Jornalismo Júnior

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Todos têm goleiro, só nós temos Rogério

Conheça aqui a história do goleiro com mais gols da história do esporte, Rogério Ceni
Por Letícia Oliveira Menezes (leticiaomenezes@usp.br

De terceiro goleiro a ídolo reverenciado do São Paulo Futebol Clube, Rogério Ceni foi um goleiro exemplar nos quesitos de liderança, trabalho em equipe e persistência em seus objetivos. 

De Pato Branco ao CT de Cotia: o início de tudo

Rogério Ceni na juventude
Detentor de diversos títulos do futebol, Rogério se aventurou no vôlei antes de iniciar sua carreira profissional e chegou a conquistar títulos regionais. [Reprodução/Instagram: @saopaulofc e @rogerioceni]

Em 22 de janeiro de 1973, no município de Pato Branco, Paraná, nasceu Rogério Mücke Ceni, atleta considerado por torcedores e grandes futebolistas um símbolo do que é ser São Paulo Futebol Clube. Essa identificação com o time se construiu ao longo dos 25 anos de atuação de Ceni pelo tricolor: foram 1237 jogos, 131 gols e 18 títulos conquistados na categoria profissional em sua presença, como titular ou reserva.

Desde muito cedo, Rogério conciliou seus estudos com o trabalho, e foi incentivado por seus pais a realizar diversos esportes, como tênis e vôlei. Sua história com o futebol começou no Sinop Futebol Clube, onde atuou como terceiro goleiro, aos 16 anos. 

Em 1990, pela força do destino (e que destino!), os dois goleiros do time tiveram problemas, e Ceni defendeu o gol da equipe mato-grossense, que se sagrou campeã estadual, um feito histórico para o time e para a região. Naquele mesmo ano, Rogério viajou a São Paulo e foi aprovado pelo então treinador de goleiros da equipe do São Paulo, Gilberto Morais, para atuar pelo clube.

Em 1993, Rogério ganhou seu primeiro título pelo time, a Copa São Paulo de Juniores, e fez parte, no ano seguinte, do Expressinho, que conquistou a Copa Conmebol. Apesar da sua excelente atuação – durante a semifinal contra o Corinthians, Ceni defendeu duas cobranças adversárias, que possibilitaram que o time avançasse para disputar a final -, o titular absoluto da equipe tricolor ainda era Zetti. Foram 5 anos e 205 jogos na reserva até que o clube fizesse um acordo com o goleiro bicampeão mundial para a rescisão.

Goleiro artilheiro e multicampeão: visão e atitude

“ São Paulo e Rogério Ceni é quase que uma coisa só” 

Marcelo Hazan

Em entrevista ao Arquibancada, o jornalista e narrador esportivo Marcelo Hazan comenta sobre a raridade de jogadores no cenário brasileiro da magnitude de Rogério: “É cada vez mais raro você ter um jogador desse tipo com tanto tempo de casa, sem trocar de clube, no futebol globalizado, moderno e com tanto dinheiro movimentado como atualmente. […] Porque aqui a gente é exportador de “pé de obra” […] E ele é um cara que contraria a lógica. Ele fica a vida inteira em um só clube, o que é algo raríssimo, mesmo naquele tempo que não tinha tanto êxodo de jogadores aqui do Brasil para fora. Ele fica mais de 20 anos e conquista praticamente tudo que era possível conquistar”.

A fala do jornalista demonstra que ter paciência e sapiência para entender que as coisas acontecem no tempo certo rendeu bons resultados ao goleiro. Após a saída de Zetti, Rogério pouco saiu debaixo das traves tricolores e quase nunca desfalcou o time nas décadas em que atuou. Em entrevista ao Roda Viva em 2006, o jogador comentou sobre como a visão da partida é diferenciada e privilegiada para quem está em campo em comparação aos torcedores:

Quem está atrás [do gol] sempre tem uma visão privilegiada. E o jogo dentro do campo é um, o jogo quando eu chego na minha casa e assisto é completamente diferente. […] Às vezes, no jogo, no campo, você acha que foi um jogo fenomenal, e quando você chega em casa, [pensa]  ‘Poxa, mas foi só isso?’. […] É uma vantagem para o goleiro ter o campo todo à frente”

Rogério Ceni ao Roda Viva, 2006

Foi com essa habilidade de percepção que Rogério notou que em 1997, o time não tinha grandes oportunidades durante as bolas paradas e, de maneira espontânea, passou a treinar 100 faltas por dia após o tempo de treino. A trajetória do goleiro que passaria a ser artilheiro em bolas paradas se iniciou ali, por sua proatividade em melhorar um ponto deficitário no jogo do São Paulo. 

Em 15 de fevereiro de 1997, em partida contra o União São João pelo Campeonato Paulista, o fruto de seu trabalho foi colhido: no minuto 45 do primeiro tempo, o jovem goleiro bateu no canto esquerdo do adversário, impossibilitando a defesa. Esse foi o primeiro de muitos que ele converteria. 

