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Um personagem nada elementar

Para os amantes da espionagem, o nome que se vem a mente quando levantada essa temática é, quase em uníssono, o mesmo: Sherlock Holmes. Desenvolvido por Arthur Conan Doyle, o personagem tornou-se um ícone imortalizado em suas peculiaridades, personalidade memorável, excentricidades e na habilidade única em raciocínios lógicos que são empregados no desenvolvimento dos mistérios …

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Para os amantes da espionagem, o nome que se vem a mente quando levantada essa temática é, quase em uníssono, o mesmo: Sherlock Holmes.

Desenvolvido por Arthur Conan Doyle, o personagem tornou-se um ícone imortalizado em suas peculiaridades, personalidade memorável, excentricidades e na habilidade única em raciocínios lógicos que são empregados no desenvolvimento dos mistérios e casos por ele analisados.

Poucos sabem, entretanto, que a inspiração do espião não foi proveniente da simples casualidade, mas veio de um professor de diagnóstico de Doyle, Dr. Joseph Bell, que mesmo após um ínfimo contato com seus pacientes era capaz de formular hipóteses, deduzir sobre a vida dos mesmos e chegar à conclusões, em sua maioria certeiras, não somente relativas ao campo médico, mas também ao cotidiano daqueles que atendia. Muito além da área psíquica e comportamental, o professor inspirou os atributos físicos de Holmes: “Era magro, vigoroso, com rosto agudo, nariz aquilino, olhos cinzentos penetrantes, ombros retos e um jeito sacudido de andar. A voz era esganiçada. Era um cirurgião muito capaz, mas seu ponto forte era a diagnose, não só de doenças, mas de ocupações e caráteres.”, disse Doyle ao periódico The National Weekly, publicado em 1923.

A história Sherlockiana iniciou-se em 1887 na obra Um estudo em vermelho (A Study in Scarlet. Reino Unido. 1887.), em que o espião aparece pela primeira vez. Seu caráter minuciosamente atento a detalhes deixou sua marca quando, nessa obra, conheceu Watson e em instantes adivinhou que ele esteve no Afeganistão. Dai por diante, Watson passaria a ser seu fiel companheiro em todas as histórias.

De acordo com seu criador, Sherlock residiu em Londres entre os anos de 1881 e 1903 na Beker Street 221B. Erudito, Holmes sabe tocar violino e detém o conhecimento de inúmeras ciências como química, anatomia, geologia e história. Com certa seriedade, ele valoriza o âmbito racional em detrimento do sentimentalismo e para se livrar do ócio e monotonia faz uso regular de cocaína e utiliza-se do cachimbo que, segundo ele, tem a função de elucidar sua mente. Sherlock também possui conhecimento de práticas de defesa como boxe, esgrima e domina técnicas infalíveis de camuflagem. O personagem foi formulado a ter uma personalidade absolutamente memorável, marcada por certa arrogância, orgulho e singularidade nas histórias.

Obsessivo em decifrar mistérios, através de sua lógica dedutiva e metodologia científica, vale-se de uma exaustiva observação, coletando dados, refletindo sobre os mesmos por horas, formulando teorias e chegando a conclusões certeiras. As especificidades são tantas que a existência de um verdadeiro Sherlock Holmes chegou a ser cogitada. O endereço 221b foi incorporado na rua britânica e deu lugar a um museu com o nome do personagem.

Imortalizado em chapéu xadrez de caçador, lupa e cachimbo, ele invadiu o imaginário de inúmeros leitores e conquistou o público sendo revivido em teatros, filmes e séries há 125 anos.

Sherlock no cinema
As adaptações para tela começaram ainda no cinema mudo. No curta de Arthur Marvin, Sherlock Holmes perplexo (Sherlock Holmes Baffled. EUA. 1900), o detetive aparece com um cachimbo a boca, em uma sequência de cenas rápidas procura capturar um ladrão. Com duração de aproximadamente 30 segundos, a gravação, registrada em 1903, perdeu-se e foi recuperada apenas no ano de 1968 nos arquivos da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Veja o curta recuperado neste link.

