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Cotidiano com um pouco de Butoh

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                                                                                                                                                                                                                                                   Por Stella Bonici
stebonici@gmail.com

“Estrela de meus olhos, sol de minha vida,

Tu, meu anjo e minha paixão!

Sim! tal serás um dia, ó deusa da beleza,

Após a benção derradeira,

Quando, sob a erva e as florações da natureza,

Tornares afinal à poeira.

Então, querida, dize à carne que se arruína,

Ao verme que te beija o rosto,

Que eu preservei a forma e a substância divina

De meu amor já decomposto!”

 (Charles Baudelaire, “Uma Carniça”)

Em Corpo Presente (Brasil, 2011), após uma festa rave, aparentemente regada a drogas, Alberto (Marat Descartes), em um ônibus no caminho de volta para a casa, declama esse pedaço de Uma Carniça, poema de Charles Baudelaire. A explicação da escolha fica um pouco clara depois. Ele é agente funerário, passa os dias retirando ossos de covas, trazendo defuntos do local de morte até a funerária, vomitando após fazer esse trabalho e tomando remédios tarja preta para suprir seu vício. Além disso, deve dinheiro a um agiota e, por isso, fica ameaçado de morte.

Depois, tirando o foco dessa personagem e colocando-o em outra, conhecemos Beatriz (Raissa Gregori). Ela tem uma filha pequena, mora com a avó e rouba alguns trocados dessa velha senhora. Trabalha em uma fábrica em uma parte do dia, e na outra, é tatuadora. Tem um namorado.

Além de Alberto e Beatriz, aparece Cynthia (Simone Iliescu) na história. Ela, primeiramente, é apresentada com dançarina, mas em seguida descobrimos que também é manicure e garota de programa. Trabalha em um salão de beleza com um chefe que a odeia (e que ela odeia), dorme em todo canto que encontra e não gosta dos clientes. Tem uma amiga, que também trabalha no salão, que a ajuda e dá força nos momentos difíceis. É garota de programa quando convém. Dança todas as noites em uma boate. Mas, esse é seu trabalho especial: a dança é sua paixão. Ela sonha em ir para o Japão fazer um curso de dança, mas precisa de dinheiro para isso. Talvez por isso, os três empregos.

E é assim que o longa desenrola, com histórias que não se entrelaçam, de três personagens que não se relacionam. Tudo é bem confuso, as cenas têm poucos diálogos e a história é cansativa. Parece, a princípio, que se trata de um documentário encenado, mostrando como a vida das pessoas pode ser louca e difícil. Parece que se trata de um filme chato e sem graça, sem aquele encanto característico do cinema, que nos leva a um universo paralelo.

Mas, bom, as aparências enganam: Corpo Presente surpreende e se transforma em um filme com os típicos elementos fora do comum, quando já parecia não ter mais esperanças. Já vou avisando que, se você quer assistir ao filme, pare de ler esse texto, porque eu vou contar o final (é, o famoso spoiler).

A história toda se passa em um único dia e, ao cair da noite, uma chuva começa. Com Beatriz não acontece nada demais, mas o mesmo não se pode dizer de Alberto, e muito menos de Cynthia. Alberto assalta uma farmácia, levando algum dinheiro e muitos remédios tarja preta, e depois vai ao cinema. O agiota, com quem ele tinha uma dívida, entra na sessão e Alberto paga o que devia com o dinheiro roubado.

[youtube=http://youtu.be/9ms7MGs2Nh8]

Cynthia, por sua vez, havia chamado seu patrão para vê-la dançar naquela noite, e ele aceitou o convite. Chegando à boate, se sentou em uma mesa, e esperou o momento de sua empregada entrar. Quando ela entrou, estava nua (exceto por uma calcinha), toda pintada de branco e com uma peruca verde desfiada. Ao som se uma música francesa, ela fez uma dança completamente estranha, que desconfio ser a dança Butoh. A câmera tira o foco dela e o coloca em seu chefe, que estava aos prantos. A câmera volta para Cynthia. O filme acaba.

 

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