A presença de filmes biográficos no Oscar é uma certeza com a qual se pode contar todos os anos. Embora muitos acabem sendo pouco interessantes por insistirem sempre na mesma fórmula, eles servem ao menos pra fazer pensar. Quem foi aquela figura sobre a qual o filme fala? Por que importa conhecermos sua história agora? Na cinebiografia da vez, Eu, Tonya (I, Tonya, 2017), esses questionamentos se voltam para a famosa patinadora, que viveu seu auge e derrocada na década de 90.
De origem humilde, Tonya Harding (Margot Robbie) desde pequena mostrava habilidade com o esporte. Criada somente pela mãe (interpretada por Allison Janney, que foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pelo papel), ela cresceu e tornou-se um dos maiores nomes da patinação no gelo da época. Mas toda a sua fama virou maldição quando em 1994, pouco antes das Olimpíadas, o então marido Jeff Gillooly (Sebastian Stan) participou de um ataque a uma de suas concorrentes, impossibilitando-a de competir. O nome de Tonya, assim, virou sinônimo de polêmica.
Não que ela não tivesse se envolvido em nenhuma antes. Como o diretor Craig Gillespie faz questão de mostrar, a atleta nunca foi o maior ideal do que a mídia norte-americana gostaria de colocar na TV. Desbocada e mantendo relações problemáticas com basicamente todos ao seu redor, ela era justamente o contrário, e pagou caro por isso.
O roteiro baseia-se tanto na cobertura midiática feita do caso quanto em entrevistas feitas com a Tonya e o Jeff da vida real especialmente para a produção. Como era de esperar, cada um deles conta a história de forma diferente, e, numa boa sacada, o roteirista Steven Rogers incorporou essas diferenças ao filme. Assim, aproveitou um pouco de ambas as versões do ocorrido, dando uma camada a mais de profundidade aos personagens e deixando o resultado engraçado quando aparecem incoerências entre eles.
Mas, mesmo com roteiro bem orquestrado, é preciso ressaltar que Eu, Tonya não seria nada sem a ótima atuação de Margot Robbie. Em seu maior papel até agora, ela consegue dar à personagem força e fragilidade na mesma medida, e conquista a simpatia do público desde os primeiros minutos. Ainda que o filme tenha seus pontos fracos, como o forçado Paul Walter Hauser no papel do guarda-costas Shawn, a atriz mantém a qualidade alta estando presente em quase todas as cenas.
Com estes elementos às mãos, o que Craig Gillespie faz é dar a tudo um tom tragicômico gostoso de assistir e fácil de emocionar. A história de Harding não é uma comédia: além das injustiças que sofreu em sua carreira como atleta, fora dos holofotes ela tinha um histórico de violência doméstica por parte do marido e nunca obteve o amor que desejava da mãe, sua única família.
Eu, Tonya de forma alguma diminui esses problemas. Pelo contrário, o que a obra faz é narrar a trajetória de uma personagem que fez o que pôde para dar o melhor de si, apesar das dificuldades. Tudo isso com um ritmo que lembra videoclipes tanto no uso da música quanto na montagem: rápido, hipnotizante, prazeroso e deixando um gostinho de quero mais.
O filme estreia dia 15 de fevereiro. Confira abaixo o trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=_YSP-ADogMA
Por Matheus Souza
souzamatheusmss@gmail.com