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‘Mais Que Amigos’: comédia romântica gay é engraçadinha, mas deixa a desejar

Novo filme da Universal acerta na representatividade, mas erra em todo o resto

Nesta quinta-feira, 6, chega aos cinemas brasileiros o mais novo lançamento da Universal. Tido como a primeira grande comédia romântica gay, o filme Mais Que Amigos (Bros, 2022) chamou a atenção e a curiosidade do público.

Sob direção de Nicholas Stoller (Vizinhos, 2014), Friends from College (2017))  que também assina o roteiro ao lado de Billy Eichner, Mais Que Amigos segue a trama de Bobby Lieber (Billy Eichner), um podcaster romanticamente frustrado que se encarrega de abrir o primeiro museu de história queer em Nova Iorque. Aos 40 anos e já conformado com o celibato, o protagonista vê sua vida romântica virar ao avesso quando encontra Aaron (Luke Macfarlane) em uma balada. Descrito pelo protagonista como “versão gay do Tom Brady”, Aaron tem fobia de relacionamentos sérios e leva uma vida bastante frustrada como advogado. Os personagens, ambos romanticamente indisponíveis e orgulhosos, vão lentamente se aproximando e rompendo suas barreiras emocionais.

Contrariando a expressão popular “Love is love” — ou “amor é amor” — o protagonista insiste em diferenciar relacionamentos gays de relacionamentos heterossexuais. Mais Que Amigos representa com profundidade a vida romântica e sexual de homens gays solteiros no século 21, fugindo da romantização idílica que tipicamente protagoniza os filmes LGBTQIA+.

O longa aborda de forma bastante natural temas tipicamente tidos como tabu. Sexo anal, poligamia, sexo a três, relacionamentos abertos; temas que permeiam a sexualidade e o mundo dos relacionamentos contemporâneos, mas que raramente chegam às grandes telas. Também aborda as dificuldades de se envolver emocionalmente em uma sociedade dominada por aplicativos de namoro repletos de homens sem camisa que só buscam sexo casual.

O elenco principal de Mais que amigos é inteiramente composto por atores queer. [Imagem: Reprodução/ Youtube/ Universal Pictures]

Mas, acima de tudo, o filme se debruça sobre as expectativas comportamentais que recaem sobre a figura do homem gay. De um lado, Aroon, que reluta em seguir seu sonho de confeccionar “chocolatinhos” por medo de recair no estereótipo gay; e do outro, Bobby, que vivenciou diversas situações frustrantes em sua carreira por ter um estilo mais afeminado; os personagens parecem sempre sujeitos às expectativas externas. Mais Que Amigos apresenta e problematiza essas tensões, mostrando que a sexualidade não deveria definir o comportamento de ninguém.

Até na representatividade o filme tem seus tropeços. O conselho do Museu LGBTQ, formado por pessoas de diferentes siglas do movimento, não conseguiu escapar dessa estereotipização. Com intuito humorístico, Mais Que Amigos  transformou esses representantes em figuras perfeitamente bidimensionais, atribuindo-lhes suas respectivas sexualidades como único traço de personalidade.

E isso aparece já no trailer. Após Bobby comentar que censurar a exposição significaria deixar os “terroristas heterossexuais ganharem”, a mulher trans responde, contrariada: “Ei, existem terroristas trans também. Caitlyn Jenner”. É evidente que o comentário sem nexo e desnecessário foi feito com o único intuito de provocar risos por meio de referências pop. O fato de existirem “terroristas heterossexuais” em nenhum momento pressupõe que não haja terroristas trans, e parece um jeito bobo e pouco realista de reivindicar representatividade. E esse não é um caso único: as situações desconexas estão presentes durante a uma hora e 55 minutos do filme.

As caricaturas, infelizmente, não param aí. À exceção dos principais, os personagens simplesmente não convencem —  e nem as cenas. A impressão que fica é que, em uma grande afobação para arrancar risadas do público, Eichner e Stoller esqueceram o principal: a narrativa. Mais Que Amigos parece se preocupar mais em jogar piadas à torto e à direita, do que construir um mínimo contexto humorístico. A própria presença do conselho do museu é inútil. Em geral, ele aparece somente como desculpa para jogar piadas e provocações entre as diferentes siglas LGBTQIA +, sem muito impacto relevante na história.

Caricaturas à parte, o humor do filme é bastante específico. Carregado de referências, talvez demais, as risadas parecem restritas àqueles com amplo conhecimento do mundo pop atual, e também das últimas décadas. Referências a Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name, 2017), Brokeback Mountain (2005), Cher, Doja Cat, Schitt ‘s Creek (2015) e The Office (2005), misturam elementos da geração millenial e da geração Z. E essa mistura de referências parece suficiente para deixar todos os espectadores por fora, de um jeito ou de outro. Há quem diga que as referências são voltadas para um público LGBTQIA+, mas é difícil conceber que todos os membros da comunidade reconhecerão referências tão específicas. Além disso, muitas referências parecem pertencer a um imaginário exclusivamente americano, como o cantor de country Garth Brooks e o ator Ice Cube, que não são amplamente conhecidos no Brasil. Em termos gerais, o filme parece uma grande piada interna da qual você não faz parte.

Mais Que Amigos ensina uma valiosa lição: não basta ser gay, o filme ainda precisa ser bom. E é importante que se reivindique filmes LGBTQIA+ de qualidade. Apesar do humor um tanto grosseiro, continua sendo muito bonito ver filmes queer finalmente atingindo as bilheterias de Hollywood; e Mais Que Amigos pode ser uma bela oportunidade para que se produzam outros filmes do gênero.

O filme estreou hoje no cinemas. Confira o trailer legendado:

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