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Para dar mais luz à vida

Deixe a Luz Acesa (Keep the Lights On, 2012), do cineasta independente Ira Sachs, poderia se bastar a uma história autobiográfica sobre o amor, a ilusão e sexo. O longa, entretanto, traz ao romance entre dois homens que vivem em Nova Iorque o tom de um sutil duelo entre a entrega e a hipocrisia humana. …

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Deixe a Luz Acesa (Keep the Lights On, 2012), do cineasta independente Ira Sachs, poderia se bastar a uma história autobiográfica sobre o amor, a ilusão e sexo. O longa, entretanto, traz ao romance entre dois homens que vivem em Nova Iorque o tom de um sutil duelo entre a entrega e a hipocrisia humana. Indicado em 2013 como melhor Diretor, Filme, Roteiro e Ator (Thure Lindhardt) no Independent Spirit Award e vencedor do Teddy Award no Festival de Berlim em 2012, a trama se baseia na conturbada trajetória emocional vivida por Sachs, o diretor do filme, e seu ex-namorado Bill Clegg.

Erik (Thure Lindhardt) é um documentarista dinamarquês que está coletando entrevistas para uma produção sobre um “antropólogo” da pornografia gay americana dos anos 40 aos 80. Sua intensidade e rendição sentimental vão de encontro à fragilidade de Paul (Zachary Booth), um advogado de sucesso que vê sua vida revirada a partir de uma primeira experiência sexual que une os dois casualmente na conturbada metrópole.

Recheada com diversos clichês da vida a dois, a relação de quase uma década vivida pelos protagonistas é marcada por uma incongruência entre os seus desejos e limites individuais. Enquanto Erik, interpretado por um dos principais atores da nova geração dinamarquesa, escancara sua carência emocional, o enrustido advogado fica refém de suas proteções e das drogas.

No longa, entretanto, não são só os dois protagonistas que representam a ideia de divergência. O roteiro, que trabalha um realismo intimista, parece ser delineado por diversas situações cujos futuros são sentenciados a um caminho bifurcado. Ou o protagonista Erik terá sua vida definhada por uma doença terminal (AIDS), ou ele seguirá ileso com suas experiências sexuais pulsantes. Ou seu documentário será um sucesso premiado internacionalmente, ou se arrastará como um plano fracassado. Ou sua melhor amiga e confidente encontrará “o cara certo”, ou então ela terá que usar os espermas do amigo para ter seu próprio filho. Ou o casal decide por uma vida a dois comum, ou se separam definitivamente.

É com esse fluxo constante de oposições que os roteiristas Ira e Mauricio Zacharias se delineiam como antropólogos da frieza intrínseca à sociedade – não só americana – atual, que tem a necessidade de escolhas rápidas (e rasas) como um de seus padrões comportamentais.

Apesar de nos mostrar essa face congelada de uma mania da contemporaneidade, o diretor trata de compensar em delicadeza quando se trata da paixão ali vivida. Uma iluminação sensível, que acompanha os momentos de fervor – com tons mais quentes – e de respiro do casal, confirma a escolha da equipe de colocar à mostra toda a beleza e naturalidade de um amor real. Assim também é a singular trilha sonora criada a partir do trabalho do violoncelista Arthur Russell, que dá ritmo dramático e fino à obra como um todo, aflorando ora a solidão, ora o entusiasmo gritante do casal.

Deixe a Luz Acesa é um filme que atravessa de maneira íntima temas como as drogas, o sexo e os clichês da vida social mostrando o quão incertos somos nas nossas escolhas viciadas. É assim que Ira Sachs deixa um aviso ao espectador: dê à vida mais caminhos.

por Érika Yukari
kinha.kamikava@gmail.com

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