Ben Affleck aproveita os golpes e músculos adquiridos em Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016) e aparece como um anti-herói em O Contador (The Accountant, 2016). Portador da Síndrome de Asperger, um transtorno mental que transforma seus pacientes em especialistas em algum tipo de atividade, Affleck é um exímio contador e trabalha para clientelas perigosas, como responsáveis por cartéis de drogas e chefões da máfia internacional. O outro sintoma de sua condição é a dificuldade em criar laços sociais, sendo algo tanto positivo quanto negativo durante a trama.
Sob o pseudônimo de Christian Wolff, o protagonista recebe a proposta de decifrar as perdas financeiras de uma grande empresa. Conforme avança em seus estudos, no entanto, Wolff se vê no centro de perigosas negociações e esquemas corruptos, ao passo que autoridades norte-americanas estão em seu encalço para puni-lo pelos serviços prestados a criminosos. O personagem necessita, portanto, mostrar mais uma consequência da sua síndrome: maestria com artes marciais e armas de fogo – ingredientes essenciais para um filme de ação como esse.
O elenco conta ainda com Anna Kendrick e J. K. Simmons, profissionais renomados e com ótimos trabalhos na filmografia. Kendrick é Dana Cummings, a contadora responsável por descobrir o rombo nas contas da firma que contratou Wolff, e funciona como a válvula de escape para o lado anti-social de seu parceiro. Simmons vive Raymond King, um oficial do Tesouro à beira da aposentadoria e chefe da busca por Christian Wolff.
Mesmo com tantas estrelas, O Contador fracassa em desenvolver seus personagens de maneira satisfatória. A Síndrome de Asperger é meramente um pretexto para as incríveis habilidades de Affleck, sendo abordada negativamente em pouquíssimos momentos e servindo até mesmo como ferramenta humorística – um recurso problemático por se tratar de um transtorno sério. Dana é apenas o par “quase-romântico” de Christian e não tem nenhuma história ou característica que agregue ao enredo, ficando somente na superficialidade. Raymond possui uma interessante carreira como oficial, mas ela é abordada somente nos momentos finais do filme e de maneira muito rápida, deixando o espectador com vontade de mais.
O filme tem como ponto positivo a atuação de Ben Affleck, que consegue transmitir muito bem a inexpressividade de Christian Wolff, sorrindo apenas uma vez nos 128 minutos de rodagem. A inserção de cenas de um lar para crianças autistas também merece ser citada: sem ela, não haveria nenhuma conscientização sobre a Síndrome de Asperger ou os outros transtornos mentais retratados. Ainda assim, apesar de uma boa premissa e do trailer com referências ao clássico Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind, 2001), O Contador não é nada além de porradaria e tiros de metralhadora escondidos sob um fraco roteiro.
O Contador estreia dia 20 de outubro nos cinemas. Confira o trailer:
por Breno Deolindo
breno.deolindo.silva@gmail.com