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45ª Mostra Internacional de SP | ‘Listen’

Exibido no Festival de Veneza, o longa-metragem aborda de forma direta e realista os problemas do serviço social britânico

Listen (2020) é o primeiro longa-metragem de ficção da diretora Ana Rocha de Sousa e conquistou seis prêmios no Festival de Veneza, dentre eles, o de melhor longa-metragem de estreia. O filme de produção luso-britânica ganha esse destaque pela representação realista da dificuldade de uma família de baixa renda que, ao buscar ajuda do serviço social, vê as suas preocupações aumentarem e não o contrário.

Bela (Lúcia Moniz) e Jota (Ruben Garcia) são os pais de uma família de imigrantes portugueses que vivem na Inglaterra. Com três filhos —  a bebê Jessy (Lola e Kiki Weeks), a filha do meio Lu (Maisie Sly) e o adolescente Diego (James Felner) — e um salário apertado, eles enfrentam dificuldades para comprar o básico. Essa situação aparece logo nas primeiras cenas de Listen e já aflige o telespectador ao mostrar, por exemplo, a fome das crianças e a dificuldade de conseguir um novo aparelho auditivo para Lu, que é surda. 

Em meio a isso, aparecem hematomas nas costas de Lu e os pais, que já eram monitorados pela assistência social, são acusados de maus-tratos. Assim, as crianças são levadas pelo serviço social e acabam em um processo de adoção forçada.

Em cena de Listen, Lu e Diego se escondem da assistência social. [Imagem: Divulgação/Magnolia Pictures]
Lu e Diego se escondem da assistência social. [Imagem: Divulgação/Magnolia Pictures]
É interessante a construção da relação entre Jota e Bela após esse ocorrido. Ambos anseiam pela volta dos filhos para casa, porém acabam discutindo por reagirem de formas diferentes a isso, o que ajuda a aproximar Listen da realidade, pois deixa de lado a idealização de um apoio perfeito entre o casal. 

Os pontos que mais nos emocionam são as visitas dos pais aos filhos, que sempre são acompanhadas por algum agente do serviço social e há inúmeros impedimentos — eles não podem conversar em português e nem sequer usar a língua de sinais com Lu. Isso gera um sentimento de revolta nos pais, o que transparece principalmente pela atuação de Lúcia Moniz.

Em cena de Listen, Bela em uma das visitas aos seus filhos. [Imagem: Divulgação/Magnolia Pictures]
Bela em uma das visitas aos seus filhos. [Imagem: Divulgação/Magnolia Pictures]
O filme direciona sua atenção para os aspectos relacionados aos problemas dos serviços sociais e como os pais tentam sair dessa situação, o que ocasiona um menor aprofundamento de outras questões. Um exemplo é que mesmo que seja perceptível as dificuldades financeiras da família desde o início da história, não há um desenvolvimento do porquê deles estarem assim: são poucas as cenas que mostram o trabalho de Jota e Bela, o que causa certo estranhamento. A construção da relação entre os irmãos também poderia ter sido mais explorada, o que diminuiria o foco das cenas que se passam apenas entre o casal. 

Apesar disso, Listen vai direto ao ponto na denúncia do sistema social britânico, ganhando importância e impacto ao explorar o problema da adoção forçada e ao nos fazer prestar atenção à história dessa família, que é a personificação de tantas outras da vida real.

Nota do Cinéfilo: 3,5 de 5. Bom!

Esse filme faz parte da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. Confira o trailer:

*Imagem da capa: Divulgação/Magnolia Pictures

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