Por Matheus Ribeiro (matheus2004sa@usp.br)
Em parceria com o Sesc São Paulo, o Festival É Tudo Verdade organizou a programação “Especial 30! Encontros”. Nesse ciclo, importantes personalidades do cinema documental brasileiro, que foram reconhecidas pelo festival ao longo de sua história, realizaram palestras ao público presente no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.
O mestre de cerimônia do evento e curador do festival, Sérgio Rizzo, assumiu o comando da programação final de quinta-feira, 10 de abril, substituindo o diretor Paulo Sacramento, que não pôde comparecer por motivos de saúde. Na ocasião, Sérgio comentou sobre a sua trajetória pessoal e a história do É Tudo Verdade, além de fazer uma retrospectiva de obras notáveis que foram exibidas e premiadas em edições anteriores.
Comunicador e amante da 7ª arte
Formado em Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo e mestre em Artes/Cinema pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Sérgio teve oportunidades de trabalhar falando da sétima arte em grandes veículos de comunicação desde cedo.
Decidido a seguir seu interesse por filmes, o meio audiovisual se tornou sua especialidade, tendo passagens como crítico cinematográfico por importantes jornais, como O Globo e Folha de S. Paulo. Foi em sua carreira de jornalista que Sérgio teve seu primeiro contato com o É Tudo Verdade, ao realizar coberturas de diversas edições do festival a esses veículos.
Seu envolvimento com o festival foi se tornando maior, até o ponto que se tornasse diretamente envolvido com a organização. Atualmente, é membro do comitê de seleção do É Tudo Verdade e um dos seus representantes no exterior.
Sérgio também teve outras experiências no meio audiovisual: já atuou como roteirista e diretor em produções para a televisão e de filmes. Sua última obra foi o documentário “Doar”, lançado em 2024 pela Deusdará Filmes.

A história do festival
Ao assumir a programação do evento, Sérgio realizou uma apresentação de seminário que contava a respeito da trajetória do festival desde a sua fundação.
O É Tudo Verdade foi idealizado, há 30 anos, pelo crítico cinematográfico Amir Labaki que sentiu a ausência de um evento documental no Brasil e se inspirou no livro “O Cinema dos Anos 80” para elencar obras para um novo festival. A princípio, o objetivo do evento era disponibilizar, no Brasil, documentários – sobretudo internacionais – de difícil acesso.
Com o tempo, o festival deixou de ser apenas uma oportunidade de exibição de obras e passou a assumir o posto de premiação. Começou a englobar filmes nacionais e estrangeiros, ingressou em discussões sobre pautas sociais e se tornou referência ao redor do mundo.
“Podemos atribuir o mérito da evolução do É Tudo Verdade ao crescimento da cultura de documentários no Brasil, ao longo desses 30 anos. Um exemplo disso é o fato de, nesta edição, termos mais de 2 mil filmes inscritos para serem exibidos no festival”, explicou Sérgio durante a apresentação.
“Tenho certeza que todos que passaram pelo festival, tiveram sua carreira mudada”
Sérgio Rizzo

Obras importantes que passaram pelo festival
Em um segundo momento da apresentação, Sérgio elencou obras que foram exibidas e premiadas em edições passadas do É Tudo Verdade e explicou as suas contribuições ao cinema nacional.
Um dos títulos abordados foi o documentário “Notícias de uma Guerra Particular”, de 1999, dirigido por João Moreira Salles e Kátia Lund. O filme foi premiado na edição de 2000 do festival como “Melhor Documentário Brasileiro de Longa Metragem”. A obra foi pioneira na abordagem dos confrontos entre forças policiais, crime organizado e milícias que assolam as periferias do Rio de Janeiro.
Sérgio explicou que, com uma retratação nua e crua da realidade, o longa se tornou referência e ajudou a evidenciar o estado crítico da segurança pública na região. Além disso, inspirou Cidade de Deus – que contou com Kátia Lund como co-diretora –, obra que também aborda essa questão e é reconhecida internacionalmente.
Outro filme citado foi “O Prisioneiro da Grade de Ferro”, de 2002, dirigido por Paulo Sacramento e vencedor da categoria “Melhor Documentário Nacional e Internacional” da edição do ano seguinte do É Tudo Verdade. A obra ganhou destaque por ser um “filme de oficina” e permitir que as perspectivas de pessoas envolvidas com a história pudessem ser fielmente retratadas.
“Câmeras de vídeo foram entregues, de uma oficina, a detentos lá do Carandiru. E o filme é composto, em grande parte, por esse material coletado”, explicou Sérgio a respeito do processo de filmagem.
Foto de capa: [Imagem: Acervo Pessoal/Catarina Bacci]