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Com altos e baixos, A Grande Jogada marca estreia de Aaron Sorkin na direção

No cinema hollywoodiano, em que a maior parte da fama fica reservada para os diretores, atores e atrizes, Aaron Sorkin é um dos poucos que conseguiu construir uma carreira de sucesso exclusivamente como roteirista. Responsável pelos roteiros de filmes como Steve Jobs (2015), O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball, 2011) e A Rede Social …

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No cinema hollywoodiano, em que a maior parte da fama fica reservada para os diretores, atores e atrizes, Aaron Sorkin é um dos poucos que conseguiu construir uma carreira de sucesso exclusivamente como roteirista. Responsável pelos roteiros de filmes como Steve Jobs (2015), O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball, 2011) e A Rede Social (The Social Network, 2010), ele é facilmente reconhecido por seus diálogos rápidos, cheios de informações técnicas sobre diversos assuntos e protagonizados por personagens excepcionalmente inteligentes. Todas essas características são mantidas em A Grande Jogada (Molly’s Game, 2017), com a diferença de que, agora, pela primeira vez Sorkin fica no comando também da direção.

O filme é sobre a história de Molly Bloom (Jessica Chastain), uma ex-esquiadora profissional que abandonou o esporte após um acidente. Um tanto rebelde e muito perspicaz, Molly trocou a vida de atleta por um emprego como assistente em jogos de pôquer super exclusivos, dos quais participavam atores famosos, banqueiros e grandes empresários. Rapidamente ela subiu no ramo e tornou-se organizadora das partidas, faturando milhões e ficando conhecida como a “princesa do pôquer”.

A Grande Jogada
(Divulgação/Diamond Films)

Não durou muito. Graças a profissão legalmente questionável, Molly virou alvo das autoridades e perdeu todo o seu dinheiro. Na trama, acompanhamos ao mesmo tempo a chegada da personagem ao topo e a sua derrocada, quando ela precisa recorrer ao advogado Charley Jaffey (Idris Elba) para evitar ser condenada a anos de prisão.

Como diretor iniciante, Sorkin conduz o filme de maneira um tanto contida, sem arriscar muito. Uma vez que em quase todas as cenas o que mais importa é o diálogo, a maioria delas segue o padrão simples de manter a câmera estática enquanto os atores falam e se movimentam, de modo quase teatral. Os poucos momentos mais ousados, como os de Molly esquiando, são prejudicados por uma pós-produção um pouco pobre, que faz imaginar que o filme não teve orçamento muito alto para investir em efeitos especiais mais elaborados.

Como era de esperar, o que se destaca em A Grande Jogada é justamente o roteiro. É graças a ele que a produção tem ótimo ritmo, que instiga o espectador a ficar atento aos mínimos detalhes para não perder o que se passa na tela. O plano de fundo construído, de que os homens mais poderosos dos EUA (às vezes do mundo) encontram-se e tomam decisões em mesas de pôquer, é interessante até mesmo para aqueles que sequer sabem como o jogo funciona. Alguns destes personagens têm grande importância para o desenvolvimento de Molly na narrativa, e seus respectivos atores, como Michael Cera e Chris O’Dowd, fazem deles figuras ao mesmo tempo perigosas e engraçadas.

A Grande Jogada
(Divulgação/Diamond Films)

Outro item essencial para que o filme funcione é a atuação de Jessica Chastain. Acostumada a interpretar anti-heroínas como as de Armas na Mesa (Miss Sloane, 2016) e A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012), ela dá vida à Molly Bloom com aparente facilidade, e enquanto seu companheiro de cena Idris Elba escorrega em alguns momentos, Chastain recita os longos monólogos de Sorkin como se fosse seu modo natural de conversar no dia a dia. Idris, apesar dos deslizes, esbanja simpatia na pele de Charlie Jaffey, e é uma pena que o personagem do advogado não tenha um desenvolvimento pessoal mais trabalhado (ao mesmo tempo, chega a ser cômico observar que o galã da história existe completamente em função da protagonista feminina, já que estamos tão acostumados a ver o contrário).

Ao longo da carreira, o roteirista foi questionado algumas vezes pelo modo como construía suas personagens femininas. Principalmente durante a transmissão da série de TV The Newsroom (2012-2014), parte do público e da crítica afirmava que, apesar de seus roteiros contarem com mulheres independentes e bem sucedidas, elas frequentemente eram colocadas em situações em que precisavam de um homem para salvá-las, e com isso acabavam ficando em segundo plano. Apesar de fazer de tudo para corrigir esse problema em A Grande Jogada, o último ato acaba incorrendo no mesmo erro. Ao trazer à tona o problemático pai de Molly (interpretado por Kevin Costner), além de dar ao filme um desnecessário toque melodramático, Sorkin novamente coloca um homem com a função de “ensinar uma lição” à protagonista mulher, numa cena de revirar os olhos que exala mansplaining.

Tendo tudo para estrear na direção com uma obra satisfatória e digna de poucas considerações negativas, é uma pena que Sorkin acabe colocando isso a perder nos momentos finais com falhas que já cometeu antes, mas aparentemente não aprendeu a contornar. Ainda assim, de forma geral A Grande Jogada é bom o suficiente para satisfazer o público, juntando todas as principais características de seu realizador ‒ as boas e as ruins. Fica a curiosidade a respeito do que Sorkin fará a seguir, mas também a sensação de que, nas mãos de diretores como David Fincher ou Danny Boyle, seus roteiros são mais bem aproveitados.

O filme chega aos cinemas brasileiros na quinta, dia 22 de fevereiro. Confira o trailer abaixo:

por Matheus Souza
souzamatheusmss@gmail.com

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