Por Davi Milani (davimilanip@usp.br)
Apesar da renovação do elenco, com diversas novas peças, o Verdão é extremamente organizado taticamente e usufrui de todo o repertório construído pelo técnico português Abel Ferreira ao longo de quatro anos de trabalho. Confira aqui mais informações sobre os confrontos do Alviverde e sobre como chega o time para a Copa do Mundo de Clubes da FIFA.
Trajetória até os Estados Unidos
O Palmeiras carimbou o passaporte para o campeonato na edição de 2021 da CONMEBOL Libertadores da América, quando derrotou o Flamengo por 2 a 1 em Montevidéu, Uruguai, na final da competição. Na fase de grupos, a equipe se classificou em primeiro lugar, diante de times como o Independiente del Valle (Equador) e Defensa y Justicia (Argentina). Até então atual campeão da competição, a equipe chegou como favorita novamente para a fase de mata-mata.
Nas oitavas de final, venceu a Universidad Católica pelo placar mínimo de 1 a 0, dentro e fora de casa. Nas quartas, enfrentou o rival São Paulo, que derrotou com folga: 4 a 1 no placar agregado. Na semifinal, o Alviverde empatou em saldo com o Atlético Mineiro, mas se classificou pela extinta regra do gol fora de casa. Na final, após jogo duro com direito à prorrogação, o atacante Deyverson aproveitou a falha do então jogador rubro-negro Andreas Pereira para selar o placar: 2 a 1. O Palmeiras, assim, conquistou o bicampeonato consecutivo da Libertadores da América.
Desde a chegada de Abel Ferreira ao clube, o Palmeiras nunca ficou fora do mata-mata da Libertadores. Nas últimas cinco edições, a equipe alcançou duas semifinais e dois títulos. O português já se tornou o técnico com mais títulos da história do Palestra, com dez títulos conquistados até o momento. Com contrato até o final de 2027, o projeto palmeirense com Abel trouxe de volta o protagonismo ao time, que se tornou sinônimo de consistência, sempre favorito em todas as competições.
‘Cabeça fria, coração quente’: como joga o Palmeiras
O Palmeiras, na prancheta, é um time organizado em um 4-2-3-1 ou em um 4-3-3, mas, na prática, é mais complexo que isso. Abel é um técnico de bases posicionais, como a maioria dos técnicos de origem portuguesa. A ideia valoriza a posse de bola e a disposição dos jogadores, de forma que eles ocupem espaços específicos, o que gera superioridade e possibilita a progressão do ataque. Para isso, todos os jogadores precisam estar em sintonia, com afinco aos espaços que devem ser ocupados, sempre com a consideração da posição dos companheiros, adversários e da bola. Isso exige jogadores qualificados e um trabalho técnico intensivo, duas coisas em que o Verdão se destaca.
Escalação com base nos últimos jogos do Palmeiras [Arte: Davi Milani/buildlineup.com]
Um padrão que se mantém durante toda a passagem de Abel é o da saída de bola: o lateral-esquerdo ataca a profundidade, enquanto o lateral-direito baixa as linhas, onde atua praticamente como um terceiro zagueiro. O português sempre prezou, também, por zagueiros de construção e condução, com bons passes e capacidade de sair com a bola nos pés. Na zona ofensiva, o time se organiza em maior amplitude, aproveitando as alas do campo, o que gera uma vantagem de tempo e espaço, além de beneficiar a velocidade e habilidade individual dos ponteiros do time.
Muitas vezes organizado no ataque em um 3-1-5-1 ou em um 3-4-3 com um losango no meio, o Alviverde consegue penalizar até mesmo as equipes mais defensivas. Com essa estratégia, além do dinamismo no ataque, a presença de até seis jogadores na zona ofensiva permite que o time pressione o adversário quando perdem a posse, além de sufocar os jogadores do oponente, justamente por povoar o último terço do campo. Dispondo de tantos jogadores para atrair a marcação e fixar a atenção da zaga, a movimentação cria oportunidades para o atacante realizar infiltrações, atacar a profundidade e marcar gols para a equipe.
