Por Carolina Fioratti (carolinafioratti@usp.br )
A lombalgia — popularmente conhecida como dor lombar ou dor nas costas — é uma patologia que acomete no mínimo 80% da população. Ainda que um problema simples e de fácil tratamento, tem uma incidência enorme e continua a assustar quem sofre com ele. Por conta disso, muitas vezes o indivíduo procura por técnicas infalíveis de cura, simpatias ou causas que podem não ter nenhuma relação com o desconforto, ocasionando assim apenas um atraso para o seu tratamento.
O fisioterapeuta Iuri Fioratti explica que a dor lombar é um problema crônico de saúde que envolve os sistemas musculoesquelético e ortopédico. Além disso, tal complicação é vista atualmente como a principal causa de faltas no trabalho, diminuição da funcionalidade e entre outros fatores que interferem na vida pessoal.
Causas da Lombalgia
Há uma ideia equivocada de que a dor lombar está intimamente relacionada à postura, mas isso é um erro. Estudos publicados em março de 2018 na The Lancet (revista científica de saúde) mostram que não há um vínculo direto entre esses fatos, ela pode ser apenas um agente agravante caso haja outras causas mais importantes também envolvidas. Alguns pesquisadores vêm mostrando que não há uma postura ideal.
Iuri diz que essa patologia ainda é incompreendida de um modo geral: ela é quase um buraco negro dentro da ciência sobre as causas específicas da dor. Mas explica que a lombalgia pode vir de várias formas, como processos inflamatórios agudos, “travamento”, espasmo muscular forte, “mau jeito” por movimentações e até mesmo desgastes e cansaços. Aproveita ainda para falar sobre esses últimos casos, em que você pode procurar um “posicionamento de conforto” que diminua sua dor. Pode ser deitado, curvado, cada pessoa terá sua preferência e isso não implica em ser uma postura ideal.
Além desses problemas mecânicos, tem-se também questões neuroquímicas. Existem fatores psicoativos que modificam hormônios e sensações, o que pode levar a mais incômodos. Dentro do cérebro há basicamente duas vias, a que informa a sensação e a que responde. Observa-se hoje, dentro dessas conexões neurais, fatores que podem programar a dor para continuar, mesmo sem o incentivo da lesão; e fatores que diminuem isso, como os momentos de bem estar. A dor lombar, quando ultrapassa de três a quatro dias de fase aguda, começa a cronificar, tendo como resultado pessoas que apresentam meses de dor.
O fisioterapeuta explica isso com um exemplo: um prédio na iminência de um incêndio. Imagine que todos os funcionários de um edifício comercial estão trabalhando normalmente. Então, o sinal de fumaça chega aos sensores de água e o alarme é disparado. Todos saem correndo procurando por qualquer alternativa para fugir ou apagar o incêndio, no entanto, eles precisam apenas da alternativa certa, sair pela escada de incêndio até que os bombeiros cheguem para resolver a situação. Quando eles chegam, apagam o fogo, porém o alarme prevalece tocando até que alguém o desligue. Veja agora, as pessoas correndo são as atitudes do paciente, da pessoa que sente dor. A continuação do alarme mesmo após o incêndio é a cronificação de uma dor, ou seja, a inflamação não existe, mas o corpo não vai parar de sinalizar até que um profissional seja consultado e o tratamento seja feito. A pessoa pode ou não voltar a ter essa dor, cada caso é individual e tem a sua própria intensidade.
A hérnia de disco
A hérnia de disco é um dos casos mais aparentes hoje no mundo. Ela é uma lesão que acontece nos discos intervertebrais causada por impactação e carga excessiva. Esses discos possuem um núcleo que se movimenta para dissipar as forças que passam sobre ele, entretanto, quando fica desidratado, ele deixa de dissipar as forças e acaba sendo extravasado. Essas estruturas estão próximas da medula, local de onde saem os estímulos aferentes e eferentes do corpo, ou seja, a sensibilidade da dor e o sinal de retorno. Devido a essa adjacência, pode ocorrer um abaulamento seguido de herniação, causando sintomas como perda de força, dor localizada ou irradiada e diminuição da mobilidade.
Pode haver relação com a lombalgia ou não. Nota-se hoje em exames de ressonância magnética que tanto pessoas que apresentam quanto as que não apresentam dor, mostram proximidade nos resultados de hérnia. Não é necessariamente por não ter dor que a pessoa não tem a hérnia e vice versa. Muitos convivem com problemas mais graves de coluna sem evidenciar sintomas de dor.
