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Galeria Metrópole além das revistas

Mais do que um centro comercial, a Galeria é um marco arquitetônico para o “centro velho” de São Paulo, além de ser um ótimo lugar para quem busca cultura e segurança
Por Heloísa Falaschi (heloisafalaschi@usp.br)

A Galeria Metrópole é uma construção marcada por sua arquitetura modernista e por estabelecimentos voltados para a economia criativa. O espaço não se limita apenas ao comércio varejista e reforça sua grande influência cultural ao abrir espaço para exposições de artes visuais e escritórios de arquitetura e design. Além disso, apresenta restaurantes e cantinas que prezam pela gastronomia artesanal.

A galeria, após um período de certa decadência, retornou aos holofotes. Sua trajetória foi conjunta com a da região central da cidade, hoje chamada de “centro velho” de São Paulo. Para  entender como a galeria funciona atualmente e como a arquitetura do local expressa a longa história dessa construção, o Sala 33 entrevistou frequentadores, donos de estabelecimentos e um especialista.

Sua arquitetura, modernista, buscou trazer diversas funcionalidades para a galeria. Dentre elas, por abraçar a praça Dom José Gaspar e se ligar com a rua Basílio da Gama, ser utilizada de passagem por pedestres, além de ser possuir por uma torre de escritórios em seu terraço. Localizada na avenida São Luiz, a Galeria Metrópole, também conhecida como Edifício Metrópole, caracteriza um espaço de trabalho e lazer.

O projeto da Galeria Metrópole foi feito pelos arquitetos Salvador Candia e Gian Carlo Gasperini na década de 1960 [Imagem: Acervo Pessoal/ Heloísa Falaschi]

A arquitetura que molda uma época

Em entrevista à Jornalismo Júnior, Felipe de Souza Noto, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), aponta que as galerias funcionam como “uma continuidade da própria rua”. Alegou também que, de forma diferente dos centros comerciais da atualidade, o seu ambiente não era controlado como os atuais  são: “é uma lógica  de convidar, fazer com que aquilo fosse uma extensão da cidade”. Cita ainda que era de interesse do uso da galeria, e da própria arquitetura, fazer com que as pessoas passassem por dentro da construção, algo que é muito presente até hoje na Galeria Metrópole.

Hoje, quem caminha pelo centro de São Paulo percebe uma grande concentração de galerias ao longo de ruas e avenidas. Isso não é uma coincidência, é resultado de um planejamento urbano que buscava consolidar a circulação de pedestres no centro da cidade. Ao perceber o aumento de fluxo de automóveis com o Plano de Avenida, Prestes Maia, o então prefeito da cidade de São Paulo, observou na construção de galerias a oportunidade de aumento de áreas para passagem de pedestres.

As agências de turismo são um tipo de estabelecimento tradicional da galeria [Imagem: Acervo Pessoal/ Heloísa Falaschi]

Durante a entrevista, a mudança de uso da galeria também foi mencionada. Na época de sua inauguração, o local era marcado pelo uso de agências de turismo e atividades culturais, como o cinema existente dentro dela, hoje desativado. Durante o período que muitos relacionam com sua decadência, atividades ilegais como casas de apostas eram existentes nela. Atualmente, a galeria passa pelo seu “renascimento”, com o surgimento de estabelecimentos que representam a economia criativa e a dissolução de comércios ilícitos em seu interior.

O professor comenta que tais mudanças de uso são melhor entendidas quando associadas às transformações dos interesses imobiliários em São Paulo ao longo do tempo.  Ele menciona que tal evento é influenciado por questões ideológicas, fomentadas pelo mercado, que criam a ideia de que determinado lugar não é mais atrativo e fazem com que isso influencie a população a aceitar a degradação e abandono do local.

Esse fenômeno ocorreu, também, no centro de São Paulo. Prédios com grande influência histórica e arquitetônica começaram a ser degradados e abandonados pela elite econômica da cidade. A região passou a ficar menos segura aos olhos da mídia e ser esquecida pela população que antes frequentava esses locais. A chamada “decadência” da Galeria Metrópole vem junto com a ideia da “decadência” do chamado centro velho de São Paulo.

“Não é que não existia, mas quem estava ocupando não era um recorte que interessa para venda da ideia de glamourização que o centro está tendo”
Prof. Felipe de Souza Noto

É interessante, porém, pensar de maneira crítica quando o termo “decadência” é usado. Na entrevista, o professor coloca que tais locais continuaram a existir quando o interesse de mercado não decaia sobre eles. O que ocorreu foi a mudança de público e segmentos de estabelecimentos presentes neles, que, muitas vezes, beiravam a ilegalidade — como as, já citadas, casas de apostas.

Entretanto, estabelecimentos requintados, que passam uma imagem agradável para classes mais altas, são os escolhidos para remodelar o centro de São Paulo atualmente. Com o objetivo de reativar o interesse de mercado e de um público consumidor menos marginalizado, para apagar do histórico do local as atividades obscuras que o dominavam no passado e trazer a ideia do “renascimento”, de algo novo, que não é ultrapassado.

