Por: Thaís Navarro (thaisnavarro@usp.br)
Imagine um mundo dominado por robôs. Uma hipótese um pouco clichê, não? Porém, imagine agora um mundo onde isso aconteça sem derramamento de sangue e em que os humanos acreditem – passivamente ou não – que essa é a melhor solução para a estabilidade da vida na Terra. O romance “Eu, Robô” (Editora Aleph, 2014) , escrito por Isaac Asimov em 1950, é um clássico da ficção científica norte americana que foi capaz de prever, há muito tempo (antes mesmo que aparecessem as mais avançadas parafernalhas tecnológicas do século XXI), o poder que as tecnologias e as máquinas podem ter sobre o ser humano, e como elas podem vir a definir os rumos da humanidade.
Estruturado em nove contos interligados entre si, o livro apresenta relatos de Susan Calvin, ex-psicóloga roboticista da maior indústria de robôs existentes no universo dessa ficção: a United States Robots. Além de apresentarem personagens em comum, como os funcionários Mike Donovan e Gregory Powell, os contos são gradativos, na medida em que cada um apresenta um problema a ser resolvido, aparentemente mais difícil do que os anteriores, e no sentido de que os robôs tornam-se cada vez mais espertos, evoluídos, sagazes e capazes de manipular as atitudes humanas.
Embora espertos, os robôs não são totalmente independentes e são suscetíveis a falhas – como no caso da crônica Andando em Círculos. De qualquer maneira, em sua programação e montagem, são inseridas três leis essenciais e incorruptíveis, responsáveis por reger suas falas e seus atos: as Três Leis da Robótica.
A Primeira Lei diz que “um robô não pode ferir um ser humano ou, por inanição, deixar que ele venha a ser ferido”.A Segunda Lei diz que “um robô deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira lei”.Por último, a Terceira Lei diz que “um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou com a Segunda Lei”.
A maioria dos contos envolve problemas cujas soluções devem ser pensadas com base nessas três leis. Os robôs podem se envolver em dilemas entre as leis – quando no caso em que obedecer uma ordem pode acabar ferindo um ser humano, como na crônica Mentiroso.
Entretanto, essas leis não impedem a gradual dominação das máquinas sobre o ser humano, pelo contrário – de maneiras muito inteligentes, elas manipulam as leis a seu favor a fim de convencer os humanos de que são portadores das soluções para todos seus problemas. Isso se torna ainda mais evidente nos contos que encerram o livro, Evidência e Conflito Evitável, nos quais a robótica se mistura com política e as máquinas atingem níveis cada vez mais altos de dominação mundial. Existem resistências, como o grupo “Sociedade pela Humanidade”, que contesta tamanha importância dada às máquinas e protesta contra elas, mas sua eficiência não é suficiente a ponto de barrar o avanço da robótica.
Através de uma linguagem simples,objetiva, que torna a leitura muito fluida e capaz de prender a atenção do leitor, “Eu, Robô” é um ótimo livro para aqueles que desejam começar a se aventurar no universo da ficção científica literária. Se mostrando bem atual, o livro alerta para os perigos e, até mesmo persuasivamente, para as vantagens de um mundo controlado por peças de metal com cérebros positrônicos. Parece que eles são capazes de tomarem as melhores decisões para os problemas humanos.