Depois de conquistar a primeira medalha com Kelvin Hoefler em uma modalidade inédita nas Olimpíadas, a segunda medalha do Brasil veio em uma modalidade já tradicional no quadro de medalhas no país. A medalha de bronze conquistada pelo gaúcho Daniel Cargnin na categoria até 66kg no Judô foi a 23ª do Brasil no esporte em Jogos Olímpicos.
As lutas dentro e fora do tatame
No tatame, Cargnin teve que passar por todas as fases para alcançar a medalha de bronze. No entanto, sua chave era uma das mais difíceis de se competir, estando todos os adversários do brasileiro dentro do Top 20 do ranking mundial da categoria — inclusive ele, que é o 13º na listagem da Federação Internacional de Judô.
Na primeira rodada, o judoca enfrentou o egípcio Mohamed Abdelmawgoud, 19º no ranking. Apesar do adversário ter iniciado mais incisivo nos golpes, Cargnin resistiu e levou a disputa para a prorrogação. Nos primeiros segundos do Golden Score — em que o primeiro a fazer um ponto vence —, o brasileiro aplicou um Ippon, em que o oponente bate com as costas no chão, e se classificou para a próxima luta.
As oitavas de final foram igualmente tensas. Contra Denis Vieru, judoca da Moldávia e posicionado em 15º no ranking mundial, novamente foi necessário passar pela prorrogação. Dessa vez, a prorrogação levou mais de um minuto e, em um contra ataque, Cargnin aplicou um Wazari e subiu mais um degrau na competição.
O adversário da vez seria o italiano Manuel Lombardo. Apesar de ser o líder do ranking, o judoca brasileiro já havia conquistado uma medalha de ouro contra o italiano, no Grand Slam de Brasília de 2019. Em uma luta difícil, com o adversário se defendendo muito bem, Cargnin novamente conseguiu um Wazari, dessa vez faltando 10 segundos para o final da prova, classificando-se para as semifinais.
Atuando em casa, o adversário da vez foi Hifumi Abe, 5º lugar na listagem mundial. Dessa vez, o brasileiro não conseguiu emplacar seus golpes e o japonês conquistou a vaga para a finalíssima com um Ippon. Abe, inclusive, foi medalha de Ouro da competição ao aplicar um Wazari no atleta da Geórgia Vazha Margvelashvili.
Caindo para a disputa do Bronze, Cargnin enfrentou o israelense Baruch Shmailov e, extremamente focado, aplicou um Wazari no início do combate. Mesmo com ataques agressivos do adversário — o que gerou um corte no nariz do brasileiro —, o judoca gaúcho soube controlar as ações até o fim do combate, inclusive sendo punido por falta de combatividade.

Ainda que tenha sido medalhista de prata no Pan-Americano de Lima em 2019, não chegou como um dos pretendentes a medalha em Tóquio pela delegação brasileira. Com 23 anos e cercado de nomes mais veteranos, como ‘Baby’, Mayra Aguiar e Maria Suelen Altheman; Cargnin é visto como um dos rostos da renovação da modalidade.
A vitória de Cargnin no templo do judô
A outra oportunidade que o Japão sediou os Jogos Olímpicos foi em 1964. Foi nessa mesma edição que o judô foi integrado às modalidades olímpicas. Diversos atletas da delegação brasileira, como Rafael “Baby” Silva do peso pesado, comentaram sobre a honra de poder competir no berço do esporte.
Apelidado simplesmente de Budokan, a arena comporta aproximadamente 15 mil pessoas e carrega o título de centro espiritual da modalidade. Depois das Olimpíadas do Japão em 1964, o espaço passou a abrigar outras artes marciais.
A performance do Brasil está diretamente ligada ao Nippon Budokan e ao Japão. A associação vai além da tatuagem em kanji escrito “Família”, que Daniel carrega no peito. A japonesa Yoko Fujii é a primeira mulher da história a treinar a Seleção Brasileira de Judô. Ela também tem sua trajetória marcada pelo Budokan, local onde treina desde a infância.

*Imagem de capa: Gaspar Nóbrega/COB