Por Thaís Matos Pinheiro
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Não sei vocês, mas eu só descobri que a Dona Redonda (personagem de Saramandaia) era a Vera Holtz quando me contaram. Custei pra acreditar. É mesmo incrível o trabalho feito para torná-la muitas vezes maior do que realmente é. Justamente por isso, ele não é um processo fácil. Não raras vezes, um ator precisa engordar muito ou emagrecer muito (ou pelo menos parecer gordo ou magro) para dar vida a um personagem no cinema. E quando isso não pode ser feito concretamente (como o Jared Leto que engordou 30 kg para viver o assassino de John Lennon em Capítulo 27), utiliza-se a maquiagem.
Segundo o designer de efeitos especiais Cláudio Yukata, existem diversas técnicas possíveis para se obter esse efeito, desde as sutis até as mais drásticas. Pode-se usar pequenas camadas de látex líquido para aumentar algumas partes do corpo ou mesmo o Dragon Skin, um tipo de silicone usado para cobrir áreas maiores.
É importante dizer que uma técnica não anula a outra. “Quando é preciso aumentar muito o volume do personagem, como no caso da atriz Gwyneth Paltrow, no filme O Amor é Cego (Shallow Hal, 2001) ou de Eddie Murphy em O Professor Aloprado (The Nutty Professor, 1996), utiliza-se técnicas mistas”, explica Yukata. O corpo é feito com espuma de poliuretano, mais leve e confortável. Essa espuma, então, é revestida com um tecido maleável, conhecido como Spandex. “O rosto pode também pode ser feito de espuma, colado ao personagem com verniz para postiço ou outra cola específica. Pode-se colocar camadas de látex também, dependendo do nível de detalhe”, conta.
Toda essa produção demanda horas de trabalho, devido a quantidade de elementos para se colar e corrigir. Além da aplicação demorada, são necessários retoques com certa frequência e exige igual trabalho para se tirar também. Em O Amor é Cego, Gwyneth levava cerca de quatro horas fazendo a maquiagem. Todo esse excesso pode esquentar muito e provocar mal estar. “Tem atores que desmaiam no set”, revela o Yukata.
Será que não existe algo que facilite a vida dos atores? A tecnologia possibilita efeitos fantásticos como as maquiagens 3D digitais em O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 2009) e Piratas do Caribe – O Baú da Morte (Pirates of the Caribbean: Dead Man’s Chest, 2006), por exemplo. De acordo com o designer de efeitos especiais, “com o nível de tecnologia que temos hoje, isso seria perfeitamente possível”, No entanto, uma ressalva: “acredito que para haver um nível de perfeição satisfatório o custo da criação de um modelo virtual ainda é bastante alto”.
Para utilizar maquiagem, seja física ou virtual, é preciso conhecer a fundo as possibilidades e limites da técnica. Mas nem tudo são espinhos. Cláudio Yukata revela que existem alguns truques para a criação desses personagens. Ele conta que em algumas cenas, pode-se usar um dublê de corpo realmente obeso ou magro para mostrar detalhes da pele, por exemplo. Alguns profissionais utilizam também corpos de silicone para simular a pele humana.
É importante lembrar que a maquiagem não se vale sozinha. Uma das coisas primordiais nesse trabalho é o cuidado para que os efeitos pareçam reais. Além da maquiagem, é preciso investir em uma boa decupagem e estruturação narrativa dos planos. “Vale lembrar que Spielberg fez um ótimo filme (“Tubarão”) com uma carcaça de tubarão de fibra de vidro bastante inverossímil. Ele controlou a exposição do efeito na edição e trabalhou o clima das cenas com bons planos e trilha sonora”, conclui.