de impostos.” Ele alega que essa ação é prejudicial para a economia, interferindo na reeleição.
O ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte do Brasil, Márcio França (PSB), alegou para a Jornalismo Júnior que 10% da população se considera de direita, outros 10% de esquerda e 80% está no centro, sem uma determinação de partido. Para ele, a reeleição é muito mais fácil de se ganhar e que, sem o Bolsonaro como candidato, o processo para a vitória de Lula não será complicado, como em 2022.
“O presidente Lula foi preso e saiu de uma imensa campanha contra ele e conseguiu ganhar as eleições na época do Bolsonaro.”
Márcio França
As eleições de 2026
O primeiro turno das eleições de 2026 está previsto para acontecer no dia 4 de outubro de 2026. Caso o primeiro colocado não apresente mais de 50% dos votos válidos, ocorrerá o segundo turno, que acontece no dia 25 de outubro.
O próximo passo do PT é tentar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, caso vença, irá para o seu quarto mandato. O principal concorrente do Partido dos Trabalhadores durante as eleições de 2022 era o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que tornou-se inelegível até 2030, através da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por abuso de poder político. O ex-presidente também tornou-se réu após ser acusado de liderar um golpe de Estado, contra a vitória de Lula.
Bolsonaro ainda acredita ser capaz de se candidatar em 2026. No dia 11 de março, ao participar de uma coletiva de imprensa em Brasília, Bolsonaro afirmou que “por enquanto, eu sou candidato.” Também afirmou que não pensa em um substituto para apoiar durante as eleições.
“Se não for o Jair, vai ser o Messias. Quer um terceiro nome? Bolsonaro.”
Jair Messias Bolsonaro
No início de abril, a Quaest divulgou resultados da pesquisa que aponta os nomes principais para substituir Bolsonaro. O mais citado foi o governador de São Paulo Tarcisio de Freitas (15%), seguido pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (14%) e por Pablo Marçal (11%).
O presidente do Instituto Locomotiva afirma que, no cenário atual, a principal aposta é que Lula irá se reeleger, já que o único candidato que pode combater Lula seria Bolsonaro. Para Renato, existem candidatos fortes, mas, entre os nomes propostos pela direita, nenhum possui tanta força popular quanto Lula.
Já para o Tenente Coimbra, todos os nomes apontados pela oposição são capazes de vencer o Lula nas eleições, como Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro (PL). A principal esperança do partido é que Bolsonaro seja capaz de se eleger em 2026.