A Copa Mercosul foi o maior campeonato de futebol da América Latina, perdendo apenas para a Libertadores da América. De 1998 a 2001, o campeonato se dedicou a unir os grandes times dos países do bloco econômico de mesmo nome para disputarem entre si.
Ao todo, eram 20 equipes convocadas e divididas em quatro grupos. Os dois primeiros colocados de cada um deles passavam para as fases eliminatórias, até disputarem as finais. Representando o Brasil, jogavam Corinthians, Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Vasco da Gama.

Se no fim do segundo jogo a margem de diferença entre os times ainda fosse pequena, havia uma terceira. Foi assim que aconteceu em 1998 entre o Cruzeiro e o Palmeiras, por exemplo. E dois anos depois, o time paulista voltou a um terceiro jogo de final, dessa vez contra o Vasco da Gama.
Marcado por momentos de tensão, frustração, e uma vitória emblemática que deu aos cariocas o status de “Time da Vidada”, a final histórica da terceira edição Copa Mercosul completa 20 anos hoje. Nesta reportagem para o Arquibancada você irá saber o que tornou aquela partida tão importante para o futebol brasileiro e principalmente para o Vasco, que calou a todos os presentes no Estádio Palestra Itália no dia 20 de dezembro de 2000.
O caminho até a final
No Mercosul de 2000, o Vasco — que até então tinha como técnico Oswaldo de Oliveira — ficou com o Grupo E, ao lado do Atlético Mineiro, Peñarol e San Lorenzo. Logo no início da temporada, o time apresentou certas dificuldades. A classificação para a segunda fase, em segundo lugar, só veio na última rodada, após uma vitória de 2 a 0 sobre o Atlético Mineiro.
Nas quartas de final, o Time da Colina enfrentou o Rosário Central. A disputa foi para os pênaltis após ganharem de 1 a 0 e serem derrotados pelo mesmo placar. Com um placar de 5 a 4, o Vasco garantiu seu lugar na semifinal contra o River Plate, que havia jogado contra o Flamengo. A equipe vascaína também levou a melhor contra os argentinos e garantiu seu lugar na final: fizeram 4 a 1 no jogo de ida e 1 a 0 no de volta.
Já o Palmeiras fazia parte do Grupo B, ao lado do Cruzeiro, Independiente e Universidad Católica, e tinha Marco Aurélio como técnico. O time paulista também se classificou para a segunda fase em segundo lugar, ao lado do Cruzeiro, após os dois times empatarem no último jogo. Se enfrentaram novamente nas quartas, mas o Palmeiras conseguiu se classificar para a semifinal após duas vitórias contra o time mineiro. O Atlético Mineiro foi o próximo adversário do Verdão. No primeiro jogo, a goleada foi 4 a 1 para o Palmeiras; no segundo, o time também levou uma vantagem de 2 a 0.
Quatro dias antes dos times se enfrentarem na final, o Vasco teve um problema. Após jogar com o Cruzeiro e empatar em casa na semifinal do Campeonato Brasileiro, o técnico Oswaldo de Oliveira deu folga aos jogadores do time. A decisão desagradou Eurico Miranda, vice-presidente do time, que demitiu Oliveira. Joel Santana assumiu o comando da equipe.
“Segundo anunciado pela imprensa na época, dois fatores foram decisivos para a demissão do treinador: horário de treinamento da equipe e um abraço ao Felipão (na época técnico do Cruzeiro)”, comenta Elisvaldo Coelho, fundador do site SuperVasco. O torcedor ainda acrescenta que a troca de treinador serviu de motivação a mais para que o time pudesse conquistar o título de Campeão da Copa Mercosul.
Um início frustrante
![Composição dos times no campo do Palestra Itália [Imagem: João Timm/Jornalismo Júnior]](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2020/12/Vasco-2000-Infografico-Vic-e-Rebeca.png)
A final aconteceu no Parque Antártica. O time alviverde, que jogava em casa, fez o primeiro gol numa cobrança de pênalti feita por Arce aos 37 minutos do primeiro tempo. Após o balançar da rede, o time do Vasco, que já estava abalado pela súbita troca de técnico, ficou ainda mais estremecido. Logo no recomeço do jogo, o segundo gol do Palmeiras, feito por Magrão. Aos 45 minutos, Tuta marcou mais um gol para o Verdão — e a torcida comemorou, num uníssono: “É campeão!”. Nesse momento, o Vasco já estava completamente desnorteado; uma virada naquele momento era impensável.
“Mas os deuses do futebol escrevem aquelas linhas que parecem ser tortas, mas são retas, que surpreendem a todos e não tem muita explicação”, conta Luiz.
