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Após dois anos desde o último álbum, Suck It And See, os Arctic Monkeys finalmente lançaram o 5º álbum da carreira: AM.
A banda, que dá um salto de estilo e nível de produção musical a cada álbum, não deixou de surpreender a crítica com AM. Desde o rockzinho de garagem do Whatever People Say I Am That’s What I’m Not (2005), avançando para o típico indie-rock de Favourite Worst Nightmare (2007), passando pela psicodelia melancólica e curiosa de Humbug (2009) até chegar à nostalgia de viagens de moto pela costa oeste norte-americana de Suck It And See (2011), AM foi ainda mais adiante, com influências proeminentes de diferenciados estilos musicais (como R&B e hip-hop) e de grandes bandas da história da música.

Com 12 faixas e 4 singles, o álbum contou com a participação especial de Josh Homme, frontman de Queens of the Stone Age, banda que também teve seu álbum lançado esse ano, o …Like Clockwork. O vocalista e compositor canta nos últimos 30 segundos da canção Knee Socks, que merece destaque dentre as faixas do álbum. Não é a primeira vez que Homme colabora com os Monkeys; em 2009, já participou na produção do 3º álbum dos rapazes de Sheffield – Humbug -, assim como James Ford, produtor de AM, já produz os álbuns da banda desde 2007.
Descrito pelo próprio Homme como “a really cool, sexy after-midnight record”, AM ganhou esse nome como referência ao álbum VU (1969), da banda The Velvet Underground, ativa durante décadas de 1960 e 70, que tinha como frontman o recém-falecido e lendário Lou Reed. De fato, a influência de The Velvet Underground é forte, especialmente na guitarra psicodélica que é dedilhada na aconhegante canção Mad Sounds.
Outro sentido para AM é “amplitude modulation“, isto é, “modulação em amplitude” – uma forma de transmissão de ondas de rádio. Daí a origem da arte do álbum: uma representação gráfica ilustrativa de ondas sonoras que, sutilmente, formam as letras A e M no meio da sequência de ondulações.
Outra canção que merece destaque, além das propagadíssimas Do I Wanna Know e Why’d You Only Call Me When You’re High?, é Fireside. Arriscada na percussão, de ritmo que sobe e desce (quase imitando as ondas da própria arte do álbum), remete muito ao trabalho da banda The Smiths, dos anos 1980, a qual Alex Turner (frontman dos Arctic Monkeys) já declarou como uma de suas principais influências para escrever e compor.

A canção que fecha o álbum, I Wanna Be Yours, o faz com excelência. A letra, que, na verdade, é um poema dos anos 80 do “punk-poet” britânico John Cooper Clarke, diminui a velocidade adquirida pelo encadeamento de uma música após a outra, que se desenvolve ao longo do álbum e culmina na faixa anterior (Knee Socks). Com traços de Cornerstone, do álbum Humbug, I Wanna Be Yours nos embala numa profunda declaração de amor, “at least as deep as the Pacific Ocean” (no mínimo tão profunda quanto o oceano Pacífico).
A evolução que se vê nos Arctic Monkeys, no passar de cada álbum, é realmente impressionante. Desde os primórdios em High Green, Sheffield – cheios de acne e sem nenhuma perspectiva de fama – até as jaquetas de couro, óculos escuros e penteado teddy boy na Califórnia de hoje. Há quem sinta nostalgia dos tempos de Whatever People Say I Am That’s What I’m Not (e como não sentir?), mas é inegável que esse novo ciclo dos Arctic Monkeys mostra a todos que a banda tem potencial e muita capacidade para inovar e surpreender a cada single, EP e disco lançado. Será que o próximo álbum conseguirá saciar as expectativas dos fãs e da crítica sedenta? Difícil imaginar e impossível saber… até lá, nos contentamos, de barriga cheia, com esse prato cheio que é AM.
Por Camilla Cossermeli
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