No meio de tantos filmes do Universo Cinematográfico Marvel, surge, inesperadamente, Homem-Aranha: No Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse, 2018), dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman. Mas já outro filme do Aranha? Como vai se encaixar no MCU? O que está acontecendo? Na verdade, o filme não tem nada a ver com os outros da Marvel e é uma animação.
Graças a uma entidade divina a sua escolha. Homem-Aranha: No Aranhaverso é melhor do que qualquer filme de super-herói feito nos últimos anos. A começar pelo trailer da produção, que foi cuidadosamente pensado. Somos apresentados a Miles Morales (Shameik Moore), que acaba de ser picado por uma aranha radioativa e logo se encontra com Peter Parker (Chris Pine), o Homem-Aranha original.
A introdução acaba por aí e logo pensamos que o filme será do tipo mentor-aluno, com Peter se preparando para passar a máscara para Miles. Só que não. Quando assistimos ao longa, ficamos chocados quando, alguns minutos depois do encontro entre os mocinhos, Peter simplesmente morre, derrotado pelo Rei do Crime (Liev Schreiber). Ahn? O trailer nos esconde esse plot twist inicial e nos deixa completamente confusos com o rumo que a história irá seguir.
A artimanha é curiosa e justificável. Homem-Aranha: No Aranhaverso é, na verdade, sobre universos paralelos que colidiram por causa de um acidente com um acelerador de partículas em Nova York. Por causa disso, vários Aranhas aparecem no universo de Miles, como um Peter Parker mais velho (Jake Johnson), Aranha-Gwen (Hailee Steinfeld), Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage), Porco-Aranha (John Mulaney) e Peni Parker (Kimiko Glenn). O trailer enganoso evita que alguns espectadores se assustem com a temática precocemente, além de causar uma surpresa agradável.
A história, portanto, surge muito mais complexa e interessante do que se esperava. Não é apenas Peter Parker quem ensinará Miles Morales os caminhos do Aranha, mas todo um conjunto de personagens únicos e originais (exceto que, em mais uma tirada singular do filme, nenhum deles ensina nada, já que não precisam dele). Dessa forma, Phil Lord e Rodney Rothman criam uma trama que se desenvolve e se apoia em situações comuns do gênero, mas que usa da simplicidade para criar um roteiro sem furos nunca antes visto.
Mas o maior trunfo do longa provavelmente é o seu aspecto de maior desconfiança por parte do público geral: o fato de ser uma animação. Em uma época na qual os maiores sucessos do cinema de super-heróis são live-action, pode-se estranhar uma animação do gênero estrear nas telonas. No entanto, essa característica deu muita liberdade aos criadores de Homem-Aranha: No Aranhaverso, junto com o fato de o filme ser desvinculado do MCU.
Primeiramente, não existe excesso de humor ou piadas fora de hora em uma animação. Nos filmes live-action da Marvel, por exemplo, é gritante o quão prejudicial esses fatores são, tirando toda a seriedade das produções e ficando batido. Isso não acontece em Homem-Aranha: No Aranhaverso pois o mundo das animações permite situações absurdas a qualquer momento: é o que o define. Quanto à seriedade, ela não se perde, pois a temática do filme é cuidadosamente desenvolvida em torno do humor.
A animação também permite certos artifícios impossíveis no live-action, como a mescla de elementos do cinema com elementos dos quadrinhos. Mas o que realmente dá o toque final na produção são as suas sátiras com o gênero de super-heróis e com o próprio universo Marvel. Várias são as brincadeiras ao longo do filme com temáticas batidas de super-heróis e quebras de expectativas com cenas famosas.
O longa não requer conhecimento prévio de seus espectadores para entender sua história – inclusive ensina muito sobre o universo do Aranha – e consegue fazer excelente humor com o pouco que todos conhecem sobre o herói.
Homem-Aranha: No Aranhaverso estreia dia 10 de janeiro no Brasil. Confira o trailer:
por Bruno Menezes
brunomenezesbaraviera@gmail.com