A superioridade numérica com seis jogadores no ataque permite criar vantagem contra linhas de quatro ou cinco jogadores [Arte: Davi Milani/buildlineup.com]
Esse futebol organizado só foi possível pela continuidade do trabalho de Abel Ferreira, que adquiriu um conhecimento profundo do clube e de seu elenco. Para o treinador, o momento defensivo começa no ataque: com um time agressivo, que ocupa o último terço do gramado, os jogadores atuam para tirar linhas de passe e encurralar o adversário, o que força conexões longas e passes complexos. Com adaptabilidade e coesão como bases de seu trabalho, a jogada mais importante é sempre a seguinte, e a calma para jogar mesmo em situações adversas construiu a potência futebolística que o Palmeiras é hoje.
Principais destaques
Raphael Veiga – O cérebro
O meia de 29 anos vem há tempos sendo decisivo para o Palmeiras, onde conquistou a convocação para a Seleção Brasileira. Um dos capitães da equipe, exerce o papel de um camisa dez, apesar da numeração 23 em sua camisa. Com uma inteligência rara e muito talento, o jogador é um especialista: bate faltas com excelência, é um exímio batedor de pênaltis, e organiza o time como poucos fazem no futebol brasileiro. Veiga voltou de lesão, e é uma das expectativas do torcedor para a competição.
São 105 gols em mais de 305 jogos com a camisa alviverde [Imagem: Reprodução/X:@Palmeiras]
Estêvão – O talento
Direto da Academia de Futebol, o jovem de apenas 18 anos conquistou a titularidade no time e desempenha um futebol que não se via no Brasil desde os tempos áureos de Neymar. Com dribles, velocidade, chutes de fora da área, Estêvão carrega a expectativa de palmeirenses e brasileiros, que esperam também vê-lo brilhar na seleção. O jovem vai para os Estados Unidos em sua última “dança” com a camisa do Verdão, já vendido para o Chelsea em uma das transferências mais caras do futebol brasileiro. Depois de Endrick, Vitor Reis, Gabriel Jesus, é a vez de Estêvão. Mais uma vez a base do Palmeiras abraça a responsabilidade, resolve e vence.
Estêvão integrará o elenco do Chelsea já na próxima temporada [Imagem: Reprodução/X:@Palmeiras]
Vitor Roque – O camisa nove
O Tigrinho fez história antes mesmo de entrar em campo pelo Alviverde: a maior compra já feita por um clube brasileiro em todos os tempos. Foram 25,5 milhões de euros para contratar o brasileiro de apenas 20 anos que pertencia ao Barcelona, clube em que não conseguiu se firmar. Há muito tempo a torcida palestrina pedia um atacante de origem, um camisa nove clássico que pudesse aproveitar a criatividade dos outros jogadores do Palmeiras. Roque é um atacante rápido, físico e possui o faro de gol necessário para honrar a camisa do clube. É esperado que o atleta ainda marque muitos gols, principalmente no Mundial de Clubes.
Roque possui três gols pelo clube até o momento [Imagem: Reprodução/X:@Palmeiras]
Expectativas para o Mundial
Uma contribuição para a expectativa do torcedor na competição — que já é alta, devido ao sucesso recente do clube — foi o sorteio dos grupos, que fez bem ao Palmeiras. Os adversários serão: Al-Ahly (Egito), FC Porto (Portugal) e o Inter Miami (EUA).
Contra diversos craques do futebol mundial, o Palmeiras tenta afastar de si a máxima de não ter tradição em campeonatos intercontinentais [Imagem: Reprodução/X:@FIFACWC]
Não há grupo fácil no torneio, mas se o alto escalão do esporte é o futebol europeu, existiam desafios maiores que o Porto. O time português na temporada atual apresenta a pior fase dos últimos cinco anos. O Inter Miami, time de Messi, joga em casa e é uma pedra no sapato das demais equipes do grupo, mas deve sofrer para manter a disputa pela classificação, principalmente pela diferença em exigência física entre as ligas. O Al-Ahly, um velho conhecido do Verdão, por sua vez, é um grande time do futebol africano, e não protagonizará um jogo fácil para o Palmeiras e os outros adversários.
Não há confronto fácil, mas o torcedor espera a classificação do Alviverde. E essa expectativa vem justamente da capacidade do time, dos feitos recentes: o Palmeiras se tornou sinônimo de conquistas na América do Sul e é um dos mais preparados para representar o Brasil nos Estados Unidos. O time estreia neste domingo (15) contra o Futebol Clube do Porto, e espera começar com o pé direito na competição.
*Foto de capa: [Reprodução/X:@Palmeiras]