Primeiro filme brasileiro original da Netflix, O Matador (2017) traz o gênero do faroeste, ou western, às terras do Nordeste brasileiro. Inspirado no livro O Cabeleira (1876), do escritor cearense Franklin Távora, o longa se passa no árido sertão pernambucano e retrata a vida sertaneja, o cangaço, o abandono, a desigualdade e a violência.
O enredo se desenvolve a partir da história contada por um jagunço (Allan Souza Lima) sobre um matador da época do cangaço. De início somos apresentados a Sete Orelhas (Deto Montenegro), cujo nome de nascimento era Januário, mas passou a ser chamado assim após arrancar as orelhas dos assassinos de seu irmão.
O temido Sete Orelhas uma noite encontra um bebê abandonado no sertão, prestes a ser atacado por um animal e o salva. A criança viria a ser conhecida como Cabeleira (Diogo Morgado), por causa do personagem cangaceiro dos cordéis que ele lia. É Cabeleira quem vai ser o protagonista dessa história de maldição.
A história toma rumo quando Sete Orelhas sai para uma viagem e nunca mais retorna. Cabeleira então decide ir atrás dele, procurando na cidade mais próxima pelo seu pai adotivo. Chegando lá, Cabeleira mata seu primeiro homem, já que até aquele momento, tudo que tinha matado eram animais para comer. Mas Januário Sete Orelhas o tinha ensinado bem até demais.
Cabeleira recebe pedras preciosas como recompensa por ter matado homens procurados. A recompensa seria a turmalina-paraíba, uma pedrinha mais rara e valiosa que diamante. Não achando sinais de Januário, o protagonista vai perguntar a um tal Monsieur Blanchard (Étienne Chicot), um francês que enriqueceu com a exploração da turmalina e agora manda na cidade, sobre seu paradeiro.
Sete Orelhas era jagunço do francês e Cabeleira decide assumir o lugar dele. A partir daí o personagem interpretado por Diogo Morgado assumirá também a maldição de seu criador: o vício em matar para receber as pedras preciosas. Cabeleira mata todos aqueles indicados por Monsieur Blanchard e usa a recompensa para frequentar os bordéis.
Roteirizado e dirigido por Marcelo Galvão, o desenrolar da história se perde apesar de ter um começo bom. Sob a narração permanente do jagunço apresentando no começo, o enredo perde o foco e busca elaborar outras tramas, mas acaba não desenvolvendo bem nenhuma. Até o próprio Cabeleira é esquecido por boa parte do filme, o que é inclusive questionado por um dos ouvintes da história.
Os personagens ficam com uma personalidade superficial, pois ninguém é aprofundado, nem mesmo o protagonista, que somente deixa de ser um bruto nas cenas finais do longa. Algumas tramas desnecessárias acabam por prejudicar o desenvolvimento da narrativa, ainda que seu núcleo seja interessante.
No início do filme, o jagunço que narra o filme afirma não saber fazer café muito bem, mas que é bom de contar história. Ao fim, descobre-se que nem isso ele soube fazer.
Essa falha afeta também a atuação, que não pode ser completamente desenvolvida, porque os próprios personagens são superficiais. Vale apontar também a linguagem empregada, que não condiz com a época que se busca retratar. Além disso, as conversas pecam pela ausência e não agregam ao filme. Sobretudo as conversas com Cabeleira, o qual parece não falar mais que duas frases em um mesmo diálogo.
Há algo que realmente se destaca no filme: a fotografia. Com uma bela ambientação, o filme entrega imagens lindas que retratam a beleza do sertão nordestino. Com uma ótima direção de fotografia, o longa consegue entregar um visual atraente e que prende a atenção do espectador.
Com várias cenas que percorrem a aridez do interior pernambucano, a fotografia alcança quem assiste e permite uma imersão no cenário no qual se passa a história. Acompanhamos a trama do início ao fim percorrendo as paisagens em meio aos tiroteios e o sol de rachar.
No geral, O Matador deve ser assistido, sobretudo para prestigiar uma obra brasileira, a primeira da Netflix, apesar dos erros citados. Com uma história geral interessante e uma bela fotografia, o longa entrega um resultado satisfatório, mas que poderia ser melhor.
O longa já está disponível para assinantes da Netflix. Assista ao trailer:
*Capa: [Imagem: Divulgação/Netflix]
Achei a crítica injusta, tendo em vista que o filme mostra uma “contação de história” (que no final ***SPOILER*** mostra que é um relato), e não esperamos um desenvolvimento de personagens em história falada…ainda mais contada por sertanejos. Achei o filme justo com o que é proposto.