As laterais abertas da galeria trazem a sensação contrária de um shopping center e permitem a associação do espaço como uma extensão da rua [Imagem: Acervo Pessoal/ Heloísa Falaschi]

Segura como um shopping, libertadora como a rua

Com diversos tipos de estabelecimentos e eventos recorrentes voltados para o mundo da criatividade, a Galeria Metrópole entrega aos frequentadores experiências completas em seu interior. O  maior sentimento de segurança dentro do local, principalmente em restaurantes, a possibilidade de ter acesso a diferentes tipos de atividades em um só endereço e o acolhimento às pessoas que querem adentrar em um mundo de criatividade, são elogiados por frequentadores, funcionários e donos de estabelecimentos.

Diferente de shopping centers, galerias não foram feitas para delimitar espaços, foram feitas para respeitar o uso da cidade como um espaço coletivo, “não é segregador”, comenta o professor. Shoppings delimitam a circulação de pessoas, com o objetivo de bloquear a saída delas e manter o indivíduo o máximo de tempo naquele local. Por mais que ambos sejam centros comerciais, o sentimento de liberdade presente em uma galeria e ausente em um shopping está na proposta de circulação do ambiente, o que reflete  nas regras dos locais e até mesmo na forma de construção. Em muitas galerias um caminho óbvio até a saída pode ser encontrado, o que não é comum em shoppings convencionais.

No último andar da galeria é possível contemplar a paisagem da praça Dom José Gaspar [Imagem: Acervo Pessoal/ Heloísa Falaschi]

Durante entrevista com Yara e Carolina, que  comparecem semanalmente ao Prosa e Vinhos, um estabelecimento da galeria, fatores como o maior sentimento de segurança quando se está dentro dela, e da sensação de liberdade, dada pela flexibilidade de regras, diferentemente de um shopping-center, foram mencionados. Outro ponto citado como positivo é a presença de “tudo um pouco” dentro da galeria.

“Obviamente a gente se sente mais segura aqui dentro. No centro [de São Paulo] isso é um grande diferencial”
Yara Ventura, frequentadora da galeria

Mariana Barboza, proprietária da Fash & Co, marca autoral de bolsas e sapatos em couro, menciona a importância de estar em um ambiente que tenha a ver com seu tipo de negócio. Ressalta a importância do ambiente criativo que a galeria proporciona. Mariana ainda aborda o sentimento de segurança em montar sua primeira loja física em um local que não seja a rua, pontuando também o entusiasmo e aumento de fluxo de clientes causado pelos eventos que frequentemente acontecem na galeria, como a Semana do Design (DW!), que ocorre todos os anos na Galeria Metrópole.

Os eventos são vitais para a Galeria Metrópole pois, além de incentivar a visitação e aumentar o fluxo de frequentadores, são responsáveis por reforçar o teor artístico e criativo do local. Bellakalli, funcionária da loja de artesanato Paiol e produtora de moda, em entrevista ao Sala33, destaca o quanto se sente acolhida dentro do espaço artístico que a galeria proporciona. Pontua que, em um dos eventos que ocorrem na galeria, teve a oportunidade de conversar e trocar experiências com uma artista plástica. Bellakalli acredita que o ambiente representa maior acolhimento por ser um “ambiente de galeria de artes, um ambiente cultural”.

Durante a semana do design, palestras, rodas de conversas e eventos acontecem com frequência na Galeria Metrópole [Imagem: Acervo Pessoal/ Heloísa Falaschi]

Cultural, acessível e histórica

A forte presença artística na galeria vai além da venda de produtos. Galpões com exposições temporárias de arte, em que existem exposições abertas para todos que visitam a galeria, democratizam o acesso às instalações artísticas. “In Paradisum”, de Gabriel O’Shea, é um exemplo de instalação temporária que ocupou o espaço expositivo 25M da galeria. 

Visitantes entrevistados destacam que um dos motivos para frequentar a galeria é a presença de “muitas  pessoas de culturas diferentes”. A fala mostra que o teor cultural da galeria não está contido apenas nos escritórios de design e arquitetura presentes ou nas agências de turismo, está nas pessoas, em quem se sente acolhido pelo local e constrói a identidade dele.

A Galeria Metrópole se situa como um centro que vai muito além de comercial. Sua arquitetura emblemática é estudada até hoje em aulas universitárias e representa a época em que foi construída. A construção serve como abrigo para novos comércios e visitantes que querem conhecer um lugar frequentemente ofuscado pelos gigantes prédios de São Paulo, mas que não deixa de ser emblemático.

A maior expressividade de estabelecimentos voltados para a economia criativa permite que a galeria seja amplamente frequentada até a atualidade [Imagem: Acervo Pessoal/ Heloísa Falaschi]

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