Japão e Croácia chegaram ao Catar para a disputa da Copa do Mundo de 2022 com expectativas distintas. Se por um lado os Samurais Azuis caíram em um grupo no qual as projeções de classificação para as oitavas de final eram baixas (com Espanha, Alemanha e Costa Rica), por outro os Ardentes eram favoritos a passar de fase no Grupo F, com Bélgica, Marrocos e Canadá.
Na prática, porém, ambos os grupos tiveram surpresas: o Japão conseguiu duas viradas fantásticas diante da Alemanha, na estreia, e da Espanha, na última rodada, e se classificou em primeiro lugar – com a Espanha em segundo -, mesmo tendo perdido para a Costa Rica. Já no Grupo F, a Croácia se classificou, como previsto, mas com uma companhia diferente: a Bélgica ficou para trás, e o Marrocos foi líder do grupo. Os croatas empataram por 0 a 0 com Marrocos e Bélgica e golearam o Canadá por 4 a 1.
Pré-Jogo: times confiantes
O Japão buscava a classificação para as quartas de final pela primeira vez em sete participações. Em 2018, a classificação escorreu pelos dedos dos japoneses, que venciam os belgas por 2 a 0 e, por inocência tática, permitiram a virada – se passassem, enfrentariam o Brasil. Já a Croácia, em sua sexta Copa, já tinha passado em 1998, quando terminou a Copa na terceira posição, e em 2018, quando foi vice-campeã.
Antes do jogo, Zlatko Dalić, treinador croata, falou sobre o intercâmbio entre jogadores jovens e experientes na seleção, utilizando os zagueiros como exemplo: “Joško Gvardiol (20) é o melhor zagueiro do mundo. Podemos ter orgulho dele. Ele tem grande apoio do Dejan Lovren (33) e recebe conselhos do [Domagoj] Vida (33) também”, explicou. Juranović também falou sobre o assunto e disse o quanto ver Luka Modrić correndo, aos 89’ de jogo, motiva os mais jovens a se esforçarem mais. Mal sabia ele que Modrić e companhia teriam que correr muito mais nas oitavas.
Primeiro tempo: Japão eficiente, Croácia lenta
Em relação à vitória contra a Espanha, o Japão teve três mudanças: Itakura, Tanaka e Kubo saíram para as entradas de Tomiyasu, Endo e Doan. O último foi um dos grandes destaques dos Samurais Azuis por ter marcado os gols de empate contra Alemanha e Espanha – em ambas as oportunidades saindo do banco. Esse é, inclusive, um ponto a se destacar da seleção japonesa, que cresceu enquanto elenco e conjunto com o treinador Hajime Moriyasu. Dos quatro gols marcados na fase de grupos, três vieram dos pés de suplentes.
A Croácia, por sua vez, teve duas alterações em relação ao empate com a Bélgica: Livaja saiu para Petković (jogador de menor mobilidade e de maior capacidade de conclusão) entrar, enquanto Sosa, de ótima atuação contra os belgas, deu lugar a Barišić, fora do jogo devido a uma contusão.
O jogo começou equilibrado, com a Croácia tendo mais a posse de bola e o Japão criando oportunidades a partir da recuperação e aceleração das jogadas. Com 7’, a primeira grande chance para os croatas: Tomiyasu falhou, Perišić aproveitou e bateu cruzado. O goleiro Gonda defendeu e Kramarić, no rebote, não conseguiu finalizar para o gol. A partir desse momento, o Japão cresceu, explorando especialmente o lado esquerdo da defesa da Croácia, desfalcada de Sosa. Ito teve várias oportunidades de cruzamento, livre, que não tiveram conclusão a gol.
Enquanto o Japão parecia mais objetivo no ataque, sempre buscando chegar ao gol adversário, a Croácia – assim como na partida de estreia contra o Marrocos – era lenta e não conseguia fazer seu excelente meio-campo, com Brozović, Kovačić e Modrić, prevalecer. Após lançamento fantástico do zagueiro Gvardiol, melhor em campo diante da Bélgica, Petković dominou, avançou, mas não conseguiu bater a gol, nem servir um companheiro, e desperdiçou uma boa oportunidade aos 26’.