A virada
No segundo tempo, as coisas já não eram mais como antes. Mesmo que o placar de 3 a 0 para o Palmeiras parecesse imbatível, os cariocas não estavam dispostos a aceitar a derrota tão facilmente. Segundo Luiz, o sucesso do primeiro tempo para os paulistas gerou uma espécie de margem de conforto:
“Claro que o Palmeiras pisou um pouco menos fundo no acelerador no segundo tempo. O time do Vasco era muito bom, mas o Palmeiras – que também tinha um time bom e um conjunto e harmonia legais – com três gols no primeiro tempo e um jogador do Vasco expulso, consideraram que o jogo estava ganho”, comenta.
Os vascaínos não tinham a mesma perspectiva. Joel Santana tirou Nasa de campo e colocou Viola na tentativa de dar ao time mais força ofensiva. Aos 14 minutos da segunda parte do jogo, Romário marcou o primeiro gol para o time no pênalti sofrido por Juninho Paulista. Mostraram que, diferente do que os paulistas haviam pensado, ainda não tinham desistido.
“Eles cresceram e assustaram o Palmeiras, que começou a ter problemas e dificuldades para enfrentar o Vasco”, lembra. O narrador ainda afirma que, mesmo com a composição e harmonia dos até então líderes da partida, os cariocas eram superiores no quesito técnica e, principalmente, tinham muita garra para reverter a situação. Tudo isso contribuiu para que a pontinha de esperança se prolongasse ao decorrer do segundo tempo.
Mesmo assim, Romário não comemorou. Apenas recolheu a bola e voltou para a partida, pois o 3 a 1 ainda não era suficiente para o seu alívio e o de seus companheiros. No entanto, dez minutos depois, um novo pênalti foi dado a favor do Vasco. Mais uma vez, Romário o cobrou, e mais uma vez, Romário garantiu um gol para somar ao placar. “Normalmente um time que está perdendo de 3 a 0 não faz o que o Vasco fez. Eles acreditaram na vitória que não era pra acreditar em condições normais”, relembra Penido.

Com um jogador a menos em campo, aquele poderia ser o fim da esperança vascaína, mas não foi. Após oito minutos, Juninho Paulista marcou o gol de empate. Ele e a torcida vibraram como nunca. Os vascaínos, que no início desacreditavam do sucesso do time carioca, passaram a empurrá-lo ainda mais para cima do Palmeiras. Para Luiz, esse gol foi cirúrgico para levantar ainda mais o ânimo dos torcedores: “O terceiro gol foi apoteótico, um alívio, porque o jogo estava empatado e uma possibilidade até então inexistente passou a existir. Isso já de um impacto bastante grande e deve ser considerado”
O time mostrou que qualquer minuto a mais ou a menos fazia a diferença, e era justamente isso que faltava para o fim oficial do jogo: os três minutos de acréscimo. Faltando segundos para o apito final, Juninho Paulista, que estava com a bola, tentou marcar o último gol. Contudo, ela foi rebatida pelo goleiro palmeirense.
Quem a recebeu de volta foi Romário, que chutou e, dessa vez, acertou. Era mais um gol, o da virada. Segundo o narrador, aquele foi, indubitavelmente, o momento mais marcante do jogo. “Esse momento consagrou o título, pois um jogador craque, renomado, faz o quarto gol para o seu time em uma virada histórica, considerada a maior do futebol”, afirma.
Romário marcou três dos quatro gols vascaínos, e por mais que sua atuação tenha sido gloriosa para o resultado final, ele não fez isso sozinho. Como destaques, Penido cita os ataques de Euler, a inteligência de Juninho Pernambucano, a agilidade de Juninho Paulista e a atuação fora do normal de Paulo Miranda. “Eles renderam o que se esperava e talvez até um pouco mais”, opina.
Perguntado sobre a importância da final da Copa Mercosul de 2000 para o Vasco hoje, Luiz afirma que ela é a mesma que será daqui mais dez, 20 ou 30 anos: “Esse fato histórico, o tempo não apaga, ele é engrandecido. A importância desse título para o Vasco não pode ser medida, talvez é um dos mais importantes que um clube brasileiro tenha conseguido, muito pela dramaticidade e especificidade daquele jogo”.
O narrador também fala que aquela decisão transcendeu as barreiras do futebol, foi muito mais do que isso. Foi uma decisão emocionante aos jogadores, à torcida e até mesmo a ele, que torcia para os cariocas e diz nunca ter escondido isso, pois não foi uma partida comum. “O Vasco tem que ter orgulho, tem que cultuar essa memória sempre, é um fato que poderão contar na sua centenária e fantástica história como sendo uma das páginas de ouro”, conclui.