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Cortando padrões: como Hugo Calderano mudou o cenário mundial do tênis de mesa

Brasileiro foi o primeiro mesa-tenista de fora da Europa e Ásia a vencer a Copa do Mundo da modalidade
Hugo Calderano segura seu troféu de campeão mundial do Tênis de Mesa
Por Hellen Indrigo Perez (hellenindrigoperez@usp.br)

Com uma raquete nas mãos e uma boa dose de agilidade, Hugo Calderano escreveu – mais uma vez – o seu nome na história do esporte internacional. No último dia 20 de abril, o atleta venceu a Copa do Mundo de Tênis de Mesa, torneio que incluiu alguns dos melhores jogadores mundiais da modalidade.

Hugo Calderano no lugar mais alto do pódio do torneio
Com 28 anos, Hugo também é tricampeão latino e atual tricampeão pan-americano. [Reprodução/Youtube/CazéTV]

O evento ocorre anualmente, reunindo 48 atletas em cada uma de suas categorias (individual masculino e feminino, por equipes masculino e feminino, e por equipes mistas). Os mesa-tenistas são convocados por seu desempenho em competições anteriores, e por suas posições no ranking mundial.

O começo

A primeira participação de Calderano em uma Copa do Mundo aconteceu em 2016, logo após chegar até as oitavas de final dos Jogos Olímpicos no mesmo ano, e igualar o recorde brasileiro da época na modalidade. Em uma estreia emocionante na Copa, Hugo chegou até as oitavas de final antes de ser eliminado.

Desde então, o atleta participou de outras cinco edições do torneio – que não aconteceu entre os anos de 2021 e 2023 –, ficando de fora apenas em 2017. Seu melhor desempenho até o momento havia sido em 2019, quando chegou às quartas de final. No ano de 2025, o atleta foi convocado para a sua sexta participação no evento, que aconteceu em Macau entre os dias 13 e 20 de abril. Dessa vez, algo histórico aconteceu: o brasileiro superou todos os adversários e voltou com o troféu para casa.

A campanha da vitória

Na primeira fase da Copa do Mundo, os mesa-tenistas são divididos em 16 grupos de três atletas, que competem entre si em disputas de quatro sets. Nessa etapa, Calderano venceu o japonês Yukiya Uda e o canadense Eugene Wang, ambos por 3 a 1. Como resultado, o brasileiro acabou em primeiro lugar no grupo, e se classificou para as oitavas de final.

Nesse estágio do torneio, os atletas restantes passam a disputar jogos eliminatórios de cinco sets. Nas oitavas de final, Hugo Calderano derrotou o japonês Hinoto Shinozuka por 4 a 1. Já nas quartas de final, o mesa-tenista enfrentou Tomokazu Harimoto, também japonês, que ocupava a terceira posição no ranking mundial de melhores jogadores da modalidade no momento da partida. Hugo, até então, estava em quinto lugar no ranking. Porém, Calderano mostrou, mais uma vez, o seu incrível talento, e derrotou o adversário por 4 a 1, superando recordes: pela primeira vez, um brasileiro alcançava a semifinal da Copa do Mundo de Tênis de Mesa.

Houve mais um grande desafio para chegar até a final: Hugo precisou enfrentar o chinês Wang Chuqin, segundo colocado no ranking mundial. A partida foi desafiadora, e o clima era de tensão quando Chuqin abriu uma diferença de 3 a 1 contra o brasileiro. Porém, Hugo Calderano não desistiu e venceu mais três sets seguidos, levando a vitória de virada por 4 a 3.

O último passo para o sonho

Na grande final, o duelo foi contra o atual líder do ranking mundial, o chinês Lin Shidong, de apenas 20 anos. Assim como Hugo, Shidong também vinha de uma sequência de cinco vitórias no campeonato, e contava com a presença da torcida chinesa a seu favor.

No primeiro set da partida, Lin começou mais confiante e abriu a pontuação. Calderano até tentou quebrar a defesa do adversário e manter um ritmo de pontos, mas não conseguiu levar a melhor: executando contra-ataques velozes, o chinês venceu por um placar de 11 a 6 e abriu vantagem contra o brasileiro.

O início do segundo set trouxe um clima diferente: Hugo voltou mais agressivo para o jogo e adaptou-se melhor ao estilo do adversário ao atacar de forma certeira. Os primeiros pontos foram alternados entre os atletas, em uma disputa acirrada. O brasileiro conseguiu abrir uma vantagem de 6 a 4, mas o chinês buscou o empate novamente. O placar marcava 6 a 6 em Macau quando Hugo Calderano fez história: com uma sequência de pontos, o brasileiro conseguiu vencer por 11 a 7.

No terceiro set, o ritmo da competição atingiu um ponto alto: a velocidade e a força dos ataques tornaram-se mais desafiadores, mais decisivos. A cena fazia jus à ideia de uma batalha entre os melhores do mundo, e terminou de modo favorável: 11 a 9 para Calderano.

A confiança trazida pela liderança fez bem: Shidong teve poucas chances no quarto set. O adversário enfrentou dificuldades para acompanhar a movimentação de Hugo, e foi vencido por um placar de 11 a 4, que deixou o brasileiro mais perto do título. Quando Hugo Calderano abriu uma vantagem de 5 a 1 no quinto set, o chinês até tentou uma virada, mas não teve jeito: o brasileiro provou que a garra vem junto com o uniforme verde e amarelo e venceu novamente, dessa vez por 11 a 5.  E aí, foi só emoção.