Em 1905 estreou o primeiro longa-metragem do espião: Adventures of Sherlock Holmes; or, Held for Ransom (EUA. 1905.), interpretado por Maurice Costello. Mas foi em 1939 que Basil Rathbone em O Cão dos Baskerville (The Hound of the Baskervilles. EUA. 1939.) encarnou o personagem. Ao todo o ator interpretou Holmes em 14 filmes e junto com Nigel Bruce, que fazia Dr. Watson, iniciou o programa de rádio The New Adventures os Sherlock Homes que durou sete anos e contou com 220 episódios. Em O Cão dos Baskerville o detetive é chamado para desvendar um mistério aparentemente sobrenatural envolvendo um cão fantasma que mata os membros de uma rica família. O cabelo posto minuciosamente no lugar, a rosto austero, o cachimbo e a bengala marcam presença no longa. A mania de observar e deduzir destacam-se nas cenas preto e branco: O personagem é único.

O último filme protagonizado pelo ator na pele do famoso espião foi “Melodia Fatal” (Dressed to Kill”), em 1946. Os traços de Holmes são nitidamente identificáveis em sua vestimenta, em sua habilidade como violinista e em seu desenvolvimento lógico. O filme, como em quase todos os outros, não apresenta cenas de ação e movimentação excessiva, mas concentra-se nos métodos de investigação, personalidade, detalhes e raciocínio do detetive que é apresentado de maneira quase fantástica, desvendando os mistérios apenas ao olhar para o suspeito e mostrando o motivo pelo qual Rathbone se consagrou no papel.

Visões de Sherlock Holmes (The Seven-Per-Cent Solution. EUA. 1976.) foi lançado em 1976 e sob a direção de Hebert Ross foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, sendo baseado no romance de Nicholas Meyer The Seven-Per-Cent Solution: Being a Reprint from the Reminiscences of John H. Watson, M.D. (EUA. 1974.). No filme, Watson, interpretado por Robert Duvall, convence Holmes, Nicol Williamson, a viajar para Viena e se consultar com Sigmund Freud para tratar de sua dependência de cocaína.

Holmes, por sua vez, embarca na investigação do sequestro de Lola Deveraux, também paciente de Freud. O ponto principal do filme é a abordagem do vício que o espião tem em cocaína, vício este que é mencionado em várias obras de Doyle, mas ignorado nos longas até então.

Em 1979, dirigido por Bob Clarck, o filme Assassinato Por Decreto (Murder by Decree. Inglaterra. 1979.) apresenta Holmes compenetrado na investigação de assassinatos cometidos por Jack, o Estripador, serial killer que aterrorizou Londres ao realizar uma série de ataques a prostitutas no ano de 1888. A Londres Victoriana é representada de forma sombria,carregada de névoa e escuridão. Sherlock aparece um pouco mais moderno, mas não menos sério, compenetrado no mistério e em suas técnicas de observação. Ele é interpretado por Christopher Plummer e James Mason desempenha o papel de Dr Watson, ambos em grande performance. Veja um trecho do filme neste link.

Um inglês no País tropical
Jô Soares com seu romance de 1995 “O Xangô de Baker Street” deu origem a um filme brasileiro sobre Holmes com o mesmo título do livro. Lançado em 2001, a trama apresenta o detetive (Joaquim de Almeida) e seu amigo Watson (Anthony O’Donnell) no Rio de Janeiro. Os dois tem a tarefa de investigar o sumiço de um Stradivarius e a série de assassinatos que começam a acontecer em decorrência do violino. A adaptação foge um pouco dos padrões e perde um pouco o foco de algumas das principais feições de Sherlock. Com um ar mais descontraído, ele aparece um pouco “abrasileirado”.

Encantado pelos costumes e diferenças do país, o filme traz um lado cômico nas aventuras do espião. Veja um pouco do personagem no trailer do filme, disponível neste link.