Tratamentos
Antigamente, um dos métodos utilizados para a dor nas costas era o colete, porém, esse é um recurso deixado de lado nos dias de hoje e utilizado apenas para desvios graves, como em alguns casos de escoliose. “A partir do momento em que se coloca um colete ou uma órtese na pessoa, restringe-se a atividade muscular que é importante para estabilidade e dinâmica do corpo”, cita Iuri. Ou seja, dá-se um suporte falso para o tronco, e com isso, o corpo reduz a atividade energética dos músculos e reduz os mecanismos ativos de estabilização, pois algo está fazendo isso por ele. Tal mecanismo acarreta a lipo substituição — substituição de células musculares de fibra por células adiposas (gordura), que armazenam energia, já que não ocorre gasto da mesma — causando enfraquecimento dos músculos, piora a movimentação e pode causar estresse devido à diminuição da funcionalidade no dia a dia.
Atividades físicas são extremamente importantes para o tratamento da dor lombar. Houve uma época em que a natação era vista como o exercício ideal, mas isso é mito. A natação pode ser usada, no entanto, outros esportes também são permitidos, mesmo os que possuem maior impacto. Ficar em repouso é uma dica para os primeiros dias de dor apenas, mas não é uma imposição, pelo contrário, quanto maior a movimentação, melhor o tratamento. Pode-se procurar terapias envolvendo exercícios de fortalecimento e conscientização corporal, como por exemplo, o pilates.
Há outras técnicas levantadas no meio popular como o RPG e a quiropraxia. O RPG procura a integração dos sistemas para a retificação da coluna e é normalmente utilizado em casos que tenham a interferência da postura. Já a quiropraxia, famosa na internet por seus vídeos de estalos, tem poucas citações em estudos que deram certo. Ela pode ser indicada como conduta para pessoas com problemas de mobilidade, mas na técnica não há evidências de que vai funcionar sozinha. Iuri reforça que a terapia manual é apenas um complemento para o tratamento e diz: Se a pessoa faz alguma técnica de terapia manual e não manda o paciente fazer exercício, ela está tirando a dor momentânea, mas não está resolvendo seu problema.
Importante ressaltar que cada indivíduo deve ser avaliado e que a primeira opção de tratamento continua a ser a fisioterapia, independente de qual técnica será utilizada. Nenhuma decisão deve ser tomada sem o auxílio de um profissional de saúde.
Essa é uma das alternativas mais procuradas atualmente para a dor lombar. A fisioterapeuta especializada em pilates Taynara Kikuchi Albino explica que o pilates clínico tem exatamente a finalidade de tratamento. É feita uma avaliação e a partir dela, com os métodos do pilates (fortalecimento, mobilização, respiração e estabilização), constrói-se o tratamento específico. A avaliação conta com um teste funcional, o paciente indica a intensidade de sua dor, testa-se os movimentos que ele consegue executar, enfim, é feita uma grande inspeção.
Tal método pode ser procurado tanto como forma de tratamento quanto forma de prevenção. Além disso, é um exercício como qualquer outro e pode ser buscado também para a melhora da qualidade de vida. O pilates tem limitações, mas não há nenhuma grande contraindicação. Ele pode ser adaptado para mulheres grávidas, idosos ou crianças. Existem jeitos diferentes de ser executado para cada pessoa e caso.
Como falar do problema
Recentemente, foi publicado na revista Jospt um artigo que trata sobre a comunicação com o paciente. Esse é um assunto em alta no meio dos profissionais, como falar do problema de maneira assertiva. Acredita-se que quanto mais técnico e científico for a fala, mais assustado ficará o paciente. Deve-se falar então de uma maneira que leve as pessoas a entender que há tratamento e que é algo comum.
“Ninguém vai entender uma linguagem de artigo, de estudo. Nós precisamos trazer de volta uma simplicidade que é explicativa, então precisamos explicar, precisamos orientar e ao mesmo tempo dar um toque de mudança comportamental dentro das nossa falas.” Comenta o fisioterapeuta Iuri Fioratti.
Uma das ideias para mudar a percepção do paciente é mudar as palavras utilizadas, como por exemplo, substituir “qual a intensidade da sua dor?” por “qual a intensidade do seu incômodo?”. É preciso também explicar de forma clara como pode ser feito o tratamento e desinibir o paciente, para que ele se sinta confortável para falar sobre o assunto.
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