Esse cenário se manteve e aos 41’ Morita encontrou Maeda, que ganhou de Modrić e tocou para Endo. Ele cortou a marcação e achou Kamada, que finalizou para fora. O Japão começou a equilibrar a posse de bola à medida que a Croácia se mantinha lenta, e depois de dois escanteios consecutivos, sendo um deles cedido sem a menor necessidade por Juranović, o Japão chegou ao gol: em jogada ensaiada, Doan cruzou para a área, Yoshida tocou para o meio e Maeda marcou pela primeira vez no Mundial aos 43’. 1 a 0 para os Samurais Azuis!
Segundo Tempo: evolução croata e equilíbrio em campo
A segunda etapa começou semelhante ao modo como a primeira terminou, com o Japão mais rápido e eficiente e a Croácia lenta. No entanto, apesar da dificuldade de criação, a experiência e o poder de decisão fizeram a diferença para os Ardentes. Lovren levantou de fora da área e Perišić subiu mais alto que a defesa japonesa para tocar de cabeça no canto esquerdo de Gonda. 1 a 1!
Logo depois, aos 57’, Endo bateu forte de longe e Livaković defendeu. Ensaiava-se uma evolução no confronto, com as duas equipes mais ligadas e procurando o gol. Dalić tirou Petković para a entrada de Budimir, de características semelhantes. A aposta se mantinha na bola aérea e no jogo físico, fatores no qual os croatas costumam prevalecer. E o gol realmente empolgou a Croácia, que arriscou com Modrić, de longe, aos 61’, para grande defesa de Gonda. Vendo o crescimento rival, Moriyasu tirou Nagatomo e Maeda para as entradas de Mitoma e Asano, visando a aumentar o vigor físico da equipe.
Aos 67’, Kramarić arriscou de fora, a bola desviou e sobrou para Budimir, sozinho na pequena área, testar para fora. Depois disso, Pašalić – que é meio-campista – entrou no lugar de Kramarić, e Sakai substituiu Kamada, fortalecendo a marcação japonesa pelo lado direito da defesa e liberando Ito, atacante de origem, mas que fazia a ala direita, para jogar mais a frente. Com 77’, Perišić avançou com a bola e bateu de longe para a defesa de Gonda. A partir daí, o jogo começou a entrar em um ponto no qual nenhuma das duas equipes se dispunha a arriscar muito, já que um gol tomado poderia significar a desclassificação.
Aos 87’, Doan, visivelmente cansado, deu lugar a Minamino no time japonês, e logo o árbitro Ismail Elfath, nascido no Marrocos mas representante da federação estadunidense, encerrou o jogo e decretou a prorrogação pela primeira vez no Catar.
Prorrogação, ao pé da letra
Para o Japão, foi apenas a segunda disputa de prorrogação em Mundiais. Na África do Sul, em 2010, perdeu nas penalidades para o Paraguai nas oitavas de final após empate por 0 a 0 no tempo normal. Do lado croata, sem novidades: em 2018, o Time Xadrez passou por três prorrogações para chegar à final diante da França, na Rússia. Contra Dinamarca e Rússia, empates por 1 a 1 e 2 a 2, respectivamente, e vitória nos pênaltis. Já diante da Inglaterra, na semifinal, vitória de virada por 2 a 1 ainda na prorrogação.
Em campo no Catar, o que se viu foi um início de tempo extra semelhante ao que se via no tempo normal até então, com o Japão buscando trazer maior intensidade com as substituições. Por isso, aos 98’, Dalić não hesitou em tirar dois dos pilares da equipe: Modrić e Kovačić, possíveis cobradores de pênaltis, saíram para que Majer (o “novo Modrić”) e Vlašić entrassem.
Com 105’, Mitoma puxou contra-ataque sozinho e, aproveitando-se do espaço deixado na entrada da área croata, bateu forte para a defesa de Livaković. Dali até o final do primeiro tempo da prorrogação, os Samurais Azuis fizeram mais algumas investidas, sem sucesso, enquanto os Ardentes buscaram tocar mais a bola, sempre tentando encontrar Perišić na área.
