por Natalie Majolo
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Rebentos da Internet, o que pensam da vida os muito bem informados jovens da Geração Z? Em seu último documentário, Eduardo Coutinho busca descobrir quem é o jovem dos tempos atuais. O cenário simplista não reflete a profundidade do tema abordado. Por meio de perguntas sutis, Coutinho guia as entrevistas realizadas com adolescentes do Rio de Janeiro que estão terminando o ensino médio em escolas públicas. Finalizado por João Moreira Salles e editado por Jordana Berg, Últimas Conversas (2015) não pode ser visto pelo seu criador, que veio a falecer após as gravações, em fevereiro de 2014. De maneira tristemente irônica, o documentário inicia com Coutinho questionando o motivo dele fazer filmes, já que “está velho demais”. O longa aborda questões que estão diretamente relacionadas ao universo dos jovens da geração atual, tais como sexo, aparência, identidade, bullying, preconceito e caráter. Pobres e da periferia, os adolescentes contam sobre sua vida, sua família, suas ideias e seus sonhos. Os problemas enfrentados por eles se repetem ao longo do filme: os traumas da infância refletem hoje na sua personalidade com muito mais força do que imaginamos.
Uma criança de 6 anos é a última pessoa a ser entrevistada. Vestida com um belo vestido e sapatinhos de verniz, fala um pouco sobre a sua realidade infantil e inocente. Filha de médicos, conta com a ajuda de mais duas pessoas para cuidar dela – uma babá e uma faxineira. A brutalidade do contraste social, então, é deixada clara. Enquanto umas famílias, em sua maioria carentes, se dispersam e se ausentam para ganhar a vida, seus filhos crescem desamparados, tristes pela falta de carinho. Outras mais abastadas e estruturadas, tem maior oportunidade de oferecer o amor que seus filhos precisam e desejam. A maneira subjetiva de induzir o espectador a matutar as informações sem escancará-las, traz a marca de Coutinho. Sob as miudezas, a crítica à banalidade da infância surge entre a crítica à desigualdade social. Percebemos o quanto somos o que somos por causa dos acontecimentos de quando éramos crianças. Inocentes, os pequenos aceitam os outros da maneira como são. Os adultos, cercados de preconceitos e concepções, acabam por esquecer a coisa mais simples que uma criança necessita: amor. .