Produções recentes
Chegou às telonas em 2009: Sherlock Holmes (EUA. 2009.), primeiro filme com Sherlock lançado nos Estados Unidos desde 1988 em Sherlock e Eu (Without a Clue. EUA. 1988.). No longa Robert Downey Jr vive o espião em uma produção repleta de efeitos e ação. O filme não foi baseado em uma história oficial. Dr. John Watson (Jude Law) vai se casar com Mary Morstan. Holmes, não contente com o casamento, convida o amigo a uma última aventura para desvendarem um caso que envolve Lorde Blackwood (MarkStrong), preso anteriormente por eles pela realização de rituais de magia negra e pela tentativa de sacrificar uma jovem. Entretanto, ao ser condenado e enforcado, Blackwoode misteriosamente “ressuscita” e, assim, Holmes é chamado para resolver o mistério. Veja aqui o trailer do filme.

Dois anos após o lançamento e embalados pelo sucesso de público do primeiro filme “Sherlock Holmes”, em 2011 “Sherlock Holmes – O Jogo das Sombras” (Sherlock Holmes – A Games of Shadows) estréia e mais uma vez Robert Downey Jr interpreta o detetive. Assim como o filme anterior, ação não falta na trama. Dessa vez o príncipe da Áustria é encontrado morto após supostamente cometer suicídio. Todavia, Holmes acredita que tudo não passa de um plano criado pelo professor Moriarty (Jared Harris), seu maior inimigo e com a ajuda de Watson (Jude Law) e de uma vidente chamada Sim (Noomi Rapace), Sherlock busca desvendar esse grande mistério.

Ambos os filmes apresentam um Sherlock moderno. O Holmes do século XXI ganha um perfil distinto das interpretações clássicas: O cabelo aparece mais longo, com fios desconectados e as roupas estão quase sempre amassadas. O chapéu xadrez, tão conhecido e associado ao detetive, deu lugar a um chapéu de copa um pouco mais alta, preto e que compõe, bem como a barba por fazer, um visual mais” desleixado” para um Sherlock mais adaptado aos padrões atuais.

O espião aparece um tanto quanto briguento, diferenciando-se dos filmes antigos e das histórias de Doyle que focavam mais no aspecto dedutivo, lógico e investigativo do personagem. Nessa nova adaptação, ele parece vencer mais pela força do que pela esperteza, fato que desagradou os antigos fãs de Holmes por perder um pouco de suas características iniciais, mas que ao mesmo tempo agradou grande parte da nova geração por apresentar um personagem mais contemporâneo. As cenas de ação são inúmeras e as sequências sucessivas de imagens dão ao filme mais dinâmica, prendendo a atenção do espectador e, através da rapidez que passam de uma para outra, remetem a agilidade de Holmes.

Entretanto, alguns aspectos parecem imutáveis: Sherlock ainda utiliza-se da música, especificamente o violino, como fonte de inspiração. Sua capacidade incomparável de camuflagem se faz presente em diversas cenas dos filmes e seu companheiro Watson continua permanentemente ao seu lado. Ele se mantém obcecado em desvendar mistérios e o orgulho ainda é notado em sua personalidade. Sua curiosidade em experimentos químicos também é retratada assim como seu aspecto ora hiperativo, ora recluso, que exemplifica o humor do espião.

Holmes e suas características singulares continuam a inspirar personagens mesmo após anos de sua criação. Além do cinema, adaptações televisivas são baseadas nele. Podemos citar a série Monk: Um detetive diferente (Monk. EUA. 2002-2009), em que o detetive Adrian Monk (Tony Shalhoulb) apresenta vários de seus atributos. Dr. Gregory House (Hugh Laurie), da série Dr. House (House M.D. EUA. 2004-2012.) também foi notoriamente fundamentado em Sherlock com sua capacidade dedutiva, epifanias e revelações. House também mora no número 221 e tem um amigo fiel e inseparável, Dr. Wilson.

Cada geração realizou uma releitura do personagem, seja por meio das telas de cinema ou através do tubo televisivo. Privilegiando aspectos em detrimento de outros, vários Holmes foram construídos e diferenciados ao longo dos anos. Mas entre suas inúmeras adaptações uma coisa existe em comum: todas conquistaram o público.

Para ele sucesso é “Elementar, meu caro leitor”.

Imagens: Divulgação

Susana Berbert
susanaberbert@gmail.com

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