Momento da vitória de Hugo Calderano, em que o atleta se deita no chão sorrindo
Recebendo suporte do programa Bolsa Atleta há quase quinze anos, Hugo se tornou um exemplo dos frutos que o apoio ao esporte nacional pode render. [Reprodução/Youtube/CazéTV]

O verde e amarelo marcado na história

A imagem de Hugo Calderano no chão, depois de marcar o ponto que o consagrou campeão da Copa do Mundo, emocionou o Brasil. Mais do que apenas um título, a conquista representou um ponto de virada para a história do esporte: o brasileiro foi o primeiro mesa-tenista de fora da Ásia e Europa a ganhar a Copa do Mundo de Tênis de Mesa. Além disso, fez uma modalidade pouco reconhecida no país se tornar um dos assuntos mais comentados nos últimos dias.

E não foi só a imprensa nacional que passou a rasgar elogios para Calderano: o campeão também foi bem falado na mídia chinesa. O Jiefang Daily,  jornal do Partido Comunista da China do Comitê de Xangai, afirmou que “embora a seleção chinesa tenha perdido o campeonato, devemos agradecer (a Hugo), porque ele fez muitas crianças brasileiras pegarem em raquetes”.

Apesar dos diversos comentários positivos sobre Hugo na mídia chinesa, a vitória do brasileiro pareceu abalar a estrutura do esporte no país asiático. Alguns dias após a final do torneio, o diretor da Associação Chinesa de Tênis de Mesa, Liu Guoliang, renunciou ao cargo, demonstrando uma certa instabilidade causada pela quebra do domínio chinês sobre a modalidade.

Bandeira brasileira erguida acima de três bandeiras chinesas, na ordem do pódio oficial da competição de 2025
Desde 2003 o campeonato teve 20 edições, e 16 delas foram vencidas por atletas chineses. [Reprodução/Youtube/CazéTV]

E não para por aí! O desempenho excelente também colocou Hugo Calderano de volta na terceira posição do ranking mundial de melhores jogadores da modalidade, posição que ele já havia atingido por algumas semanas em 2022. Para alcançar o pódio, o mesa-tenista subiu duas posições, saindo do quinto lugar e assumindo a posição que pertencia à Tomokazu Harimoto, seu adversário nas quartas de final.

O ranking é calculado de acordo com um sistema fixo de pontuações: ou seja, cada competição oficial do esporte tem uma certa quantidade de pontos definidos para cada uma das possibilidades finais de classificação. O vencedor de cada torneio é quem soma mais pontos no ranking, sendo seguido pelo vice-campeão, e assim por diante. Quanto mais relevante é a competição, maiores são os valores dos pontos atribuídos a ela.

Esses pontos têm a validade de um ano, o que faz com que os mesa-tenistas tenham que se manter assíduos nas competições para manter suas posições de destaque no ranking. Além disso, são considerados apenas os oito melhores resultados de cada atleta neste período de 12 meses, enquanto os demais pontos são descartados.

E depois do ouro, o que vem?

Depois de uma conquista tão importante, é difícil deixar a alegria de lado e voltar para a rotina. Mas não se engane: Hugo já está focado nos próximos desafios. No último domingo (27), ele representou o Liebherr Ochsenhausen – clube da Alemanha, pelo qual irá competir apenas até o término dos atuais compromissos – na semifinal da Tischtennis Bundesliga, o Campeonato Alemão de Tênis de Mesa. Considerado o mesa-tenista com a melhor campanha na temporada alemã, Hugo colaborou para levar a equipe à final do campeonato pela primeira vez em cinco anos. A disputa pelo título será contra o Borussia Düsseldorf, no dia 15 de junho.

Hugo também está se preparando para o próximo evento mundial. A partir do dia 17 de maio, ele tem um compromisso marcado em Doha, capital do Catar: trata-se do Campeonato Mundial, mais uma chance de trazer um troféu para casa. O torneio acontece todos os anos, mas de forma alternada: em anos pares, ocorrem as disputas em equipes. Já nos anos ímpares, como é o caso de 2025, chega a vez dos campeonatos individuais e em duplas.

Apesar da confusão que os nomes podem causar, a Copa do Mundo e o Mundial tem algumas diferenças entre si. O Mundial é considerado um evento mais tradicional, enquanto a Copa foi inicialmente criada para servir como encerramento de temporada, apesar de ter sido reformulada posteriormente. Hoje, ambos se aproximam em termos de importância, embora o Mundial ainda tenha um peso superior. A competição que se inicia em maio, diferentemente da Copa, contará apenas com fases eliminatórias desde a primeira rodada, de forma semelhante a um Grand Slam de tênis.

Depois da tempestade…

Em uma coletiva de imprensa concedida no dia 24 de abril, Hugo falou um pouco sobre como se reergueu após as Olimpíadas de 2024, onde viu o sonho da medalha escapar ao ficar em quarto lugar no ranking. “Com relação a essa Copa do Mundo, eu acho que já tinha me recuperado bastante das Olimpíadas, já estava com mais motivação para as competições. E isso é o mais importante: chegar com energia, com vontade de brigar. Eu acho que sempre jogo melhor quando estou feliz”, afirmou.

Com a saúde mental renovada, o mesa-tenista parte em busca de novas conquistas: “Não estou satisfeito. Vou, de novo, brigar por uma medalha, quem sabe um título no Mundial.” E quem acompanhou a performance de Hugo Calderano com certeza acredita plenamente na sua capacidade de chegar lá.

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