No dia 7 de maio, foi realizada mais uma edição do USP Talks, evento promovido pela Pró-Reitoria da Universidade de São Paulo que realiza debates com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) sobre temas de interesse público com o objetivo de aproximar a comunidade científica da população como um todo. Desta vez, o evento aconteceu por meio de uma live no Canal da USP no Youtube, devido ao isolamento social decorrente da pandemia do coronavírus, e foi organizado em apoio à Marcha Virtual pela Ciência, uma iniciativa da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
O tema foi “Ciência x Coronavírus”. Os palestrantes discutiram a situação atual da pandemia, o isolamento social, a genética do vírus, a produção de vacinas, os testes existentes e compartilharam com o público alguns estudos e descobertas recentes ao redor do mundo. O evento contou com a moderação de Herton Escobar, jornalista científico e repórter do Jornal da USP.
Esper Kallás, médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, preparou uma apresentação para ilustrar o panorama geral da pandemia do Covid-19, que até o momento havia registrado mais de 3,7 milhões de casos e levado pelo menos 300 mil pessoas à morte.
O especialista também apresentou as características clínicas da doença, que são “relativamente simples na maioria das pessoas”: febre, tosse e fadiga. Em casos mais graves o vírus agride o pulmão causando uma inflamação que pode evoluir a ponto de exigir a intubação ou o uso de respirador pela pessoa infectada.
A fala seguinte foi de Ester Sabino, médica imunologista, professora da Faculdade de Medicina e pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical da USP. Ela forneceu informações sobre a genética e a história do coronavírus e mostrou o esforço internacional para seu sequenciamento, o que é importantíssimo para todos os outros estudos acerca do assunto como o desenvolvimento de vacinas, por exemplo.
Além disso, a pesquisadora chamou atenção para o fato de ser muito comum e natural a entrada de vírus na espécie humana. A discussão sobre o vírus ser originário de laboratório nos impede de observar o ambiente e entender como as mudanças provocadas na natureza facilitam a ocorrência de epidemias.

Jorge Kalil, que é médico imunologista, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Laboratório de Imunologia do Incor, explicou como funciona o desenvolvimento de vacinas. Ele contou que existem mais de cem propostas de vacinas para o coronavírus no mundo e que seu grupo de pesquisa está a ponto de submeter seu projeto aos testes clínicos para então entrar na grande “competição benigna” da produção de vacinas. O pesquisador também destacou a importância de se produzir uma vacina no Brasil: estaríamos exportando, dando preferência ao território brasileiro e adaptando-a às necessidades nacionais.
Paola Minoprio, biomédica imunologista, pesquisadora do Instituto Pasteur de Paris e coordenadora da Plataforma Científica Pasteur-USP, falou sobre testes para o coronavírus que estão disponíveis atualmente e sobre a possibilidade de desenvolvermos imunidade. Ela afirmou que o teste PCR é atualmente o mais garantido para identificar a presença do vírus. Minoprio se mostrou contrária aos testes de farmácia: para obtê-los, pessoas sairiam nas ruas e colocariam suas vidas em risco por uma resposta que não sabemos se é confiável.
Já Paulo Saldiva, médico patologista e professor da Faculdade de Medicina deu mais explicações sobre como o coronavírus age em nosso organismo e como a doença pode progredir. Atentou também sobre a heterogeneidade espacial da cidade de São Paulo, na qual as taxas de transmissão e mortalidade do vírus variam em até 10 vezes dependendo da região.
O pesquisador explicou como a densidade populacional e a mobilidade de uma região colabora para a transmissão de vírus, dando exemplos históricos de epidemias e mostrando como nós criamos um “caldo de cultura” muito propício para que o vírus encontre hospedeiros. Além disso, lembrou que o estudo dessa pandemia tem mostrado cada vez mais a importância da ciência e da cooperação internacional.
Os palestrantes afirmaram que a capacidade de transmissão do vírus será reduzida quando atingirmos a imunidade de rebanho (quando 70% ou 80% da população entrou em contato com o vírus e já não o transmite) ou quando desenvolvermos uma vacina. Todos os palestrantes apostam no isolamento social como a única forma de mitigar o problema nessa fase exponencial de transmissão, mesmo Esper, que de início era cético em relação a este método, mas foi convencido pelas experiências de outros países. Kalil também lembrou que precisaremos planejar a saída do isolamento de maneira muitíssimo cuidadosa e partir de políticas individualizadas para os diferentes estados e municípios do Brasil, visto que as taxas de transmissão e mortalidade variam muito de uma região à outra.

Posteriormente, Ester Sabino comentou sobre o evento em entrevista à Jornalismo Júnior. Ela afirmou que iniciativas como o USP Talks são uma grande oportunidade para a Universidade e a comunidade científica estabelecerem contato com a população, o qual é extremamente importante e pode, por exemplo, combater o discurso de grupos anti-ciência que procuram distorcer a realidade. Ela também enfatizou que a luta por salvar vidas e a economia não podem existir como uma dicotomia, mas precisamos achar soluções para as duas coisas através de projetos conjuntos.