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‘Abá e Sua Banda’: Diversidade e democracia no reino das frutas

Nova animação brasileira é criativa e bem humorada ao trazer debates e reflexões importantes sobre união, sociedade e diversidade
Por Ana Carolina Mattos (a.carolinamattosn@usp.br)

Estreia nos cinemas de todo o país nesta quinta-feira (17) a animação brasileira Abá e sua banda (2025). O elenco principal de dublagem é composto por Felipe Bragança, como o protagonista Abá, Carol Valença dando voz à personagem Ana e Robson Nunes interpretando Juca. O longa que também conta com a participação especial da consagrada atriz e cantora Zezé Motta, tem direção de Humberto Avelar, diretor e criador de famosas séries animadas como Sítio do Picapau Amarelo (2012-2016) e Juro que vi (2003-2010).

Ganhador de prêmios internacionais de Grand Jury Prize no festival norte-americano Epic ACG Fest, além dos prêmios de melhor filme de animação no festival Kids de Málaga na Espanha e melhor longa no Festival Internacional de Cinema Ambiental (Ecocine), Abá e Sua Banda acompanha a história de Abá, um jovem príncipe de um reino de frutas que, apesar de ser o herdeiro da coroa de Pomar, um lugar em que diferentes tipos de frutas coexistem, sonha em ser músico e se apresentar no famoso Festival da Primavera.

Apesar de seus deveres como príncipe, Abá frequentemente escapa do castelo para se apresentar nas ruas do Reino com seu amigo Juca, que também sonha em tocar no Festival. Durante uma dessas apresentações, conhecem Ana, uma rebelde crítica ao Rei e suas políticas que acaba se tornando a baterista da banda que, com ela, está finalmente completa. Porém, em meio a uma população cada vez mais insatisfeita com a política, o Rei (Mauro Ramos) opta por coroar Abá. Com seus sonhos ameaçados por seus deveres, o jovem embarca em uma jornada de autoconhecimento.

 Abá e seus amigos ensaiando para o Festival de Primavera [Imagem: Divulgação/Vitrine Filmes]

Com as vozes inicialmente gravadas durante a pandemia da Covid-19 em 2021, os atores fazem um ótimo trabalho dando vida aos personagens, adicionando características únicas nas vozes e estilos de fala, algo que atribui mais características positivas ao visual da obra. Com a direção de animação por Alan Camilo, animador de grandes produções como Maze Runner: Correr ou Morrer (Maze Runner, 2014) e Thor: Ragnarok (2017), a animação em estilo 3D é fluída, com cores vibrantes e marcantes, contribuindo para a sensação de fantasia e ar esperançoso do filme.

A narrativa apresenta personagens cativantes e divertidos, com caracterizações e nomes criativos que brincam com rimas, ditados, anatomia vegetal e conhecimentos de senso comum. Isso é notável em casos como o de Ana, uma banana cujo cabelo é representado por sua própria casca ou Abá, um abacaxi, cujas folhas representam seu cabelo e também sua coroa.

Por se tratar de uma produção completamente brasileira, a animação utiliza questões culturais nacionais e frutas típicas do país para a construção de alguns personagens, como no caso de Juca, um caju, e da personagem de Zezé Mota, a Titikaba, uma jabuticaba, fruta nativa da Mata Atlântica. Aqui, a Titikaba é uma representação de povos originários brasileiros, demonstrando uma relação de harmonia em conjunto com a natureza, característica comum a muitos povos indígenas do território nacional.

Mesmo se tratando de um filme voltado para o público infantil, a narrativa abrange temas delicados e complexos, que vão desde exploração ambiental a abuso de poder e opressão. Esses assuntos são abordados de maneira bem explícita ao longo do filme e seguem o protagonista em sua jornada de maneira gradual. Quanto mais Abá se vê fora do castelo, mais ele entende sobre as dificuldades que assolam o reino e suas ideias amadurecem. Apesar disso, o longa mantém o tom cômico e esperançoso anunciado no início da obra, contribuindo para uma experiência cheia de reflexões e debates sobre diversidade, união e democracia. 

Titikaba contando a história de Abá para crianças jabuticabas, transmitindo os ensinamentos da trama por meio da tradição oral [Imagem: Divulgação/Vitrine Filmes]

Ao abordar tantas temas em um filme com menos de 90 minutos, a obra acaba se perdendo em suas próprias ideias, por vezes não lidando com os temas apresentados e tomando caminhos que nem sempre são explorados ao longo da narrativa. Um exemplo disso é Abá e seu relacionamento com os diferentes personagens ao longo da trama. Enquanto a relação de pai e filho é muito bem desenvolvido, sendo um dos pontos centrais da história, o relacionamento de Abá com Ana e seus amigos é pouco aprofundado, o que faz com que o momento em que eles são cruciais perca o impacto.

A trilha sonora do longa também chama atenção. As músicas originais e escritas em conjunto por Milton Guedes, Silvia Fraiha e André Mehmari impressionam com produções em diferentes gêneros musicais. As canções contribuem para um melhor entendimento dos personagens e do contexto em que estão inseridos, além de ser um recurso narrativo muito importante, responsável por revelar aos espectadores informações e ideias cruciais para a trama. 

Seja apresentando os membros da banda, como na faixa “Abá e sua banda” ou no “Rap dos Rebeldes”, composição que trata sobre a insatisfação do povo com o fato de não serem ouvidos e em “Zum Zum Zum” onde Abá canta “de que vale a minha voz se a multidão está calada?”, as canções são interpretadas pelos próprios atores que transmitem as sensações e trejeitos dos personagens, principalmente no caso do protagonista, que com a voz de Filipe Bragança conquista a atenção do público. 

O filme lida com muitas questões e por isso, deixa algumas análises e reflexões de lado ao longo da trama. Apesar disso, ainda se mantém divertido e pertinente quanto a seus espertos e ligeiros comentários sobre diversidade, ecologia e união.  Abá e sua banda é uma obra que, apesar de carregar elementos narrativos e personagens clássicos, consegue contar sua história de maneira diferente, adicionando novos elementos e camadas narrativas que tornam a produção mais interessante, além de valorizar aspectos da natureza e da cultura brasileira.

O filmes já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:

*Imagem da capa: Divulgação/Vitrine Filmes

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