Simples anúncios na calçada e na parede indicam comida africana vegana. Por fora, se vê apenas uma placa que aponta um restaurante, apontada em direção a uma loja de fachada artística branca e preta, conhecida como Fatiado. Ao se aproximar do local, à direita, podemos ver uma pequena entrada,com escadas, e um papel pregado na parede escrito Congolinária. Chegamos ao destino certo.
Ao subir as escadas, chegamos ao restaurante. Dividido em dois ambientes pequenos, o leve aroma de incenso traz sensações de aconchego. Ao sentar à mesa, recebemos o cardápio pela simpática Divine, funcionária vinda do Congo. Há várias opções de comida, todas veganas. Desde salgados próprios da África (chamados sambusas) à outros pratos que atraem por sua inventividade, como couve na mwamba, creme de sementes de girassol e acarajé africano. O escolhido foi o combo, promoção que incluía suco típico, prato principal, que foi nhoque de banana da terra como molho de semente de girassol e espinafre, e fruta de sobremesa, por R$30,00.
A comida se revela condimentada, fresca e cremosa. O tempero sacia. Entre uma diversidade de sabores e texturas, a representatividade é a especiaria banhada no veganismo e raízes africanas.
A representatividade, no entanto, não se limita apenas no cardápio. A equipe de funcionários é negra e, preferencialmente, imigrante. Na época da visita ao local, ela era composta por uma congolesa, um angolano e um brasileiro, além do chef do Congolinária, Pitchou Luambo, imigrante congolês.
A função de chef se expande às cozinhas do restaurante e ganha presença e atuação nas redes sociais. Pitchou também é responsável pela imagem do restaurante nas mídias. Com grande repercussão nas redes sociais, o projeto Congolinária: descobrindo os sabores do Congo, mais do que buscar a representatividade da culinária africana, propõe reflexões políticas e sociais acerca da África hoje e de sua relação com o Ocidente. No Facebook, são postados vídeos de diversos temas: há aqueles que questionam a visão estigmatizada ao continente africano promovida pela versão oficial da história, e há outros que informam vários ingredientes muito utilizados para a alimentação na África.
Outro grande destaque é a história do surgimento do restaurante. Em entrevista para o Sala 33, Nathalie Guimarães, também dona do estabelecimento e sócia de Pitchou, conta a história do Congolinária. Nathalie atuou como advogada voluntária no GRIST (Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem Teto), onde conheceu Pitchou, que liderava esse grupo e já cozinhava comidas típicas do Congo em alguns eventos. Náthalie teve a ideia de abrir um restaurante com Pitchou. “O Congolinária surge pelo encontro dessas duas pautas: pela necessidade de recursos financeiros para dar continuidade ao grupo e pela necessidade de um refugiado se empoderar”, diz a dona. O projeto atuou, inicialmente, em eventos gastronômicos, feiras e food parks, e, há um ano, possui um espaço físico, concretizando o restaurante, que ganha cada dia mais visibilidade.
Segundo Nathalie, Pitchou já cozinhava comidas vegetarianas pois, no Congo, come-se carne numa menor frequência. No entanto, pela participação da brasileira no projeto, que é vegana, ele adaptou-se à essa culinária, sem deixar a essência congolesa. Algum tempo depois, Pitchou tornou-se vegano por uma tomada de consciência natural, e propõe uma reflexão sobre o “nutricídio negro”. Isto é, o consumo de carne em maior quantidade, na África, foi incorporado pelos europeus ao invadir o território. Assim, o veganismo se torna, também, um aliado à pauta de resistência negra.
Entre representatividade cultural de uma culinária vinda da África, o Congolinária dá visibilidade aos direitos humanos, buscando pensar a realidade dos refugiados no contexto mundial atual, e aos direitos dos animais, por meio de uma comida vegana.
Parabéns pele reportagem da culinária mineira ,sou mineira e chefe de cozinha mas moro em Curitiba , tenho um restaurante em Curitiba , quando vier em Curitiba venha nos visitar obrigada.maria.