14 anos depois, também em uma partida pelo Campeonato Paulista (agora contra o Corinthians), ele entraria para a história: o primeiro goleiro a fazer 100 gols por um clube — marca que viria ser batida por ele mesmo ao final da carreira, finalizando suas atuações no gramado com 131 gols.

No período em que ficou no São Paulo, Rogério Ceni conquistou diversos títulos, levantando quase todos os troféus possíveis do futebol mundial. Ao todo, o goleiro faturou 18 títulos no profissional e quatro títulos nas categorias de base do clube paulistano.

O primeiro e o centésimo gol, as fotos têm 14 anos de diferença mas a alegria em marcar pelo clube permaneceu a mesmo [Reprodução/@SaoPauloFC]

Roooooogério Ceni!

Por diversas vezes, Rogério Ceni fez defesas memoráveis e atuações espetaculares que entraram para a história do clube. Na partida válida pelas oitavas de final da CONMEBOL Sulamericana de 2013, contra a Universidad Católica (Chile), o goleiro teve uma noite inspiradora e fez nove defesas impressionantes ao longo da partida. Apesar de ter sido vazado três vezes, a atuação possibilitou que o time pudesse avançar de fase na competição.

Em noite de Copa, a estrela de Rogério brilha e suas defesas ajudam o time na classificação. [Reprodução/X/@SaoPauloFC]

Naquela noite, jornalistas e narradores desacreditaram do que viram acontecer no Estádio San Carlos de Apoquindo: “O que acaba de fazer Rogério Ceni é, simplesmente, inumano. É o mito vivo do São Paulo […] Rogério Ceni, aos 40 anos, joga melhor do que nunca […] Não, não, não, não. É impossível […] o que Rogério Ceni acaba de fazer é incrível, me explique isso”, relatou Fernando Solabarrieta, narrador chileno que fazia a transmissão no FOX Sports. A partida foi tão marcante para o tricolor que, em 2023, o clube brasileiro lançou um documentário comemorativo de 10 anos do ocorrido.

Na final do Mundial de Clubes de 2005, Rogério Ceni foi fundamental para que o tricolor paulista conquistasse seu terceiro título mundial, conseguindo parar o Liverpool de Gerrard, que não levava gols há 11 jogos (um recorde para o time). Em um lance logo no início do segundo tempo, a equipe inglesa teve a oportunidade de empatar a partida, mas Ceni se mostrou diferencial na sua função, e defendeu a bola que poderia mudar o rumo do jogo. O programa Globo Esporte realizou, em 2015, um especial que analisou todos os parâmetros que fizeram um lance de poucos segundos ser tão comentado e reverenciado no futebol: a bola saiu dos pés de Gerrard a 110 km/h, e Rogério teve apenas 1,13 segundos entre a batida e sua defesa.

Nunca é um Adeus: a despedida do M1TO

“É aquela coisa: todo mundo sabia que ia chegar. Em algum momento ia acontecer, ninguém é eterno, e no pós, ia ficar aquele vazio”

Marcelo Hazan

Rogério Ceni em seu jogo de despedida do São Paulo, no Morumbi
Ceni se despede em noite com o estádio lotado [Reprodução/X/@SaoPauloFC]

A despedida de Rogério seguiu a grandeza e a simbologia que o jogador teve para o clube. No dia 11 de Dezembro de 2015, o Estádio Cícero Pompeu de Toledo recebeu cerca de 60 mil torcedores para a despedida do ídolo. “É como se o São Paulo tivesse reunido os Vingadores, os ídolos da sua história, numa só noite de celebração a um cara que é gigante”, comenta Hazan.

Após se aposentar dos gramados, o ex-jogador continuou estudando e, em menos de dois anos, voltou ao São Paulo, agora na condição de técnico. No entanto, sua passagem não teve bons números: nos 35 jogos em que Rogério comandou o tricolor paulista, o time conseguiu 14 vitórias, 11 empates e 10 derrotas.

Depois de sua saída, o treinador teve passagens pelo Fortaleza – onde ganhou a Série B do Brasileirão, a Copa do Nordeste e o Campeonato Cearense -,  Cruzeiro, e Flamengo – onde  ganhou a edição de 2020 do Brasileirão série A. Em 2021, voltou ao São Paulo, e levou o time para uma semifinal e duas finais de campeonato. Atualmente, está no comando do Bahia, e seu trabalho até o momento fez com que o tricolor baiano não fosse rebaixado em 2023, além de ganhar o Campeonato Baiano em 2025 e buscar uma boa campanha na Copa Libertadores da América.

A atuação de Rogério possibilitou que ele se tornasse o maior goleiro do país – e estivesse no top 10 goleiros do mundo -,  o jogador com mais partidas por um clube no Brasil e o dono de recordes inimagináveis para sua posição. Jogadores e atletas da magnitude de Rogério Ceni não devem ser esquecidos, mas sim reverenciados por tudo que fizeram pelo esporte.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima