
Com a sala praticamente lotada, o Cinesesc deu início a mais uma edição da Mostra Mundo Árabe de Cinema, em São Paulo. A cerimônia de abertura contou com discursos de representantes do próprio Cinesesc e do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) – casa que também receberá parte do festival –, além de Mohamed Habib, presidente do Instituto de Cultura Árabe, os responsáveis pela realização do evento.
As falas tinham tom de agradecimento, mas principalmente exaltavam o que se dizia ser o principal objetivo da mostra: a naturalização da cultura árabe no Brasil através do cinema. Para isso, a curadoria selecionou filmes que não necessariamente tratam de questões políticas, mas mostram pessoas normais em situações normais. É o caso do filme exibido na abertura, Wajib (2017), que mostra a saga de um homem palestino que precisa entregar os convites de casamento da sua irmã junto de seu pai.
Wajib pode ser considerado um road-movie pelo modo como é conduzido. Isso porque, apesar de não saírem de Nazaré, os protagonistas rodam a cidade durante um dia inteiro, parando em vários lugares, para entregar os convites pessoalmente, segundo as tradições locais. O fio condutor da trama, e que também contribui para que o filme tenha esse gênero, são os conflitos entre pai e filho. Como sempre, o personagem mais velho é o representante das velhas tradições, do conservadorismo e da “caretice”. Por outro lado, Shadi (Saleh Bakri), representa o novo, a rebeldia, o diferente.

A cada casa que passamos, vemos um novo ponto de atrito e a história conturbada da família vai se desenrolando. Entendemos porque Shadi mora na Itália, longe da família, qual a relação de sua mãe com os outros familiares, e como Abu Shadi (Mohammad Bakri), o pai, é capaz de fazer qualquer coisa para se tornar diretor da escola em que trabalha, inclusive se aliar a um antigo desafeto do filho. Em meio a todos esses conflitos, o que se passa no fundo é como a dominação de Israel influencia negativamente os palestinos, ainda que de um modo não tão evidente.
O Cinéfilos ainda teve a oportunidade de conversar brevemente com Omar Luiz de Barros Filho, diretor de outro filme da mostra, A Palestina Brasileira (2018), e também convidado a discursar na abertura. Omar é jornalista há mais de 40 anos e foi editor do Versus, jornal fechado durante o período da ditadura militar no Brasil e considerado pelo diretor como o melhor do país na época. Seu filme mostra a relação de famílias palestinas do Rio Grande do Sul com seus parentes no país dominado por Israel no Oriente Médio. Mais do que tentar naturalizar a cultura palestina, Omar diz que procura contar a história das vítimas, fazendo uso de um ponto de vista totalmente de oposição a Israel.
A 13a Mostra Mundo Árabe de Cinema acontece entre os dias 8 e 27 de agosto no Cinesesc e no CCBB.
por Bruno Menezes
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