No intervalo, Tanaka, que fez o gol da virada contra a Espanha, entrou no lugar de Morita. A Croácia tirou Budimir, que entrou no segundo tempo e foi nulo, e o craque do jogo até então, Perišić, para as entradas de Livaja, e Oršić, jogador mais parecido com Perišić dentro do elenco croata. O cansaço se instaurou, as equipes aceitaram o resultado e o árbitro apitou o final da partida. Vamos para as penalidades!
Pênaltis
Nas cinco disputas de pênalti em Mundiais anteriores, a equipe que começou batendo foi eliminada. E não foi diferente no estádio Al Janoub, em Al-Wakrah. O Japão bateu com Minamino, Mitoma, Asano e Yoshida, o capitão. Apenas Asano converteu, pois os outros três pararam no gigante Dominik Livaković. Do lado da Croácia, Livaja acertou a trave, mas Vlašić, Brozović e Pašalić converteram suas cobranças. Final: Croácia 3 a 1 nas penalidades e classificação para enfrentar o Brasil!
Para o Japão, fica a lamentação por ter feito o impossível na fase de grupos e jogado, a partir do gol de Perišić, por uma bola, aceitando os pênaltis, mas mostrando-se despreparados para eles, seja por falta de treinamento, seja por questão psicológica. Não se deve, porém, descartar o potencial dessa geração e do trabalho de Moriyasu.
Para a Croácia, as quartas de final são um grande passo em um momento de entressafra no qual o trabalho de Zlatko Dalić tem que ser ainda mais enaltecido. E é claro que a campanha de 2018 traz tranquilidade tanto para a comissão técnica poder tomar decisões como as substituições da prorrogação, como para os próprios jogadores croatas baterem as penalidades com muito menos responsabilidade do que os japoneses, por exemplo.
Próximos passos
A Croácia se prepara agora para desafiar o Brasil, na sexta-feira (9), ao meio-dia, no estádio Cidade da Educação em Al Rayyan, sonhando com a segunda classificação para as semifinais consecutiva – algo que jamais aconteceu. O Time Xadrez junta-se, agora, à Holanda (que venceu os Estados Unidos por 3 a 1), à Argentina (que derrotou a Austrália por 2 a 1), à França (que fez 3 a 1 na Polônia), à Inglaterra (que venceu Senegal por 3 a 0) e ao Brasil (que goleou a Coreia do Sul por 4 a 1), para a disputa das quartas de final a partir de sexta-feira. Além de Holanda x Argentina, Inglaterra x França e Brasil x Croácia, haverá um quarto confronto, que será realizado entre os vencedores de Marrocos x Espanha e Portugal x Suíça, partidas de amanhã (6).
*A programação está no Horário de Brasília (UTC/GMT – 03:00)
Japão (3-4-3): Gonda; Tomiyasu, Yoshida, Taniguchi; Ito, Endo, Morita (Tanaka, 106’), Nagatomo (Mitoma, 64’); Doan (Minamino, 87’), Maeda (Asano, 64’) e Kamada (Sakai, 75’). [Arte: Ricardo Thomé]
Croácia (4-3-3): Livaković; Juranović, Lovren, Gvardiol, Barišić; Brozović, Kovačić (Vlašić, 99’), Modrić (Majer, 99’); Kramarić (Pašalić, 68’) , Petković (Budimir, 62’ (Livaja, 106’)) e Perišić (Oršić, 106’). [Arte: Ricardo Thomé]
Gols: Daizen Maeda (Maya Yoshida), 43’ – JAP / Ivan Perišić (Dejan Lovren), 55’ – CRO
Pênaltis (1 a 3):
JAP: Minamino (X), Mitoma (X), Asano (O) e Yoshida (X)
CRO: Vlašić (O), Brozović (O), Livaja (X), Pašalić (O)
Cartões amarelos: Mateo Kovačić (90’)