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Apesar do nome, Todo o Dinheiro do Mundo parece um filme barato

Todo o Dinheiro do Mundo (All the Money in the World, 2017) só recebeu uma indicação ao Oscar — Christopher Plummer, como melhor ator coadjuvante. Assim, vêm à mente duas razões pelas quais alguém escolheria assistir a esse filme, e não a outro mais laureado, em plena temporada de premiações: ou pela fidelidade ao diretor Ridley …

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Todo o Dinheiro do Mundo (All the Money in the World, 2017) só recebeu uma indicação ao Oscar — Christopher Plummer, como melhor ator coadjuvante. Assim, vêm à mente duas razões pelas quais alguém escolheria assistir a esse filme, e não a outro mais laureado, em plena temporada de premiações: ou pela fidelidade ao diretor Ridley Scott, canonizado por seu Blade Runner (1982), ou pela curiosidade quanto à logística da substituição de Kevin Spacey, apagado de última hora em meio a uma avalanche de acusações de assédio.

Nenhuma dessas razões vale a pena, porque não é um filme particularmente bom. Comecemos pela história.

ATENÇÃO: A resenha a seguir contém spoilers. Clique no trecho borrado para revelá-lo.

É 1973, em Roma. O bon-vivant adolescente Paul Getty III (Charlie Plummer), neto do bilionário do petróleo J. Paul Getty (Christopher Plummer), é sequestrado por mafiosos na Itália. Ciente da riqueza do avô, a gangue cobra US$ 17 milhões pelo resgate, que Getty se recusa a pagar.

Em vez de ceder, ele apela a seu braço direito em questões de segurança, o ex-espião Fletcher Chace (Mark Walhberg). Eles passam o filme em disputa com Gail (Michelle Williams), a mãe do rapaz, sobre o que fazer a seguir.

Todo o Dinheiro do Mundo é disposto como uma comédia de erros do capitalismo: em dado momento, Getty avô chega a propor que o resgate seja pago integralmente com sonegação de impostos.

Todo o Dinheiro do Mundo
Divulgação/Sony Pictures Entertainment

Os cortes no tempo e no espaço constantes — uma hora estamos em Roma, outra estamos em Nova York, e depois no Marrocos nos anos 60 — não só irritam e distraem, como dificultam a imersão do espectador. Boa parte do filme é estruturada como colcha de retalhos de cenas curtas que tentam contextualizar o enredo; algumas não chegam a ter um minuto de duração. Apesar de abundantes, a maioria delas não acrescenta nada.

Flashbacks, escrita na tela e narração em off completam o festival de muletas narrativas que tornam o longa superficial e pouco envolvente.

O roteiro, talvez a maior deficiência do filme, é um capítulo à parte. Didático demais, usa e abusa de clichês. A maioria dos personagens e situações foram caricaturizadas e nenhum deles parece verossímil — ainda que a história, como somos informados no início do filme, seja verídica.

Frases-chavão, como “Ninguém está acima do dinheiro” e “Você não é mais uma pessoa, é um símbolo” são distribuídas periodicamente ao longo do filme e dão a impressão de que estamos assistindo a um trailer expandido — não a um longa metragem. Picarescos ao extremo, os vilões italianos parecem saídos de uma paródia do Monty Python.

Visualmente, o roteiro se transpõe em imagens excessivamente literais, [spoiler]a exemplo do sangue esguichando da orelha de Getty neto quando os mafiosos decidem cortá-la para elevar sua demanda. Era para ser um ponto crítico no thriller, mas pareceu tosco e barato.[/spoiler] Paradoxalmente, a estética opulenta se destaca por ser a única coisa consistente em toda a obra.

Todo o Dinheiro do Mundo
Divulgação/Sony Pictures Entertainment

O aspecto mais escandaloso do filme inteiro é o que não entrou em cena. Afinal, era Kevin Spacey quem deveria interpretar o magnata Getty — e que, como sabemos, foi apagado digitalmente da película original e substituído por Christopher Plummer a um mês da estreia, numa das derrocadas mais constrangedoras e caras que o efeito Weinstein ocasionou. Veteraníssimo, Plummer é um bom substituto, mas não consegue elevar o filme por si só.

Aos 37 anos, Michelle Williams, por sua vez, adentrou oficialmente a faixa de idade na qual as atrizes de Hollywood deixam de interpretar protagonistas, musas e interesses românticos e passam a ser mães, filme após filme. Ela preenche bem o arquétipo de mulher amarga, mas não o supera

Já Mark Walhberg, tão bom ator quanto foi rapper, está confortável no papel habitual de machão. Seu personagem é essencialmente inútil para a trama e poderia ter uma participação muito mais enxuta.

O resultado final é um filme raso demais para ser drama e narrativo demais para ser ação. Não à toa, foi esnobado pelo Oscar.

Todo o Dinheiro do Mundo estreia nesta quinta-feira, 1º de fevereiro. Confira o trailer:

por Laura Castanho
laura.castanho.c@gmail.com

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